Recentemente, a palavra-chave "Nota de Repúdio" entrou nos trend topics do Twitter, com base na contradição de declarações de representantes do Legislativo e do Judiciário de manifestarem repúdio ao governo Jair Bolsonaro, sem no entanto fazer uma ação concreta para tirá-lo do poder.
São apenas manifestos, que mais parecem comentários opinativos, e vemos um acovardado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, cheio de dedos alegando que "ainda não dá" para tirar o desastrado presidente do poder. Se bem que, nos bastidores, fala-se que quem governa o país mesmo é o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Neto, já chamado de "presidente operacional" do Brasil.
De que adianta Rodrigo Maia e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal argumentarem que os excessos de Jair Bolsonaro põem em risco a democracia e o convívio livre e responsável das instituições, se eles nada fazem para tirá-lo do poder? Ainda sob a desculpa boba de que "não se pode fazer impeachment por qualquer motivo", apesar dos motivos em sobra e das confirmações de crimes de responsabilidade diversos!
Será que as "boas energias" de Francisco Cândido Xavier é que andam protegendo Jair Bolsonaro e seus familiares? Porque, se Chico Xavier protege vibratoriamente alguém, é Jair Bolsonaro, que tem um pano de fundo arrivista como foi o "médium", conhecido por sua fase "adocicada" de frases piegas, que infelizmente caíram no gosto popular (como muita coisa ruim existente no Brasil, tipo "sertanejos" e funkeiros), mas com um passado arrepiante de ações fraudulentas.
Paciência. É a afinidade de sintonias, estúpido! Chico Xavier e Jair Bolsonaro se ascenderam de forma arrivista - alguém levaria a sério aquele embuste literário, Parnaso de Além-Túmulo, no qual até uma seguidora do "médium" revelou, sem querer, a farsa das reparações editoriais sucessivas de um livro "enviado por amigos de luz"? - e defendiam ideias abertamente conservadoras. Não dá para desmentir isso. São fatos e não opiniões que avisam do direitismo de Chico Xavier.
Se Chico Xavier fosse mesmo progressista, Jair Bolsonaro não teria sido eleito e todas as barreiras teriam sido feitas para sua ascensão ao poder. Chico Xavier é muito adorado e nada ocorreu para tirar o "mito" do caminho da República. E não adianta falar que "Bolsonaro foi eleito como prova para a população brasileira", porque isso é uma tolice. A vitória de Bolsonaro foi feita porque, pelo currículo, as energias do "médium cândido" e do "capitão messias" são muito afins.
As esquerdas cultuam Chico Xavier sem saber. Veem o "médium" carregando um bebê negro e pobre no colo e acham esquerdista. Veem, sem prestar atenção, as frases do "médium" só observando palavras "soltas" como "paz", "fraternidade" e "esperança" (não liberadas de graça, para Chico Xavier, é preciso suportar desgraças pesadas primeiro), e pensam que ele era esquerdista e havia sido "alma gêmea" de Lula, de quem o "médium" sentia pavor só em imaginar presidindo a República.
E qual a lição destas "notas de repúdio" do STF e Congresso Nacional que não se encorajam a tirar Jair Bolsonaro do poder? Ora, "notas de repúdio" é o que mais se faz no Brasil. Reclamar pelas costas é o que mais se faz nas redes sociais.
Recebendo mensagens de leitores busólogos, fico lembrando do bafafá que houve quando se iniciou uma campanha para a extinção de uma empresa de ônibus que só tinha carros velhos e sucateados, a Transmil.
Quando as queixas se limitavam a um debate virtual sem efeito concreto, os busólogos fluminenses - conhecidos por sua arrogância, como ocorreu no caso da pintura padronizada nos ônibus - , tudo bem, mas quando surgiram notícias de outros busólogos, também fluminenses mas opostos à "brutologia" reinante até em busólogos com nome de anjo, apelido de fritura ou nome que lembra "chutando o balde", aparecia gente estranhamente revoltada com a possibilidade de extinção da Transmil.
Essa gente esquisita veio logo disparar desaforos, uns dizendo que a Transmil era "empresa boa", se sentiram incomodados com a campanha, da qual só tiveram que aceitar porque a coisa cresceu para a revolta das populações da Baixada Fluminense que não suportavam mais viajar em ônibus velhos, com pneus carecas e rodando em alta velocidade em plena Av. Brasil, oferecendo risco de um trágico acidente de trânsito.
A dura lição desse episódio que mais parece conto kafkiano é que reclamar virou hobby de uma parcela da sociedade brasileira, que mede a gravidade de um problema apenas pelo impacto solipsista do mesmo, pois, se o problema não lhe afeta pessoalmente, ainda que afete gravemente uma considerável quantidade de pessoas, esse problema não lhe "existe".
