Falta aos nossos semiólogos um maior cuidado nas análises sobre Francisco Cândido Xavier, que sempre esbarram no deslumbramento religioso, no medo em contestá-lo e na preguiça em sair das paixões da fé religiosa e adquirir um corajoso senso crítico.
Material não falta, sobretudo se percebermos que Chico Xavier parece um daqueles personagens de comédia surreal, que surgiram como caipiras medíocres que viraram algo próximo a semi-deuses. Nem o filme Todo Poderoso (The Almighty) chegaria tão longe quanto Chico Xavier, que personifica o tipo de pessoa que quis demais na vida, em que pese suas dissimulações de falsa humildade.
O próprio Cinegnose, do professor Wilson Roberto Vieira Ferreira, tem subsídios nas mãos e simplesmente se recusa a usá-los na hora necessária. Fica, talvez, seduzido ao canto-de-sereia do "bondoso médium", com seus retratos mesclados com paisagens floridas ou celestiais, e fica desnorteado diante de seduções tão perigosas e traiçoeiras.
Um desses subsídios é de um texto intitulado Dez sinais de que você participa de uma seita, que traz vários mecanismos de dominação e manipulação mental das pessoas sob o aparato da religião, nos quais inclui o perigosíssimo "bombardeio de amor" (love bombing), que poucos percebem ser a ferramenta que Chico Xavier usou para promover adoração a ele mesmo (ainda que seja a adoração dissimulada na "admiração normal a um homem simples, imperfeito e humilde).
Vamos reproduzir os dez itens e o texto publicado por Wilson Roberto, mas acompanhados de nossos comentários relacionados ao "espiritismo" brasileiro, para assim esclarecer as pessoas de como a "religião do amor" é bastante mesquinha no processo de manipular corações e mentes humanos. Vejamos os aspectos manipuladores, associados principalmente a Chico Xavier:
1- Exclusivismo
O culto projeta a percepção de que suas ideias são o único caminho. O grupo é o único caminho para alcançar a iluminação, a verdade, a riqueza etc. Nesse esquema de pensamento está implícita a mentalidade do NÓS contra ELES.
Nosso comentário: Embora se permita a "liberdade de crenças e ideias", o "tolerante espiritismo" brasileiro tende a ser o centro das coisas, a religião se dissimula, como um camaleão, se disfarnçando até numa "filosofia" ou "não-religião" para cooptar ateus, religiões afro-brasileiras, movimentos esquerdistas etc. É a ideia de "não se impor" mas se definir, sutilmente, como o "centro de tudo", principalmente através da ideia de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e da falácia de que "ninguém é obrigado a ser espírita, mas um dia terá que sê-lo, senão por amor, mas pela dor".
2- Temor e intimidação
O líder cultiva uma atmosfera de temor onde ninguém pode questionar suas palavras. Vozes contrárias são tratadas com a técnica de “breaking sessions” (isolamento, acusações, denúncias e humilhação), até elas serem submetidas e conformadas.
Nosso comentário: Ligado à Teologia do Sofrimento, o "espiritismo" brasileiro, que se diz comprometido ao "esclarecimento", não admite questionamentos. As opiniões e manifestações contrárias são tratadas como "crueldade", no discurso em que os "espíritas" adotam para si uma postura vitimista e, a seus contestadores, fazem juízos de valor bastante perversos.
Além disso, a religião "espírita" adora culpar a vítima pelos sofrimentos que ela vive, e ainda apela para a ideia malévola do "combate ao inimigo de si mesmo", uma falácia que só complica a situação dos sofredores extremos, que sucumbem ao mesmo suicídio que os "espíritas" dizem condenar.
3 - "Love Bombing"
Os cultos praticam essa forma de controle mental através do falso amor. No instante em que você ingressa em um culto, ganha novos amigos. Será abraçado e todos irão querer falar com você. Para alguém que é solitário ou chegou recentemente a uma localidade estranha é maravilhoso. Entretanto, depois de um tempo esse “amor” torna-se condicional em relação a sua performance e/ou como será avaliado em relação às normas latentes ao culto.
Nosso comentário: Foi justamente o "bombardeio de amor", a técnica hipnótica do falso amor, que fez Chico Xavier dominar Humberto de Campos Filho. Chico Xavier é associado a essa técnica, aparentemente agradável mas bastante perigosa, na qual se estimula a evocação dos mais belos apelos de afetividade, virtudes humanas e símbolos como paisagens floridas, cenários celestiais e crianças sorridentes.
Nas "casas espíritas", se estimulam, como em toda religião, arremedos de afetividade que parecem, à primeira vista, um contato íntimo e fraternal, mas são meios muito perigosos de dominação, pois o "bombardeio de amor" (do inglês love bombing) é apenas um artifício para atrair as pessoas para fazer número nas instituições religiosas e garantir poder a seus dirigentes.
