VAMOS PARAR DE OPOR O "MÉDIUM" AO "CAPITÃO", TALQUEI?
Desculpem, mas se há alguma certeza hoje em dia é que o Espiritismo nunca será bolsonarista lá na França. Essa condição só tem validade no Espiritismo em francês, no original, porque, se depender do "espiritismo" de Francisco Cândido Xavier, ele será bolsonarista, sim, e dos mais ferrenhos.
Vamos dar um basta a esse telecatch entre Chico Xavier e Jair Bolsonaro, porque ambos tiveram a mesma ascensão arrivista e suas ideias ultraconservadoras são praticamente as mesmas. Chico Xavier, em tese, não defende o ódio, mas seus seguidores são tão rancorosos que chegaram a fazer ameaças de morte ao sobrinho Amauri Xavier, que desmascarou o tio. O rapaz teve morte suspeita, morrendo jovem demais até para os padrões médios de quem só era viciado em álcool.
E o rearmamento da população? Sim, Chico Xavier era contra, sempre foi, mas em contrapartida passava pano nos algozes, nos homicidas, nos abusadores de toda espécie, pedindo a estes o perdão mais do que complacente, um "perdão sem perdas", que em vez de trazer arrependimento aos algozes, lhes devolvia, praticamente, quase todos os privilégios, se não rigorosamente todos.
Os "espíritas" saltam da cadeira e pulam, com o mesmo modus operandi de bolsomínions contrariados, dizendo que a missão de Chico Xavier "não era destrutiva" mas "construtora de um mundo melhor". Mas é justamente isso que Jair Bolsonaro promete: "construir um mundo melhor depois da destruição e da eliminação dos comunistas".
E as questões de "resgates espirituais", "reajustes morais" e "resgates coletivos"? Quando lhe convém, Chico Xavier também justifica holocaustos e carnificinas, criminalizando as vítimas - como fazem, por exemplo, feminicidas e jagunços, cumpridores de uma agenda necropolítica que sempre matou, em série, mulheres, negros e índios, para "regular" a população brasileira - , como na acusação grave às vítimas (gente humilde!) do incêndio em um circo de Niterói.
Ou seja, se o "espiritismo" de Chico Xavier "não matava" - apesar da maldição que ronda vários de seus admiradores, que viam seus melhores filhos morrerem de repente de forma prematura - , ele "deixava matar". Pouco importa essa diferença que separa Chico Xavier de Adolf Hitler e Jim Jones. A essência é a mesma, só faltando ao tirano nazista uma concepção de um "paraíso póstumo" como Nosso Lar. No caso de Jim Jones, ele já tinha concebido um esboço de algo parecido com o "paraíso espiritual" de Chico Xavier.
ESQUERDAS EM SILÊNCIO SEPULCRAL
As esquerdas brasileiras encaram, agora, o caso de Chico Xavier com um silêncio sepulcral. O problema é que não basta evitar a publicação, nas páginas progressistas, de "lindas mensagens" do "bondoso médium" e evitar mencionar seu nome nos sítios de esquerda na Internet ou mesmo na mídia impressa. Ficar em silêncio parece um aquietamento, mas ele não passa de um grito, sobretudo para aqueles que seguem o conceito xavieriano de que o "silêncio é a voz que Deus consegue ouvir".
Esse comportamento, comparável ao de um nerd que não consegue admitir que aquela animadora de torcida, por quem está apaixonado, o odeia, permanece inalterável, reinando o silêncio absoluto até quando surgem escândalos gravíssimos que, num país menos ignorante, teriam derrubado Chico Xavier.
O primeiro deles é o "fogo amigo" de Ana Lorym Soares, que em sua monografia O Livro Como Missão..., narrou detalhes de como os dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira mexiam nas "psicografias" de Chico Xavier, fazendo alterações até em livros que já foram publicados. E quem imagina que Chico Xavier foi vítima dos chefões da FEB, se engana totalmente: o "médium" demonstrava sua cumplicidade, agradecendo os dirigentes e se oferecendo até a colaborar, sempre quando estava disponível.
Alguém imaginaria outra coisa senão que as "psicografias" eram uma fraude? E que os pastiches literários vieram de consultores da FEB, como Manuel Quintão e Luís da Costa Porto Carreiro Neto, que com ajuda de colaboradores "recheavam" as escritas da imaginação pessoal de Chico Xavier (mas atribuídas, oficialmente, aos "autores espirituais") com estilos literários diversos?
Para quem não entende isso, vamos fazer uma comparação. Um cantor medíocre e canastrão se limita a compor rascunhos de letras com uma vaga musicalidade. É Chico Xavier montando as "psicografias". Aí o cantor e compositor canastrão entrega essa música para um produtor e um músico arranjador. O "produtor" é Antônio Wantuil de Freitas. O "arranjador" é Manuel Quintão ou Porto Carreiro ou então outro com similar função.
Dessa forma, o arranjador reelabora a composição, praticamente a recompondo, dando-lhe melodias e arranjos e consertando as falhas nas letras. O arranjador então pergunta se o cantor gostou do trabalho feito e se este gostaria de dar alguma sugestão. São os consultores literários perguntando a Chico Xavier se ele gostou das modificações e gostaria de contribuir com alguma coisa.
