É muito preocupante a situação de subjugação obsessiva em torno de Francisco Cândido Xavier, que praticamente congela as ações de jornalistas investigativos, juristas em atividade de inquérito e acadêmicos em tese comprometidos com o senso crítico. Quando aparece o nome de Chico Xavier, eles se paralisam e as reações variam entre a recusa e a relativização.
Daí que vemos exemplos constrangedores em teses acadêmicas. Ronaldo Terra, mesmo sabendo que Chico Xavier foi condecorado por uma instituição, a Escola Superior de Guerra ("guerra", prestem atenção!), justamente o "cérebro" da ditadura militar e num momento de radicalismo repressivo, desmentiu sua colaboração com o regime ditatorial, com base numa tese que sabemos não é mais do que um papo furado.
Juntando análises de Bernardo Lewgoy sobre a religiosidade de Chico Xavier e a de Sandra Stoll sobre a influência católica, Ronaldo Terra criou uma tese delirante: Chico Xavier apoiou a ditadura militar porque o "médium" era "santo", dentro da falácia de que alguém considerado "humanista" iria dar igual consideração para oprimidos e opressores, sendo um "pacifista" a aceitar homenagens de uma instituição com "guerra" no nome.
Essa tese não tem pé nem cabeça e Chico Xavier mostrou que nunca foi humanista, porque o verdadeiro humanista não dá consideração aos opressores, mesmo que seja para garantir a própria sobrevivência.
Não é preciso explicar muito. Basta lembrar do próprio Jesus de Nazaré. Ele foi um ferrenho crítico dos opressores, era enérgico com os usurpadores da fé religiosa, e não compactuou com o poder do Império Romano. Ele foi crucificado e não teve medo de tal destino. Sabendo que suas ideias causariam polêmica, e causaram, ele admitiu: "Eu vim trazer a espada".
É muito diferente de um Chico Xavier querendo salvar a própria pele, mesmo que seja para mandar aquelas mensagens horríveis de aceitação do pior sofrimento. Aliás, ele era o "AI-5 do bem". Suas ideias, calcadas na Teologia do Sofrimento, sempre diziam para o sofredor aguentar calado a pior desgraça, sem queixumes, ficando quieto e obediente até Deus decidir, e olhe lá, por alguma bênção.
E, para piorar: "bênçãos futuras", para Chico Xavier, era mais sofrimento. É só ler seus livros, suas ideias, e se surpreenderá com tamanho sadismo, dissolvido pelo açúcar das palavras. Ou seja, o sujeito sofre calado, aguenta tudo sufocando sua revolta, seu medo, sua depressão, até saber que a tal "bênção futura" será uma vida de mais sofrimentos e perdas irreparáveis. E ele ainda é convidado pelo "bondoso médium" a sorrir para a vida, ter esperança e agradecer a Deus pela desgraça obtida.
QUANDO NEM OS FATOS ENCORAJAM PESSOAS A INVESTIGAR CHICO XAVIER
Quando páginas da Internet veiculam duras críticas e questionamentos rigorosos contra Chico Xavier, estamos seguindo o método kardeciano de questionamento enérgico. Seguimos Erasto, com suas recomendações de rejeitar sem dó aquilo que contrariar a Lógica e o Bom Senso. O dom de raciocínio está aí para verificar o que está errado e não é um ídolo religioso que será poupado quando até a trajetória dele apresenta uma porção de incidentes que vão contra a realidade dos fatos.
Já tivemos um jornalista investigativo corajoso, e, evidentemente, não foi Saulo Gomes, que deixou a investigação de lado para virar propagandista de Chico Xavier. Ele nem era dos mais instigantes jornalistas investigativos, apenas um eficiente e competente profissional. Diante do que fizeram, por exemplo, Carl Bernstein e Bob Woodward sobre os bastidores da campanha de Richard Nixon, Saulo Gomes parecia um estagiário de Jornalismo.
