Sobre Francisco Cândido Xavier, ocorre uma coisa surreal no Brasil. Quanto aos aspectos positivos de sua pessoa, mesmo aqueles que, em verdade, são falsos, mas garantem uma narrativa agradável, todo mundo fala, o nome dele salta nas redes sociais, até quem não devia falar bem dele acaba fazendo isso. Mas quando se tratam de aspectos negativos, fora uns protestos eventuais de uns fanáticos furiosos, o que reina é o silêncio.
Um silêncio omisso, uma dúvida transformada em zona de conforto, como se toda dúvida pudesse repousar no imaginário coletivo na condição de um "mistério da fé", facilmente resolúvel, mas cujos resultados podem pôr em xeque fantasias que fazem muita gente dormir tranquila.
E se trata de um silêncio criminoso, por uma simples razão. Tudo tem que ser investigado, questionado, para ver se vale a pena ou não. Passagens de pano não valem, mas, para Chico Xavier, é o que mais faz em relação a ele. Nunca se passou tanto pano em favor de uma pessoa, fazendo vista grossa para seus piores erros, se limitando apenas a dizer, em confortável resignação, que Chico Xavier "era imperfeito e errou muito" e ele "nunca foi salvador da pátria" para os brasileiros.
Ronaldo Terra, em tese acadêmica, passou pano no apoio de Chico Xavier à ditadura militar, e na sua monografia cometeu uma gafe, apostando numa tese bastante risível: que o "médium" defendeu os generais "em razão da santidade" dele, uma tese que, convenhamos, não tem pé nem cabeça e nos faz questionar sobre se os critérios de imparcialidade e neutralidade nas teses de pós-graduação não são mais que meros fogos de palha que animam as bancas acadêmicas, mas condenam as monografias festejadas a "morrerem" nas estantes, comidas por traças, formigas, fungos e baratas.
Ana Lorym Soares passou pano quanto às fraudes literárias das quais Chico Xavier não só foi alvo, como ele também apoiava e até colaborava com as mesmas. Como se não bastasse as autorias "espirituais" serem fake, as modificações editoriais, além de revelarem um processo fraudulento, era um meio da Federação "Espírita" Brasileira impor sua "superioridade institucional", dando a crer que os "espíritos escrevem mal".
Soares também acreditou numa tese sem pé nem cabeça: de que as modificações editoriais fariam as "psicografias" serem "mais acessíveis" para o público. O que não faz sentido algum. Além disso, a historiadora não percebeu que as modificações editoriais incluíram frivolidades como acrescentar ou subtrair poemas por motivos fúteis, e Chico Xavier pediu para a FEB alterar versos inócuos, de "Sorrindo... Sorrindo..." para "Sorrindo... Cantando...". Isso sim é que é bobagem da grossa!!!!
MEDO DE QUESTIONAR CHICO XAVIER
Ninguém questiona Chico Xavier. Nem o jornalista investigativo que costuma coçar a cabeça de tantos problemas a serem reportados em outros assuntos que não o "médium". Nem o acadêmico que poderia analisar uma problemática criticamente. Nem os juristas a verificarem procedimentos ilegais, como a falsidade ideológica do uso dos nomes dos mortos.
Nem mesmo os semiólogos esforçados que desmontam arsenais inteiros de bombas semiológicas e não conseguem iniciar um único questionamento sobre a guerra híbrida criptografada da pessoa de Chico Xavier, ele mesmo uma anestesia humana no sentido de deixar que as pessoas mantenham a doença da desgraça, da pobreza e do infortúnio, sem que tenham consciência da própria dor que sentem.
Será que os semiólogos esforçados, como outros agentes investigadores (jornalistas, acadêmicos, juristas etc), possuem mãezinhas velhas e doentes cujas únicas alegrias são os 400 e tantos livros mistificadores de Chico Xavier, que parecem mais "contos de fadas para adultos"? Ou que Espiral do Silêncio motiva todos eles a se sentirem prisioneiros de uma imagem idealizada e fantasiosa do "bondoso médium"?
Lembremos que, quando se pede para questionar, contestar e, se possível, combater o mito de Chico Xavier, não se está seguindo conselhos de pastores neopentecostais tresloucados e desesperados com o "trabalho do bem" alheio, mas estamos seguindo rigorosamente a Doutrina Espírita.
Sim, isso mesmo. Os livros de Allan Kardec são verdadeiros puxões de orelha de fazer sangrar os ouvidos do "médium". Há vários aspectos relatados em O Livro dos Médiuns que reprovam váriatitudes que Chico Xavier depois tomou: uso de nomes ilustres para promover mistificação, prever datas precisas de fatos futuros, usar linguagem rebuscada, o autoritarismo de mentores espirituais. Esses vários aspectos a literatura espírita original define como próprias de espíritos inferiores.
