DOIS MITOS E O LEMA QUE INSPIROU "BRASIL, ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS".
Descobrimos uma foto na Internet com o presidente Jair Bolsonaro segurando nada menos que o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier. Sim, o Chico Xavier, que muitos pensam ser a antítese de Jair Bolsonaro.
Ao que tudo indica, não é montagem, de fato o "mito" está segurando mesmo o livro de Chico Xavier e não de Olavo de Carvalho, como iria se esperar, nem sequer o livro biográfico de Carlos Alberto Brilhante Ustra.
É certo que a Federação "Espírita" Brasileira sempre dá esse livro de presente para um governante. Mas sabemos que existem afinidades vibratórias entre as simbologias de Chico Xavier e de Jair Bolsonaro, que deveriam ser analisadas por um semiólogo com uma bravura de Ulisses Odisseu, se não se rendesse, em dado momento, ao "canto de sereia" do "médium de Pedro Leopoldo e Uberaba".
Os chiquistas devem sambar, ou melhor, dançar um "funk" para tentar relativizar a situação. Os "espíritas de esquerda" então devem tomar Rivotril com um copo de água fluidificada, todos se esquecendo que ambos, Chico e Jair, estão unidos por um mesmo processo arrivista de ascensão social e compartilham de praticamente todas as ideias ultraconservadoras que conhecemos. Qualquer dúvida é só recorrer a este texto, que confirma o pensamento conservador de Chico Xavier.
A expressão pode ser interpretada como constrangimento, mas pode ser também uma forma de conter o entusiasmo com uma aparente seriedade. A verdade, todavia, é que, devido à sintonia de energias, Jair Bolsonaro é o que melhor aproveita as energias de Chico Xavier, como se fosse um grande protegido do "médium" (o que, na prática, é verdade).
Afinal, os dois, lembremos bem, começaram da mesma forma arrivista. Chico Xavier criou literatura fake, constatação que se deve de acordo com o raciocínio contestatório a respeito de supostas psicografias (paciência, nós só usamos o método kardeciano!), escandalizou o meio literário e foi beneficiado por uma Justiça branda e complacente. Jair Bolsonaro teve um plano de atentado terrorista nos quartéis e também foi beneficiado por uma Justiça (militar) branda e complacente.
Apesar dos tipos pitorescos, da voz desajeitada, do perfil humano pouco atrativo, das acusações de problemas mentais, Chico Xavier e Jair Bolsonaro tiveram ascensão meteórica, tornando-se símbolo de adoração por uma legião de fanáticos. E ambos possuem praticamente as mesmas ideias ultraconservadoras e, de certa forma, eram solidários a Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais perversos torturadores da História do Brasil contemporânea.
Sim, Chico Xavier também defendeu Brilhante Ustra. No programa Pinga Fogo, ele não cansava de pedir aos brasileiros para orarem a favor das Forças Armadas, que estavam "desenvolvendo um reino de amor", estavam fazendo do Brasil "uma grande nação". Brilhante Ustra era coronel do Exército que atuava no DOI-CODI em São Paulo, e era tão sádico que chamava crianças para observar sessões de tortura, nas quais ele mesmo demonstrava atos de violência, agredindo presos políticos e gritando com eles.
Aí o pessoal salta da cadeira. "Chico Xavier nunca, em nenhuma hipótese, defenderia o Brilhante Ustra!". Paremos para pensar, antes de recorrermos à imagem "fada-madrinha" do "médium". Vamos descrever alguns itens:
1) Chico Xavier pedia para orarmos em favor dos militares que estavam exercendo a ditadura para evitar o caos e construir uma "nova nação" do futuro;
2) Chico Xavier foi condecorado pela Escola Superior de Guerra (notem o nome, "guerra"), que era incapaz de perder tempo homenageando quem não fosse colaborador da ditadura militar;
3) A tese dos "reajustes espirituais" e "resgates morais", sejam individuais ou coletivos, mostra o moralismo punitivista dos "espíritas", não muito diferente dos partidários de Jair Bolsonaro;
4) Chico Xavier não foi seletivo no apoio dado aos militares e elogiou o AI-5 como medida necessária para combater o que ele, como direitista, entendeu como "desordem".