O jornalista investigativo de que falamos foi Attila Paes Barreto, que lançou o seminal livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, que deveria ter sido o ponto de partida para iniciativas semelhantes. Contra Chico Xavier, temos até mesmo a suspeita de que o sobrinho Amauri Xavier teria sido morto por "queima de arquivo". Depois que decidiu denunciar Chico Xavier, Amauri recebeu ameaças de morte do "meio espírita", fato noticiado por Manchete e que desmente que os chiquistas fossem "incapazes de odiar até o pior inimigo", como tanto dizem por aí.
O mais grave é que existem até "fogos amigos" de quem tentou não questionar Chico Xavier mas lançou informações comprometedoras, sem querer. Nedyr Mendes da Costa, fotógrafo de um evento com a farsante Otília Diogo, mostrou Chico Xavier se comportando como se estivesse por dentro das fraudes da farsante. Suely Caldas Schubert, divulgando cartas de Chico Xavier, vazou, por acidente, que as "psicografias" eram fraudulentas e sofriam revisão de dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira, tese que foi detalhada pela historiadora Ana Lorym Soares.
São fatos, e não podemos investir em teorias absurdas como crer que Humberto de Campos, Olavo Bilac, Auta de Souza e outros "perderam seus estilos" no mundo espiritual. Ou que a Escola Superior de Guerra deu uma pausa na sua jornada repressiva para condecorar um "santo homem". São teorias que fazem qualquer um dormir tranquilo, mas que não possuem sustentação lógica.
Mas quem poderia investigar isso e levar adiante a análise de tais constatações é impedido pela sua própria paixão religiosa a exercê-lo. E é surreal se congelar diante de um caipira feioso de olhos esbugalhados, mas que parece exercer fascinação perigosa para milhares de pessoas, mesmo aquelas que se julgam com algum nível de esclarecimento. A atriz Allison Mack e a ex-atleta do vôlei Ana Paula Henkel tiveram mais facilidade de decepcionarem profundamente os fãs.
Se a pessoa se sente fascinada por Chico Xavier, melhor procurar um psiquiatra. Não adianta se esconder dizendo que "não é fanático", "não está idolatrando o médium" e alegar que "só admira, moderadamente, um homem imperfeito mas bom", porque o fanatismo e a idolatria aparecem enrustidos de uma forma ou de outra, senão não demonstraria incômodo por este ou aquele motivo diante do questionamento da trajetória do seu ídolo.
SUBJUGAÇÃO OBSESSIVA
Vejamos o Capítulo 23 de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, um volume que fornece subsídios para REPROVARMOS a trajetória de Chico Xavier, que foi repleta de aspectos, dos mais diversos, que contrariam frontalmente a Codificação.
Neste capítulo, fala-se dos tipos de obsessão, dos quais dois, bastante perigosos, que são a "fascinação" e a "subjugação". Geralmente, os adeptos comuns de Chico Xavier, que são cidadãos comuns que acolhem sua obra e vislumbram sua trajetória, são tomados de fascinação. A subjugação ocorre quando se tratam de especialistas que poderiam pôr em xeque as supostas façanhas do "médium" e se sentem desestimulados a realizar a tarefa.
O livro menciona as relações de médium com espíritos desencarnados, no caso possivelmente obsessores, mas pode também ser aplicado quando um suposto médium torna-se obsessão por parte de seus seguidores, tomados de perigosa beatitude.
Vejamos o que diz o livro sobre a fascinação, no item 239, com grifos nossos:
239. A fascinação tem conseqüências muito mais graves. Trata-se de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium e que paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium fascinado não se considera enganado. O Espírito consegue inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-o de ver a mistificação e de compreender o absurdo do que escreve, mesmo quando este salta aos olhos de todos. A ilusão pode chegar a ponto de levá-lo a considerar sublime a linguagem mais ridícula. Enganam-se os que pensam que esse tipo de obsessão só pode atingir as pessoas simples, ignorantes e desprovidas de senso. Os homens mais atilados, mais instruídos e inteligentes noutro sentido, não estão mais livres dessa ilusão, o que prova tratar-se de uma aberração produzida por uma causa estranha, cuja influência os subjuga.
