Virou moda, no Brasil do desastrado governo Jair Bolsonaro. Todo mundo erra, todo mundo é imperfeito, e dessa forma vivemos uma "carteirada às avessas", na qual a banalização do erro faz com que as pessoas criem um estranho orgulho de serem errados. "Quem nunca errou na vida?" virou o bordão mais pronunciado por essas pessoas.
É tanto erro, tanta canelada, que de repente criou-se um "orgulho de ser errado". Uma estranha "perfeição da imperfeição", que cria até uma visão preconceituosa e distorcida do termo "gente como a gente", como se ter simplicidade e ser desastrado fossem a mesma coisa.
No "espiritismo" brasileiro, as pessoas pegam carona nessa viagem desastrosa e apelam para que os "médiuns" sejam adorados "no limite de suas imperfeições". Os "médiuns" já são uma aberração, porque não têm a função intermediária que o trabalho lhes exige, e cometem uma série de irregularidades, e aí temos essa "adoração realista" que não passa de um papo furado.
Afinal, o culto à personalidade continua, a idolatria continua, a fascinação obsessiva alimentada pelas paixões religiosas continua, os memes piegas continuam, a publicação de suas horríveis frases moralistas continuam etc etc etc.
A quem querem convencer os chamados "isentões espíritas", esse bando de hipócritas que se apressa a mandar mensagens dizendo "não é bem assim", sempre puxando para trás nos debates sobre a deturpação do Espiritismo? Eles, que se julgam os "corretos-imperfeitos", que juram "não serem donos da verdade" mas querem ficar com a palavra final para tudo, não estão aí para a fidelidade e o respeito rigoroso aos postulados do Espiritismo original.
Metidos a "equilibrados", eles querem o "equilíbrio" e a "imparcialidade" da aparência, embora sejam desequilibrados e parciais no conteúdo. Falam de um ridículo "equilíbrio" entre o Espiritismo original e a forma catolicizada brasileira, usando a falácia do "equilíbrio entre a Fé e a Razão" para aceitar duplamente o Espiritismo de Allan Kardec e sua forma deturpada por Francisco Cândido Xavier e companhia.
SER APROVADO TIRANDO NOTAS RUINS
Essa onda do "todo mundo erra" não traz a menor contribuição de autocrítica. Não se trata de ter uma verdadeira consciência do erro, mas usar a "naturalidade do ato de errar" como uma desculpa para evitar responsabilidades e consequências desagradáveis.
Hoje se fala muito, só em relação ao mito de Chico Xavier, que "não existe salvador da pátria, nem a pé nem a cavalo", que "ele errou muito", que "ele não era infalível" etc. Agora se tenta promover sua idolatria, que a Rede Globo, através do método Malcolm Muggeridge, eliminou aspectos pitorescos em relação à idolatria anterior a 1978, como algo "mais realista", o que não resolve o problema, porque a adoração ao "médium", em si, é sempre um problema.
Chico Xavier cometeu erros gravíssimos (e quando se fala em gravíssimos, é porque são GRAVÍSSIMOS mesmo), consistindo até em crimes - como charlatanismo, falsidade ideológica (através do uso de nomes de mortos) e uso da "filantropia" para obter vantagens pessoais - e isso desmerece quase toda a idolatria que ele recebe.
Para piorar mais as coisas, esses erros são fartos de provas consistentes. As "psicografias" apresentam problemas sérios dotados de provas, como a comparação das "obras mediúnicas" com o legado deixado pelo respectivo falecido em vida. Só o caso Humberto de Campos é aberrante, porque o estilo original dele deixado em vida difere completamente do estilo da "obra mediúnica".
Assinaturas de pessoas comuns em vida não casam com as assinaturas "mediúnicas" trazidas por Chico Xavier. As opiniões pessoais de Chico Xavier se encontram em supostas mensagens espirituais incluindo um estranho "Casimiro de Abreu" que parecia sentir alegria em sofrer, uma grosseira distorção das relações dos poetas ultrarromânticos com o sofrimento humano.
Tudo isso é comprovado. Além disso, também há provas de leitura fria, que é um processo de obtenção de informações a partir de gestos e modos de falar dos depoentes, além das referências bibliográficas e de "informações sutis" nas quais um parente ou amigo de um morto oferece informações de completo desconhecimento de outro parente, que faziam muitos crerem que as "psicografias" apresentavam aspectos "desconhecidos" da vida de um morto.
Claro, se o professor da colônia de férias de um jovem morto fala de informações que a mãe desconhecia, elas são "difíceis" e "complexas". Nem todos os familiares e amigos transmitem todas as informações e muita gente pensa que as supostas psicografias são "autênticas" porque apresentam "informações difíceis", geralmente dadas por um ente querido que os demais não tomaram conhecimento.
Há coisas graves no "espiritismo" brasileiro e essa banalização do erro, caraterizada hoje pelas trapalhadas do governo Jair Bolsonaro, servem de gancho para os "espíritas" tentarem puxar para trás o debate em torno da deturpação. Enquanto esse debate se encontra nos níveis moderados de gente com visibilidade como o jornalista e tradutor José Herculano Pires (que em dado momento se rendeu aos deturpadores, ainda que sem concordar com eles) tudo bem.
Mas quando a coisa avança e ameaça a reputação dos festejados "médiuns", a coisa complica e surgem os "bolsomínions espíritas", sempre dando sua réplica em primeira hora. Como são muito precipitados em suas declarações, usam a falácia do "todo mundo erra" para justificar suas caneladas.
Em suma, a banalização do erro faz com que ninguém queira ser responsabilizado pelos erros. Dizer que "todo mundo erra" ou "Quem nunca errou na vida?" é uma maneira não de assumir de verdade o erro, mas fugir das consequências. É o uso do erro humano como desculpa para evitar ser punido. Se "todo mundo erra", então "ninguém deve ser punido".
Isso é muito ruim e a banalização do erro simplesmente piorará as coisas, porque vai transformar o país numa bagunça pior do que a que se vê no cenário político nacional. E, no caso dos "médiuns" como Chico Xavier e Divaldo Franco, a banalização do erro só agrava seus desméritos, porque seus defeitos se tornam expostos e, portanto, graves demais para que eles merecessem a menor adoração, ainda que sob a máscara da "admiração saudável a homens simples e imperfeitos". Porque, neste caso, a idolatria continua, ainda mais cafajeste por ela ser dissimulada.
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