4 - Controle de informação
Quem controla as informações controla as pessoas. Na dinâmica de controle mental no interior do culto, qualquer informação vinda do exterior é considerada má, especialmente se é de crítica ao culto. Os membros são orientados a não lê-las ou não acreditar nelas. A única informação verdadeira é a fornecida pelo culto.
Nosso comentário: O "espiritismo" brasileiro é muito dissimulador e ele só defende o Conhecimento dentro de certos limites, que não ameacem os terrenos da "fé cristã". Se ameaçar, é definido como "tóxico do intelectualismo" por essa religião que se gaba de se dizer "não-medieval", mas prova ser o extremo contrário.
No caso do controle das pessoas, a "leitura fria" praticada nos "centros espíritas" a partir de Chico Xavier faz com que as pessoas atendidas se tornem manipuláveis, pois suas diversas informações íntimas, além da interpretação maliciosa de nuances psicológicas, como chorar ao citar uma lembrança saudosa da infância, faz aumentar o poder dos tarefeiros "espíritas" sobre aqueles que atendem nos "auxílios fraternos".
5 - Estrutura de delação
Todos no interior do culto são encorajados a ficarem atentos a “irmãos resistentes” e delatá-los às lideranças. Toda informação dada será considerada confidencial pelas lideranças. Muitas vezes os membros ficam chocados ao verem seus problemas sendo discutidos nas reuniões do culto. Embora isso crie uma atmosfera persecutória de medo, os membros continuam agindo da mesma forma.
Nosso comentário: Isso aparentemente inexiste no "espiritismo" brasileiro. Mas quando há algum "desertor" da "causa espírita", criam-se mecanismos para cooptá-lo e aprisioná-lo, sempre usando como artifício o "bombardeio de amor", desta vez com um aparato de "infinito perdão", para desarmar a alma do cético de ocasião. A desculpa de "conhecer as obras de caridade espírita" são uma isca para atrair céticos e desertores para o domínio pela seita igrejista.
6 - Linguagem carregada de jargões
O culto cria sua própria linguagem e jargões. Isso evita que as pessoas de fora entendam as “misteriosas” conversas e dá aos membros uma poderosa sensação de fazer parte de uma seleta irmandade. Também permite um fenômeno conhecido por “paralisia do pensamento” onde uma simples palavra pode ter o poder de parar com quaisquer pensamentos que possam ir contra o culto.
Nosso comentário: O vocabulário "espírita" brasileiro é cheio de jargões, vários de origem católica: "seara", "mansuetude", "manancial", "caminheiro", "viajor" e outras expressões mais rebuscadas (como o lema "outorgaste-nos a paz" de Emmanuel) fazem do "espiritismo" um repertório de ideias truncadas que permitem a "paralisia do pensamento", em certos casos respaldada pelos apelos do "bombardeio de amor".
7 - Controle do Tempo
Faz parte das técnicas de controle mental dos cultos manter os membros tão ocupados com reuniões e atividades que se tornam exaustos demais para pensar sobre seu envolvimento. Se uma pessoa consegue escapar desse dispositivo de controle do tempo do culto, em pouco tempo ela conseguirá contrastar a vida “normal” externa com o ambiente controlado interno do culto e, dessa forma, resultará na sua desistência.
Nosso comentário: A falácia de "não só entender, mas viver o kardecismo no dia a dia" é uma forma de expandir a mistificação "espírita" para fora de seus limites institucionais. Lembremos que "kardecismo" é um eufemismo para o "espiritismo cristão" de conteúdo igrejista e catolicizado que se professa no Brasil.
A manobra de usar o "espiritismo" como centro de todas as coisas também é um meio de subordinar o Conhecimento aos limites autorizados pela religião, de forma a fazer com que as pessoas tenham preguiça em contestar as irregularidades que envolvem o "espiritismo" brasileiro.
As irregularidades do "espiritismo" brasileiro também são muitas e tão complexas que transformam a religião numa "esfinge" contra a qual se requer um persistente esforço de questionamento e investigação (tal qual páginas como a nossa fazem), trabalho que soa exaustivo para os menos corajosos, que preferem a zona de conforto da mistificação e da permissividade sob o pretexto da fé.
8 - Controle das Relações Pessoais
Os dispositivos de controle mental usam diversos recursos para maximizar seus contatos com membros do culto e minimizar contatos com pessoas externas ao grupo, principalmente se elas mantêm opiniões críticas. Membros poderão se incentivados a se mudarem para bairros próximos ou mesmo para a casa(s) do próprio culto para poderem ser observadas de forma mais intensiva. O culto irá combater ou faze-lo esquecer de qualquer informação que o faça lembrar da sua vida anterior.