Do mesmo modo, os ensinamentos espíritas originais também recomendaram, com décadas de antecedência: "o que a Lógica e o Bom Senso reprovam, REJEITAI CORAJOSAMENTE" (o grifo é nosso). Muitas coisas da trajetória e da obra de Chico Xavier estão em profundo desacordo com a lógica e o bom senso e o pessoal fica passando pano em tudo isso, preferindo o leito confortável da dúvida preguiçosa, aquela dúvida que mais parece omissão, uma dúvida que repousa no princípio do "não querer saber", em vez da dúvida que se esforça para poder saber.
A situação é tão preocupante que reina o silêncio. Se Chico Xavier cometeu fraudes literárias e era um reacionário incurável, as pessoas se silenciam. Não se trata só do silêncio do Brooklyn, mas silêncio de Savassi, Jurerê Internacional, Morumbi, Capão Redondo, Ipanema, Copacabana, Madureira, Barra da Tijuca, Icaraí, Charitas, Piratininga, Pelourinho, Curuzu, Arembepe, e por aí vai. Silêncio omisso, que é criminoso porque é um silêncio que soa como crime de obstrução de Justiça.
Como assim, "obstrução de Justiça"? É porque, para proteger um religioso suspeito de fraudes - que tem fortes indícios e, em vários casos, até provas - , se cala quando se deve falar, se omite quando se deve investigar, se consente quando se deve questionar. É uma sonegação que faz com que quem devesse ser responsável para alguma investigação é o primeiro a impedir o processo, através da omissão preguiçosa e perigosa. Para o mundo, a realidade, para Chico Xavier, as fantasias.
Mas se aspectos positivos, embora risíveis, como supor que Chico Xavier previu a extinção dos dinossauros, são noticiados na Internet, aí o pessoal volta a falar, diz coisas maravilhosas, elogia o "médium", embora haja a divergência dos que consideram ele o "Super-Homem brasileiro" e outros que o concebam mais no padrão "gente como a gente". Até jornalistas investigativos embarcam em lorotas de supostos diálogos de Chico Xavier com aqueles que foram a suas palestras, como arremedos grosseiros e conservadores dos diálogos milenares chineses entre mestres e discípulos.
EMOTIVIDADE TÓXICA
Isso significa que o mito de Chico Xavier repousa sobre uma reputação marcada pela emotividade tóxica, que é aquela que, quando tudo está bem, traz alegria e serenidade, mas, na menor contrariedade, traz energias maléficas e faz os "iluminados de ocasião" se explodirem em fúrias descontroladas.
Há muita omissão, ninguém questiona, pelo medo do debate, da queda de mitos, do fim daquela atmosfera agradável que um homem feio mas associado a uma fascinação obsessiva. O motivo disso tudo é MEDO. Um medo que, para piorar completamente as coisas, atinge até esquerdistas e ateus.
Adoraríamos ler, em páginas da mídia progressista, portais ateus e até de blogues semióticos esforçados, textos questionando o mito do "bondoso" Chico Xavier. Adoraríamos ouvir gente dizendo "eu fui enganado por Chico Xavier", coisa muito fácil de pronunciar e entender, mas que soa russo para muita gente.
Infelizmente, isso não acontece. Em vez disso, mesmo essas páginas mais empenhadas em outros questionamentos ficam passando pano no mito de Chico Xavier e, não obstante, até apoiando ele da maneira mais subserviente possível. Ateus exaltando Chico Xavier é o fim da picada! É como galinha correndo para os braços da raposa.
Temos, contra Chico Xavier, uma série de elementos dos mais diversos, inclusive a morte suspeita do sobrinho Amauri. Ninguém investiga. Há quem acredite que Amauri Xavier Pena morreu de "causas naturais". A obsessão por Chico Xavier é a mais doentia de todas as obsessões espirituais conhecidas na face da Terra e em todos os momentos, e o silêncio é a reação confortável daqueles que não querem abrir mão do mundo de sonho e fantasia trazido por um velho de estética repugnante mas de apelos simbólicos agradáveis.
É de se lamentar que, em outros tempos, como em 1944, 1958 ou mesmo 1971, se podia questionar Chico Xavier sem medo. Não foram raros os esforços para pôr em xeque o mito do "bondoso médium", mas hoje a obsessão por ele atinge níveis preocupantes. Ela chega aos níveis de doenças psicológicas, não bastasse a suspeita de que Chico Xavier sofria de esquizofrenia.
Só que mais esquizofrênicos são os seus seguidores e simpatizantes, incapazes de abrir mão de suas fantasias em relação ao "médium". Quando não têm como justificar tais fantasias, se calam e evitam falar do assunto. Mas as fantasias estão dentro de sua mente, a serem liberadas em ocasião menos incômoda. Isso é uma das piores obsessões espirituais que se tem, ainda mais envolvendo justamente aquele que, sob o pretexto de divulgar a Doutrina Espírita, a deturpou e arruinou sem um pingo de escrúpulos.
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