CHICO XAVIER REJEITARIA ATÉ O SENSO CRÍTICO DAS ESQUERDAS
E Chico Xavier, tão cortejado pelas esquerdas que não sabem - ou, se sabem, tentam minimizar ou relativizar - de seu reacionarismo radical, convicto e confirmado em sua formação e raízes sociais, também não estaria gostando da vocação maior que a mídia progressista faz, que é exercer o senso crítico.
A obra de Chico Xavier é marcada pela rejeição ao senso crítico e qualquer reclamação na vida. São obras doutrinárias que amaldiçoam quem reclama muito da vida - há um "conto", A Queixosa, do livro Reportagens de Além-Túmulo, de Chico e Antônio Wantuil de Freitas mas creditado a "Humberto de Campos", que diz muito disso - e falam para os sofredores suportarem suas desgraças "sem queixumes", esperando o "socorro de Deus".
Não adianta botar esses livros na conta de Emmanuel, ou do suposto Humberto, ou do fictício André Luiz. As ideias reacionárias - "não questiones", "não reclames", "sofra em silêncio, sem queixumes" - vêm de Chico Xavier, aquele mesmo sujeito cujas frases diabéticas são reproduzidas bovinamente pelo gado religioso das redes sociais, que ainda acredita na imagem de "fada-madrinha" que o "médium" goza na posteridade.
As esquerdas fazem reclamação o tempo todo. Reclamam do arbítrio da mídia corporativa, dos abusos de politicos neoliberais, das atrocidades do patronato, das barbaridades de humoristas preconceituosos e comentaristas hidrófobos. Tudo contra os "ensinamentos" do "bondoso médium".
Chico Xavier defendia até mesmo o patronato, o fim dos direitos trabalhistas, as reduções salariais. Muita gente não aceita essa hipótese, mas ela é real. Chico Xavier sempre defendeu a servidão e a submissão humanas, e ele seria o primeiro a apoiar o plano de emprego de Jair Bolsonaro, que extingue encargos trabalhistas e só deixa o trabalhador com "salário de fome".
Quem salta da cadeira alegando que "Chico Xavier não apoiaria isso!", gritando feito um bolsomínion tresloucado - como certos "espíritas de esquerda", como uma jornalista do Repórter Nordeste - , deveria antes parar para refletir, antes de voltar a sentar e cair da cadeira.
Para Chico Xavier, a redução de encargos trabalhistas e a redução salarial - que, para ele, eram ideais para garantir apenas o "básico para a sobrevivência humana" - eram demonstrações de desapego à matéria e "aprendizado" da Economia cotidiana. "Para que receber tanto salário? Só o que lhe serve para pagar as contas e comprar comida já basta!", diria o "bondoso médium", que acharia "um exagero" um salário hoje estimado em R$ 5 mil o valor ideal do salário mínimo, segundo o DIEESE.
As esquerdas também fazem "notas de repúdio", mas também não têm espírito de ruptura. Se recusam a romper com Chico Xavier, apesar do seu reacionarismo explícito. Já não aceitam romper com o "funk", aquele ritmo que idiotiza as classes populares, e ainda vem gente de esquerda, de vez em quando, choramingando porque os funkeiros são vistos pela sociedade esclarecida como grosseiros. Esquecem que o "funk" trata o povo pobre de maneira caricatural e ainda endeusa as favelas onde os pobres só vivem porque não há outra opção de moradia.
Daí que o Brasil não está acostumado com rupturas. Ruptura só com o que há de melhor: morrer político progressista, jornalista de grande valor, artista de MPB, projeto de grande veículo midiático (do Pasquim à Fluminense FM, só para citar dois exemplos) etc. Obituário, só com gente fofa, ou, quando muito, com gente que não é admirável nem repugnante.
Mas se a ideia é aposentar o Sikêra Júnior, jogar cantor "sertanejo" para o ostracismo, ver mulher-fruta se casando, ou cancelar a pintura padronizada nos ônibus de São Paulo e Curitiba, isso causa pânico, porque coisas assim são alvo do apego infinitamente mais do que doentio (em muitos casos, sob o risco de contrair demência) dos brasileiros ordinários. Desmascarar "médiuns" e noticiar mortes de feminicidas, então, nem pensar!
Daí que o nosso Brasil está atolado na areia movediça da mediocridade. Reclama-se "de mentirinha", só para agradar os outros, mas se resiste a tomar providências, e, em certos casos, até se reage contra quem faz alguma coisa. Vivemos num tempo em que boa parte dos brasileiros virou masoquista, a ponto de desejar, até mesmo sob orações, que as riquezas brasileiras sejam entregues a empresários estrangeiros.
E isso quando as esquerdas, tão tolas, acham que Chico Xavier é progressista e ainda insistem em dizer que o direitismo dele era apenas um "ponto controverso" sem importância ou uma mera questão de opinião. É por isso que as esquerdas não conseguem recuperar o caminho perdido em 2016, enquanto Jair Bolsonaro, arrivista como o "bondoso médium", continua no poder tranquilamente, mesmo sob todos os contextos que, em situações normais, teriam dado fim ao seu governo há tempos.
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