Nosso comentário: Não existe, aparentemente, esse controle. Mas as más energias que o "espiritismo" brasileiro traz às pessoas faz com que muitos amigos que lhe são caros sejam abatidos pela morte, em situações de evidente azar, enquanto aos viventes se juntam pessoas com personalidades adversas, que lhes trazem profundos conflitos e divergências de difícil resolução. Isso vem da mística da Teologia do Sofrimento e seu método cruel e forçado de promover a "fraternidade".
Há também o aspecto estranho de "casas espíritas" se localizarem em locais considerados perigosos, sob o pretexto do "hospital que se instala no lugar onde há doença". Só que isso, além de não resolver as coisas, só faz piorar. Além disso, um controle exercido pelas "casas espíritas" é a prática duvidosa de "passes" e "tratamentos espirituais" que são feitas para atrair fiéis para tais instituições.
9 - Dissimulação
O culto irá usar a dissimulação. Normalmente o culto nunca contará exatamente para as pessoas no que seus líderes acreditam, suas origens, o que eles praticam e como realmente é a vida no interior do culto. Porque se as pessoas soubessem de tudo isso, jamais ingressariam. Essas informações são passadas lentamente e de forma fragmentada para os iniciados. Dissimulação é o pré-requisito para o controle mental.
Nosso comentário: O "espiritismo" brasileiro é a religião mais dissimulada do Brasil. Chega mesmo a superar as piores igrejas evangélicas "neopentecostais", porque estas, por piores que sejam, não se dissimulam tanto e são até engraçadas de tão escancaradas (como no caso do "Jesus na goiabeira" da ministra bolsonarista Damares Alves).
A dissimulação envolve desde pretensas psicografias até o moralismo de níveis ultraconservadores defendidos pelo "espiritismo", com base na Teologia do Sofrimento. É tanta dissimulação que é necessário uma dedicação maior para contestar as irregularidades uma a uma, principalmente diante da arrogância travestida de simplicidade do "movimento espírita".
10 – Auto-engano
Acreditar que somente loucos, perdedores e estúpidos participam de cultos é um dispositivo de controle mental usado pelos próprios cultos, reforçados pelos estereótipos midiáticos das notícias sensacionalistas sobre seitas bizarras. Esse dispositivo explora um mecanismo defensivo presente em todos nós em pensamentos como “sou bem sucedido”, “isso nunca aconteceria comigo”, “somente um idiota poderia cair nisso”. Essa espécie de auto-engano, oportunamente explorado por líderes de um culto. O tipo de pessoal ideal para ser recrutada por um culto é mais comum do que se imagina. Leia esse depoimento do norte-americano John Knapp, ex-participante de um grupo de autoajuda centrado em técnicas de meditação:
“Veja, você não precisa ser preguiçoso, louco ou estúpido para se associar a um culto. Se você é, eles não querem você. Eles querem pessoas ricas e talentosas para enfiar seus ganchos. É fácil ficar fora de cultos. Nunca fique exausto. Ou assustado. Não seja muito jovem. Ou muito velho. Nunca se divorcie. Ou case. Não almeje o sucesso. Nunca falhe. Nunca tenha esperança de um mundo melhor. Nunca se sinta indignado diante da injustiça. Não seja muito rico – ou muito pobre. Nunca experimente depressão. Nunca almeje grande felicidade. Não fique doente. Não procure nada – resumindo, jamais fique vulnerável. Você não precisa ser incomum para ser cooptado por cultos. Você apenas precisa ser humano. Eu me associei a um grupo de meditação para clarear minha mente e melhorar meu desempenho. Vinte e três anos e US$150.000 dólares depois descobri meu engano. Estraguei tudo: queria algo melhor na vida. E alguém ficou feliz por vender-me isso”. (HOWARD, Martin. We Know What You Want. New York: Desinformation Co., 2005, p. 141).
Nosso comentário: No "espiritismo" brasileiro, o "auto-engano" é uma tática usada sobretudo para atrair ateus e céticos. Pessoas que são duras contestadoras da mistificação "espírita" se deixaram desarmar pelo aparato de "amor e caridade". Elas são atraídas pelas "casas espíritas", sob o pretexto de ouvir a "boa palavra" (ou "evangelho") ou "ver as obras de caridade" e, seduzidas pelo "bombardeio de amor", acabam caindo em lágrimas copiosas.
Chico Xavier, como habilidoso manipulador mental, usava a técnica do "auto-engano", para dominar seus contestadores e detratores, que passam a ter vergonha até de terem senso crítico. São induzidos a crer na fé mistificadora e medieval, e a agir de forma submissa e a expressar adoração obsessiva ao "bondoso médium", atribuindo-lhe, senão a "superioridade religiosa", pelo menos a "superioridade simbólica" do "homem imperfeito que só praticou o bem (sic)".
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