Será que os espíritos, quando voltam à chamada "pátria espiritual", viram sempre igrejistas? A suposta mediunidade que se observa no "movimento espírita" mostra sempre mensagens igrejistas, quase sempre usando um mesmo roteiro de relatos, que é difícil não desconfiar da veracidade de tais mensagens, por mais que se usem até pesquisas universitárias para "legitimá-las".
O roteiro é sempre o mesmo: o falecido sentiu algum tipo de mal-estar quando voltou ao mundo espiritual, foi socorrido por uma equipe de auxiliadores, foi internado em algum tipo de hospital e depois, apresentado para o Evangelho de Jesus, se sentiu melhor e resolveu mandar a referida mensagem para pedir que todos se unam na "fraternidade em Cristo".
As palavras variam, alguns pormenores também, mas a mensagem é sempre a mesma. Parece que o morto só aparece para fazer propaganda da religião "espírita". Tudo é só apelo religioso, pouco importando se o falecido é uma antiga freira carmelita ou um roqueiro brasileiro, tudo é igual, tudo tem o mesmo apelo, parece que tudo veio da mente do respectivo médium que a difunde.
Ultimamente, denúncias de irregularidades envolvendo supostos processos mediúnicos estão tirando o sono de muitos líderes do "movimento espírita". Isso porque não se trata apenas de denúncias contra médiuns "menores", de "centros espíritas" de menor conceito escondidos em subúrbios ou cidades do interior.
As denúncias envolvem os "peixes-grandes", principalmente o já falecido Francisco Cândido Xavier, contra o qual se observam mensagens que só tem a caligrafia dele e cujas informações, mesmo as mais sutis, teriam sido colhidas de consultas formais ou mesmo informais de colaboradores dos "centros" em que Chico Xavier trabalhava para "psicografar".
O que muitos creem ser mediunidade é um processo que se mostra irregular, porque, como é de praxe no Brasil, as pessoas não querem estudar com profundidade uma coisa séria e ficam inventando as coisas do nada, quando muito a partir de uma noção bastante vaga.
Se isso ocorre até com as emissoras de rádio FM que se dizem "rádios rock", que no fundo não passam de emissoras pop chinfrins e tolas que tentam levar vantagem com "algo diferente" - um vitrolão "roqueiro" dos mais fajutos previamente montado pelas gravadoras - , feitas por gente que entende tanto de rock quanto Tiririca entende de engenharia espacial, a mediunidade "à moda da casa" segue o mesmo caminho.
As pessoas, em vez de estudar a sério o contato com o mundo espiritual, ficam inventando coisas e fazendo uma "mediunidade de fundo de quintal", inventando mensagens da própria mente e carregando demais nos apelos religiosos para não revoltar as pessoas.
Assim, quando alguém passa a se sentir lesado, é só o suposto médium dar um argumento dos mais "bondosos" dizendo que compreende a incompreensão do "caro irmão" mas o espírito é que acaba transmitindo a impressão de religiosidade porque o ambiente no mundo espiritual é "iluminado".
"Mas fulano era ateu! Eu conversava com ele, era ateu convicto!", reage, por exemplo, algum parente indignado. Aí o esperto "médium" vem com essa: "Sim, é verdade, mas o retorno à pátria espiritual o fez rever seus conceitos e encontrar a luminosidade em Cristo, conciliando-se com a fé em Deus que ele tanto recusou a admitir pelas paixões terrenas".
Fica muito fácil. Todos no além são atribuídos a uma reputação de garotos-propagandas da fé religiosa, todos vestindo roupas brancas que fazem a gente perguntar se eles na verdade não estariam fazendo propaganda de marca de sabão em pó.
O que ocorre é que nossos "médiuns" nunca tiveram concentração suficiente para se comunicarem com os espíritos. E ainda mais trabalhando em salas movimentadas, cheias de gente tagarela, como no caso de Chico Xavier.
Por outro lado, há também as cobranças e pressões que impedem a comunicação com os espíritos, eles também se sentindo pressionados pelas circunstâncias, pelo menos o que se supõe a respeito deles. Porque, em verdade, eles nem aparecem. É como um popstar que é bastante comentado e evocado numa cidade do interior, sem que essa celebridade seja sequer avisada disso.
Isso faz com que o processo mediúnico deixe de acontecer, e tudo fique no faz-de-conta. E isso se observa em diferentes atividades cujo aspecto comum é o total desconhecimento e despreparo da Ciência Espírita, ramo do conhecimento que os "espíritas" fingem seguir rigorosamente mas do qual não conseguem entender sequer o básico.
Na psicografia, o que se nota é a corrupção da atividade através de mensagens apócrifas, geralmente redigidas pelo suposto médium, das quais têm sempre o mesmo apelo religioso, a mesma narrativa do sofredor que "encontrou Jesus" (depois vão falar mal dos neopentecostais) que volta ao contato terrestre para "pedir fraternidade".
Na psicopictografia o pintor imita, ou tenta imitar, os estilos dos pintores históricos, em muitos casos com graves falhas estilísticas que apontam fraudes muito pouco sutis, o que nos faz imaginar que tais "médiuns" não servem sequer para serem falsificadores de quadros, de tão ruins imitadores que são.
Na psicofonia o que se observa é a atitude malandra de evocar quase sempre espíritos de pessoas que viveram no século XIX para trás, de preferência que não deixaram registros sonoros, já que é de 1877 a invenção do fonógrafo, o primeiro aparelho que registra a voz humana.
Assim, a suposta psicofonia consiste, na verdade, na criação de um falsete sobre o que se supõe ter sido a foz de um falecido de época longínqua, para que assim ninguém desconfie de que tal voz tenha sido uma imitação humorística.
Imagine alguém imitando, por exemplo, o Abelardo Barbosa, o Chacrinha? Ele dizendo "Alô Teresinha, quem não se comunica com os espíritos, se truuuumbica!! Vamos nos unir na fraternidade em Cristo!! Quem vai levar a peruca do Chico Xavier? Aíííí..."! Seria no mínimo uma paródia, né?
Daí a indagação que muitos fazem: mediunidade ou "mentiunidade"? Infelizmente, não são as calúnias que põem em xeque a veracidade de tais atividades, mas as irregularidades que os próprios supostos médiuns fazem, que o raciocínio investigativo não tem dificuldades de idenfiticar, embora teses acadêmicas cheguem a fazer vista grossa, com suas metodologias duvidosas.
É isso que anda causando muito escândalo e celeumas nos bastidores do "espiritismo" brasileiro, e que está causando medo nos seus líderes, apavorados diante de tantas denúncias e questionamentos, algo inédito em outros tempos, já que os escândalos haviam, e eram muitos e fortes, mas não com a amplitude e a força que aparecem ou reaparecem hoje.
Enquanto isso, as almas do além vivem alheias ao que os supostos médiuns fazem em seu nome e a toda a discussão que acontece nos bastidores e nos fóruns relacionados ao "movimento espírita" no Brasil.
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