Dissemos que as conseqüências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças a essa ilusão que lhe é conseqüente o Espírito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas como sendo as únicas expressões da verdade. Além disso, pode arrastá-lo a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo bastante perigosas.
Compreende-se facilmente toda a diferença entre obsessão simples e a fascinação. Compreende-se também que os Espíritos provocadores de ambas devem ser diferentes quanto ao caráter. Na primeira, o Espírito que se apega ao médium é apenas um importuno pela sua insistência, do qual ele procura livrar-se. Na segunda, é muito diferente, pois para chegar a tais fins o Espírito deve ser esperto, ardiloso e profundamente hipócrita. Porque ele só pode enganar e se impor usando máscara e uma falsa aparência de virtude.
As grandes palavras como caridade, humildade e amor a Deus servem-lhe de carta de fiança. Mas através de tudo isso deixa passar os sinais de sua inferioridade, que só o fascinado não percebe; e por isso mesmo ele teme, mais do que tudo, as pessoas que vêem as coisas com clareza. Sua tática é quase sempre a de inspirar ao seu intérprete afastamento de quem quer que possa abrir-lhe os olhos. Evitando, por esse meio, qualquer contradição, está certo de ter sempre razão.
Nota-se que os chiquistas se afastam de qualquer tentativa de esclarecimento. Textos contra Chico Xavier estão entre os menos lidos na Internet ou, se tornam bastante lidos, boa parte dos seus leitores se sente horrorizada, porque, para eles, é preferível uma fantasia agradável, porém surreal, em torno do "médium", do que textos reveladores e realistas trazidos à Luz da Razão.
É também notável que, quando se fala aberrações positivas como, por exemplo, o espírito de Chico Xavier voar como um Super-Homem para socorrer criancinhas pobres que, brincando, caíram de um penhasco e se apoiam em galhos para não caírem. Neste caso, o chiquista mais "responsável" fará uma desaprovação, mas sempre sorrindo e dizendo, em tom de um pai bondoso, "não é bem assim", embora achasse, no fundo, agradável tal fantasia.
Vamos à subjugação, que está descrita no item 240, com os grifos nossos:
240. A subjugação é um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. Esta se encontra, numa palavra, sob um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corpórea. No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões freqüentemente absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, considera sensatas: é uma espécie de fascinação. No segundo caso, o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários. No médium escrevente produz uma necessidade incessante de escrever, mesmo nos momentos mais inoportunos. Vimos subjugados que, na falta de caneta ou lápis, fingiam escrever com o dedo, onde quer que se encontre, mesmo nas ruas, escrevendo em portas e paredes.
A subjugação corpórea vai às vezes mais longe, podendo levar a vítima aos atos mais ridículos. Conhecemos um homem que, não sendo jovem nem belo, dominado por uma obsessão dessa natureza, foi constrangido por uma força irresistível a cair de joelhos diante de uma jovem que não lhe interessava e pedi-la em casamento. De outras vezes sentia nas costas e nas curvas das pernas uma forte pressão que obrigava, apesar de sua resistência, a ajoelhar-se e beijar a terra nos lugares públicos, diante da multidão. Para os seus conhecidos passava por louco, mas estamos convencidos de que absolutamente não o era, pois tinha plena consciência do ridículo que praticava contra a própria vontade e sofria com isso horrivelmente.
Neste caso, os homens das ciências são constrangidos, geralmente pela subjugação moral, a recusarem-se a investigar Chico Xavier. Mesmo espaços de jornalismo investigativo se limitam, quando o assunto é Espiritismo, a produzir páginas chapa-branca, chegando a mencionar que Chico Xavier fez "ações de caridade" sem trazer a mínima fundamentação para tal tese, se satisfazendo com a menor boataria.
Sabemos que a "caridade" de Chico Xavier nunca existiu e não passou de meras ações de promoção pessoal, à maneira do que Luciano Huck está fazendo hoje. Analisando Chico Xavier, ele, em uma só pessoa, antecipou práticas e abordagens diversas que envolvem personalidades atuais de reputação bastante negativa: Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Luciano Huck.
