É mais do que urgente, é mais do que necessário, nos livrarmos das amarras das paixões religiosas, que fazem com que o fanatismo religioso seja como uma areia movediça confundida com uma lama medicinal. O fanatismo religioso, mesmo aquele enrustido, envergonhado e nunca assumido, é sempre um perigo que desnorteia as pessoas na sua percepção da realidade.
Diante do deslumbramento religioso e da mística de pretensos "salvadores da pátria" que vieram depois de 2016, com um intragável Michel Temer tentando "salvar o país" com suas pautas reacionárias, e, agora, com Jair Bolsonaro causando confusão mesmo sendo tido como o "candidato ideal para disciplinar e consertar o Brasil", não há como deixar o "médium" Francisco Cândido Xavier, pretenso "espírito de luz" brasileiro, fora desse contexto.
Ele reuniu aspectos que envolvem moralismo ultraconservador - muito mal disfarçado por uma fachada "progressista" cheia de invencionices - , trajetória arrivista e uma certa licenciosidade que se tornou peculiar no próprio "espiritismo" brasileiro, no qual se bajula o nome do pedagogo Allan Kardec, mas em contrapartida se acolhe o roustanguismo, agora adaptado pelo "médium".
Os brasileiros estão com muito medo de assumirem suas falhas e seus aspectos sombrios. Há um medo enorme de se saber dos aspectos negativos de Chico Xavier e os textos informativos a respeito, mesmo com provas e argumentos robustos, são boicotados porque os adultos revelam seus males ocultos, pois, ao se revelarem o reacionarismo e as desonestidades do "médium", muitas sujeiras são tiradas de baixo do tapete.
Há muitas pessoas que se dizem progressistas e guardam dentro de si um conservadorismo oculto. Há pessoas que dizem adorar o cientificismo de Kardec, mas reclamam dele ser "excessivo" o tempo todo, de tal forma que se pergunta se essas pessoas não estariam, em verdade, repudiando aquilo que dizem gostar. O "espiritismo" brasileiro permite a seus adeptos, infelizmente, mascararem seus próprios pontos negativos, em prol de um suposto progressismo espiritualista futurista etc.
O "espírito do tempo" (olha o trocadilho) da retomada ultraconservadora na América Latina faz com que, na nossa vizinha Venezuela, o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Juan Guaidó, um dos líderes da oposição ao esquerdista Nicolas Maduro, se autoproclamasse presidente interino daquele país.
Guaidó segue a tendência dos ventos anti-esquerdistas que, no Brasil, resultaram nas passeatas do "Fora Dilma!" em 2016, movimentos que haviam sido exaltados pelo "espiritismo" brasileiro que definiu como "começo da regeneração da humanidade" e "despertar político dos jovens cansados de corrupção". Sobre o aspecto duvidoso da corrupção atribuída ao PT, pedimos para que procurem os livros do sociólogo Jessé Souza, A Tolice da Inteligência Brasileira, A Radiografia do Golpe e A Elite do Atraso.
Os espíritas autênticos - que seguem a tendência francesa e não a brasileira - ficaram incomodados com essas posturas do "movimento espírita" que exaltou o "Fora Dilma", a Operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro e pediu para "orarmos" em favor de Michel Temer e Jair Bolsonaro. É claro que há também uns caronistas, "espíritas da FEB" que escondem seu bolsonarismo debaixo do tapete e fingem serem progressistas só para tentar agradar as pessoas.
E aí chegam os "isentões espíritas" com seus argumentos mirabolantes no esforço vão de ficarem sempre com a "verdade", abafando os debates em torno dos problemas do Espiritismo no Brasil. Sob a desculpa de "enriquecer o debate" e "provocar discussões", os "isentões" são na verdade a turma do "deixa pra lá", que usa o aparato de questionamento (às vezes usando o verniz da linguagem monográfica) para evitar os verdadeiros questionamentos, mais aprofundados.
São a turma do "puxa pra trás", que procura salvar o que resta de Chico Xavier, depois que estão sendo divulgadas denúncias com provas ainda mais robustas. Agora, não podendo mais contestar tais denúncias, tentam manter o "médium" em alta reputação com a alegação de que "ele deve ser admirado dentro dos limites de suas imperfeições". É uma maneira de tentar fazer Chico Xavier continuar sendo endeusado, mas sob o disfarce da "criatura imperfeita e falível".
Chico Xavier havia sido um autoproclamado "pacifista" e "filantropo". Sua filantropia é uma falácia, porque a tão festejada "caridade" de Chico Xavier, o maior motivo de tanta adoração dada a ele, é, na verdade, uma farsa semelhante a de que Luciano Huck, admirador confesso do "médium", está fazendo com seus quadros "assistenciais" do Caldeirão do Huck e seu suposto ativismo nas organizações financiadas pelo empresariado, Renova BR e Agora!.
Não podemos comparar o caso Guaidó / Chico Xavier com o de José de Abreu (que, em entrevista, afirmou ser um ex-espírita, pelo menos em relação ao "espiritismo da FEB"). Ele se autoproclamou "presidente do Brasil" como um protesto e uma sátira, desnorteando as pautas direitistas que até agora andaram a levar sempre a melhor nos seus apelos linguísticos de atrair a atenção das massas.
O caso de Chico Xavier tem a ver com o de Guaidó. A "autoproclamação" de "líder pacifista" e pretenso salvador da pátria mostra que o "médium" tem mais a ver com Guaidó, até porque, em que pese Chico ser apoiado pelas classes pobres, ele é, na verdade, respaldado pela sociedade conservadora, que precisa ter "filantropos" que sirvam de "cortina de fumaça" para as crises provocadas pelos abusos da política direitista.
São pretensos filantropos que tentam desviar a atenção da população indignada, produzindo pretensa adoração pública através de uma falsa caridade que nem de longe traz resultados profundos, sendo mais uma "criação de pobres em cativeiro", uma domesticação de pobres sem que lhes possa garantir melhorias profundas e definitivas para nossa sociedade. É uma "caridade" cujo maior beneficiário é o suposto filantropo, adorado demais por quase nada que faz.
É assim que a sociedade conservadora produz seus pretensos "símbolos de humanismo", de forma a plantar falsas esperanças na população e deixá-las escravizadas pelas paixões religiosas e sua mística de contos de fadas nas quais o "bombardeio de amor", perigoso artifício de manipulação mental, é estimulado para que se adorem pretensos "espíritos de luz" que, em verdade, nunca foram sequer a metade da "luminosidade" que dizem possuírem.
E, o que é mais grave. Chico Xavier cometeu erros muito mais graves para ser "admirado como pessoa simples, mas imperfeita e falível". Isso porque suas irregularidades foram muito graves para receber qualquer adoração, até mesmo nesses limites "imperfeitos", afinal, ele já fez atrocidades demais ao desviar, sem o menor escrúpulo, a Doutrina Espírita para as trevas do Catolicismo medieval redivivo que se tornou o "espiritismo" brasileiro.
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