Temos que parar com paixões religiosas. Chico Xavier não é uma princesinha da Disney. Nem a "indiscutível caridade" ele praticou, porque foram terceiros que atuaram no Assistencialismo, que em si já era fajuto. Ele não doou a venda dos livros para a caridade, mas para a Federação "Espírita" Brasileira, que continuou sustentando o "médium". E as "cartas mediúnicas" foram um risível evento fake, de apelo sensacionalista e conservador, com mensagens que começavam com o risível bordão "querida mãezinha...".
MAU AGOURO PARA QUEM ERA PROGRESSISTA
Notemos quatro exemplos de presidentes da República que acolheram Chico Xavier. O primeiro caso partiu de Juscelino Kubitschek, que teve a sina de ter sido amigo do "médium", e homenageou ele e a FEB, em 1960, e, a partir daí, deixou de realizar conquistas. Nem a possibilidade de voltar a ser presidente da República em 1966 (através da campanha de 1965) ele teve, porque a ditadura, tão querida pelo "progressista" Chico Xavier, decidiu se prolongar.
Juscelino era escorraçado até acima do que a média dos políticos moderados com alguma inclinação progressista. Nem parecia que era um político liberal, mas um trostkista radical, pela forma com que Juscelino foi tratado. O médico mineiro que, presidindo o país, investiu na construção de Brasília, sofreu adversidades pesadas e ainda morreu num atentado disfarçado de acidente de carro, em 1976.
Outra personalidade política progressista foi Dilma Rousseff, que, ao receber em 2011 uma cópia do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, viu a batata assar contra ela aos poucos, até começar a ser hostilizada pela população em 2013, e, apesar de reeleita em 2014, teve o mandato abreviado pelo impeachment e ela não conseguiu contornar as adversidades políticas.
Mas Fernando Collor e Jair Bolsonaro, comprometidos com projetos políticos conservadores, sempre tiveram sorte ao se vincularem, de certa forma, a Chico Xavier. Fernando Collor, que recebeu o apoio do "médium" (que sentia horror por Lula), até perdeu o mandato pelo impeachment, que mais lhe pareceu um generoso hiato, enquanto aqueles que poderiam obstruir seu caminho, como Paulo César Farias e mesmo o irmão Pedro Collor, faleceram.
Fernando Collor voltou em alta e conquistou o cargo de senador, comprando as esquerdas que haviam sido suas rivais e segue carreira até com denúncias de corrupção lançadas contra ele, mas nada que atingisse ele seriamente. O apoio de Chico Xavier aliviou os arranhões do "marajá das Alagoas".
E Jair Bolsonaro, a "antítese" de Chico Xavier, por causa daquele falso maniqueísmo dos supostos "ódio versus amor"? Se até o lema "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos" é igualzinho o lema "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e as ideias ultraconservadoras são idênticas (leiam as ideias de Chico Xavier sobre o trabalho, parece a reforma trabalhista dos golpistas pós-2016!), que antítese pode haver com duas almas tão afins?
Jair Bolsonaro só fez porcarias em seu governo, praticou crimes de corrupção e responsabilidade, põe a democracia em perigo, e não há meios de tirá-lo do poder. Ele se diverte, lacra a Internet e ainda brinca em termos de Covid-19, tendo recentemente feito um passeio de jet-ski.
Até parece que Chico Xavier está dizendo "ele fica, ele está inaugurando a Pátria do Evangelho; não é o governante ideal, mas é o que precisamos para tal finalidade", e que os chefes do Legislativo Rodrigo Maia e David Alcolumbre andam subjugados espiritualmente, ao não quererem tirar o "mito" do Governo Federal.
Se você não gosta de ver Chico Xavier sendo chamado de conservador, é bom você prestar atenção em você, antes que contraia um surto de demência mental. Não é Chico Xavier que é "progressista", você é que é conservador, e mesmo dentro das esquerdas vemos pessoas com sombras direitistas bastante assustadoras, mas que nunca vêm à luz porque isso repercutiria mal. E toda dissimulação é necessária para obter vantagens pessoais nessa sociedade de conveniências...
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