Isso é gravíssimo! Não bastasse o caráter fake das obras, nas quais é tão fácil identificar fraudes na disparidade estilística que fez autores como Humberto de Campos, Auta de Souza e Olavo Bilac estarem associados a mensagens que em nada lembram seus estilos originais, problema que só o covarde Alexandre Caroli Rocha joga para debaixo do tapete, essas "psicografias" eram reparadas até depois que a primeira ou mesmo edições posteriores eram lançadas.
Ninguém pergunta: por que a mensagem que, em tese, se atribui a "espíritos benfeitores", precisa ser reparada pelos homens da Terra? O erro de Ana Lorym é aceitar o ponto de vista da FEB, porque ela, sem querer, estava trabalhando com uma bomba nas mãos e ela não percebeu, iludida com sua simpatia "isenta" em relação a Chico Xavier.
Mas ela também sofreu a influência do dogma dos cursos de pós-graduação nos quais a expressão do senso crítico é desencorajada, sendo vista como "meramente opinativo". No Brasil, nomes do nível de um Umberto Eco e Pierre Bourdieu nunca passariam de um pálido e suado Bacharelado universitário.
O segundo caso se trata do apoio de Chico Xavier à ditadura militar. Na época, o apoio do "médium" à ditadura militar deixava os militares boquiabertos. A memória curta nossa permite a vista grossa, mas se fosse hoje, até o "espiritismo de direita" de Divaldo Franco, João de Deus, Robson Pinheiro e Carlos Vereza pareceria fichinha, diante do direitismo mais do que radical do "bondoso médium" de Minas Gerais.
Duas coisas deveriam dificultar as relativizações em torno do direitismo de Chico Xavier, tratado como "coisa pequena" por pessoas atoladas nessa areia movediça chamada "memória curta". Uma é que Chico Xavier não teria expresso seu reacionarismo para um grande público, se não defendesse esses pontos de vista, mantidos até a morte.
E a Escola Superior de Guerra, que naquele tempo operava com muito radicalismo no combate aos opositores da ditadura militar, não perderia tempo nem dinheiro para homenagear quem não fosse compartilhar com esses propósitos, atuando como legítimo colaborador. Com a sua austeridade ferrenha no zelo da ditadura militar, não seria Chico Xavier que faria os oficiais da ESG terem momentos de "humanismo" ou se aproveitassem de um "ídolo religioso" para levar vantagem, até porque não havia preocupação da instituição em promover uma imagem positiva na sociedade.
Afinal a ESG atuava na repressão. Seus oficiais não pensavam em serem vistos como gente querida. Eles sabiam que eram odiados, repudiados ou, ao menos, desprezados. Não faz sentido usar um "santo homem" para melhorar a imagem pública. Naquela época, uma instituição militar estava preocupada apenas em zelar pelo regime ditatorial, fosse a projeção que tinha na sociedade. Quando muito, os militares já tinham a grande mídia para promover a boa imagem das Forças Armadas.
Chico Xavier colaborou, sim, com a ditadura militar. Com um apetite que hoje equivale ao bolsonarismo. O "médium" foi uma espécie de Olavo de Carvalho do seu tempo, guardadas as devidas diferenças de aspectos, mas a essência, descontados os contextos entre outrora e hoje, foi a mesma. Chico Xavier foi um místico, pretenso profeta, pretenso psicógrafo e pretenso filantropo a exercer nos brasileiros a mesma influência que Olavo exerce hoje.
SUBJUGAÇÃO
A subjugação, tipo de obsessão considerado um dos mais graves, tomou conta daqueles que poderiam investigar as irregularidades diversas em torno de Chico Xavier, seus aspectos bastante negativos. Mas é só verem o nome do "médium" para que se congelem as mentes de jornalistas investigativos, juristas e acadêmicos em geral, que logo evitam fazer qualquer coisa que ponha em xeque o mito do "bondoso médium".
Isso é subjugação, das mais pesadas. Das piores, porque toda pessoa que apresente algum aspecto muito estranho precisa ser investigada. É só aparecer o nome de Chico Xavier que ninguém faz coisa alguma ou, quando faz, são arremedos grosseiros e covardes de "investigação", sem um questionamento mais corajoso, ainda que ferino, e que só resultam em manter tudo como está.
Nem a BBC Brasil se encoraja. Sem a parte boa da Folha de São Paulo. Nem a mídia de esquerda, calada quando o assunto é Chico Xavier, nesse silêncio que mais parece um recado esnobe do tipo "Vocês pensam como quiserem". As esquerdas estão vendo uma figura de direita que sempre foi Chico Xavier, que tinha horror doentio a Lula, não suportava ver o PT governando o Brasil, e no entanto tem esquerdista dizendo que o "médium" era alma-gêmea de Lula e que "Nosso Lar" era uma comunidade socialista. Quanto terraplanismo!
Aí vem o telecatch entre Chico Xavier e Jair Bolsonaro, simbolizando uma falsa oposição dos dois, um supostamente simbolizando o "amor", o outro o "ódio", quando o "médium" chegou a ofender os amigos de outro Jair, o Jair Presente, chamando sua desconfiança natural de "bobagem da grossa", e o "capitão" muito acolhedor com as pessoas nas suas saídas na rua. O odioso Chico Xavier e o amoroso Jair Bolsonaro. E o pessoal ainda querendo blindar o "médium", caras pálidas?
Comentários
Postar um comentário