No entanto, Chico Xavier, que sem dúvida não foi um intelectual (seja explícito ou oculto conforme as abordagens de seus seguidores) nem médium ele realmente foi, tinha a habilidade da hipnose, que desmontou Humberto de Campos Filho naquele assédio moral-religioso de 1957, e, mesmo terrivelmente feio, o suposto médium era capaz de exercer "cantos-de-sereia" capazes de fazer caírem no afogamento em alto mar o equivalente à lotação de milhares de Titanics.
Estratégias bastante perigosas de dominação humana, como o "bombardeio de amor", têm em Chico Xavier seu maior e mais ameaçador representante. Através dessa manobra, mesmo as frases mais insípidas do "médium" são tidas como "lindas mensagens", só porque são publicadas sob um apelo visual atraente, como paisagens da Natureza. Não é a frase que é bela, é a fonte gráfica usada e a imagem de fundo, com flores, passarinhos ou céu azul com brancas nuvens.
As aparições de Chico Xavier na televisão são pontuadas por um fundo musical de melodias doces e até piegas, que preparam o espectador para a propaganda emocionada de pessoas que "conviveram com o médium". Quando estava atuando em "casas espíritas", as reuniões de Chico Xavier eram aguardadas sob um fundo sonoro de música clássica, com o apelo melódico feito para anestesiar as almas aflitas e garantir o envolvimento emocional aprofundado e submisso.
Esses são recursos de promover a fascinação obsessiva, ao lado de um repertório propagandístico de "belas lições de vida", "trabalhos admiráveis" e até "lindas histórias e casos". A atmosfera emotiva não é muito diferente do que se oferece, às crianças, através de contos de fadas da Disney, mas a alegação de que tudo isso "promove o Conhecimento" e "é feito sob a mais absoluta racionalidade gnóstico-filosófica" ilude as pessoas, que não se julgam fascinadas nem emocionalmente cegas.
Isso é fascinação. Quando a pessoa mergulha numa ilusão achando que ela é o realismo, e tratam fantasias como se fossem realidades, isso é fascinação. A fascinação em torno de Chico Xavier é predominante entre seus seguidores e adeptos, mesmo aqueles que se dizem "moderados", "distanciados" e até mesmo "isentos", incluindo os autoproclamados "não-espíritas" e "ateus".
Há subjugação entre esses adeptos comuns. É quando as vontades dessas pessoas sofrem a influência mais dominadora do "médium", e isso se demonstra quando há um vídeo favorável a Chico Xavier, mesmo uma duvidosa "profecia da data-limite", cujo vídeo analítico faz a pessoa clicar e aderir a ele no "piloto automático".
Não só Chico Xavier, mas Divaldo Franco, fazem as pessoas aderirem a eles pelos vídeos favoráveis aos dois no YouTube, dominados pelas "mensagens de paz" e outros apelos que fazem as pessoas, nas redes sociais, aderirem facilmente, como cães diante da comida jogada à sua frente.
Nem se pergunta quem é que está falando em nome de Chico Xavier. Quando é a favor dele, até o mais vago boato é aceito, sem verificar. Quando é contra ele, desconfia-se até do que é óbvio, se exige contraprovas até das provas irrefutáveis e definitivas.
E dentro desse processo temos a recusa de jornalistas, juristas e acadêmicos em investigar Chico Xavier. Quando têm que investigar, criam relativizações absurdas, como dizer que o "médium" apoiou a ditadura porque ele era "santo", ou que é possível um escritor morto perder sua individualidade, levando, para o além-túmulo, apenas a Carteira de Trabalho, o RG e o CPF, que, em verdade, são os que justamente a pessoa abandona assim que falece.
São coisas absurdas, num Brasil desinformado e emocionalmente fragilizado, que comete o ridículo de endeusar - ainda que de maneira enrustida e sob mil pretextos - um único indivíduo, tida como detentora da Verdade, no sentido que a Lógica e o Bom Senso não mexem nele. Lamentável Chico Xavier ser intocável, sobretudo em função da fascinação e da subjugação de seus seguidores, simpatizantes e adeptos. Isso vai contra os ensinamentos da Codificação.
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