Francisco Cândido Xavier prejudicou o país, deturpando a Doutrina Espírita e se valendo de seu prestígio para cometer fraudes e explorar a emotividade das famílias sofridas, alimentando impunemente seu mito que favorece o poderio de uma seita religiosa marcada por sua desonestidade.
Essa desonestidade se observa em tudo que a Federação "Espírita" Brasileira fez "em prol do Espiritismo", na verdade uma sucessão de fraudes grotescas e de traições cruéis à doutrina de Allan Kardec, que, diz uma piada bastante pesada, só aproveita, do Controle Universal do Ensino dos Espíritos, as duas primeiras letras de sua sigla.
Sim, é uma piada bastante agressiva, mas é ilustrativa. Afinal, o "espiritismo" brasileiro aproveitava do lixo rejeitado por Allan Kardec, do que era despejado e estava de acordo com o Catolicismo medieval que os "espíritas" juram de joelhos sentirem severo repúdio, mas do qual aproveitam sua essência trazida pela herança jesuíta do Brasil colonial.
Chico Xavier foi um mito que fez crescer essa forma deturpada, grosseira, que dá pena dizer que é caricata porque a caricatura, pelo menos, guarda algum traço de sua fonte original, embora usada para fins de paródia. Porque o "espiritismo" brasileiro nem de longe soa como um arremedo da doutrina de Kardec, seu distanciamento é tão pleno que é impossível não pensar em ruptura.
É só observar o que a quase totalidade de atividades "espíritas" faz: pregações moralistas sobre a instituição Família e meras divagações sobre problemas emocionais. Nem se pode dizer problemas psicológicos, porque a Ciência não é o forte do "movimento espírita", e Psicologia nem de longe aparece na sua apreciação científica.
Tudo é apenas um religiosismo tosco, espécie de Catolicismo de fundo de quintal, que nada traz da Ciência Espírita nem de outros tipos de ciência. Daí soar risível que um documentário, mero desperdício cinematográfico chamado Data-Limite Segundo Chico Xavier, promova o anti-médium mineiro como "cientista", "sociólogo", "analista político" e até "estrategista geopolítico" (?!).
Chico Xavier era um católico praticante, fervoroso, rezador de terços, adorador de imagens, crente em dogmas medievais, que evocou um jesuíta, o padre Manuel da Nóbrega, que adotou o codinome Emmanuel com base no título "Ermano Manuel" usado em documentos.
Ideologicamente, Chico Xavier era um figurão ultraconservador, que preferia a oração em silêncio do que o ativismo social e que, conforme comprova sua entrevista no programa Pinga-Fogo em 1971, defendeu com entusiasmo a ditadura militar, que o anti-médium alegava estar construindo um "reino de amor e de luz" da humanidade futura. O tal "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".
Isso é grave, em se tratando de um mito cujos seguidores definem equivocadamente como "progressista". Afinal, em 1971, época do AI-5 e de muitos mortos e desaparecidos, metade da direita que defendeu o golpe militar de 1964 passou para a oposição a um bom tempo (até antes do próprio AI-5), e o "progressista" Chico Xavier demonstrava uma fúria golpista assustadora.
Ingenuidade? Não. Chico Xavier era esperto, à sua maneira. Ele era o partidário das orações em silêncio, aconselhava as pessoas a "sofrer amando", e dá para imaginar o Chico Xavier dizendo para os torturados que tomavam choque elétrico com os pés nus num balde de água para terem amor e agradecerem pela "oportunidade" que tiveram na ocasião e se acharem "abençoados".
O grande problema é que muitas "bênçãos", na verdade, eram corpos jogados em lugares quaisquer, que só os torturadores sabiam onde era, apodrecendo os cadáveres com o passar do tempo, virando meras ossadas para a pesquisa posterior de investigadores.
Chico Xavier deturpou a Doutrina Espírita, atraiu fortunas para os chefões da FEB (principalmente o presidente e artífice do mito chiquista, Antônio Wantuil de Freitas, que teria co-escrito, com Xavier, vários livros atribuídos a Humberto de Campos) e explorou a emotividade de familiares de jovens mortos, que viraram atração do sensacionalismo religioso e midiático, tirados de sua sofrida privacidade.
Ele corrompeu a prática mediúnica, que virou um vale-tudo de mensagens apócrifas e tiradas da imaginação de supostos médiuns. O próprio Chico Xavier foi um deles, criando mensagens da própria mente, algo que pode ser verificado com as "cartas" que só têm a sua caligrafia ou, quando muito, com o acréscimo da caligrafia de algum colaborador seu.
E tudo isso é feito para promover um panfletarismo religioso, como reles propaganda igrejista, feita para criar um verniz de bondade e filantropia e acobertar as irregularidades relacionadas, sobretudo, à falsidade ideológica, mas também referentes à incompetência mediúnica dos que não têm concentração suficiente para absorver a presença de espíritos do além.
Infelizmente, o que se entende como "mediunidade" são supostos médiuns fechando levemente os olhos, mas mantendo-os bem abertos o suficiente para enxergar cavaletes para pastiches de pinturas, papéis para falsas psicografias ou microfones para expressar seus falsetes de vozes que os ditos "médiuns" supõem terem sido as personalidades de passado remoto e anterior à popularização do fonógrafo (primeiro aparelho a registrar a voz humana, surgido em 1877).
O verniz de caridade e amor se carregava nas mensagens "fraternais", no amor preso às palavras, no apelo incessante a sentimentos de fraternidade que o "espiritismo" não consegue exercer no silêncio dos atos. Um apelo hipócrita, cujas palavras persuasivas são de uma pieguice enjoativa que causa nojo a muitas pessoas e não resolve as tensões humanas neste mundo turbulento de hoje.
Chico Xavier, o homem das palavras bonitinhas, recheou seus "maravilhosos" livros de erros históricos grotescos, de lições moralistas severas, de misticismo barato, de fantasias surreais, tudo a título de uma falsidade ideológica, se aproveitando da falta de alguma legislação que regulasse o uso póstumo das personalidades do além-túmulo.
Daí que ele prejudicou o Brasil, em muitos e muitos aspectos. E seus seguidores não conseguem trazer argumentos consistentes a favor. Tomados de fanatismo, eles preferem a cegueira da fé que os mantém na zona de conforto da incompreensão de muitas coisas, do comodismo de não questionarem certas coisas e do conformismo de sofrerem o que lhes é imposto, sem queixumes.
Daí que Chico Xavier simbolizou uma doutrina que pregava o conformismo em vez da ação social, a crendice mais subserviente em vez do raciocínio questionador, e usurpava a reputação de Allan Kardec para legitimar coisas que o professor lionês nunca apoiaria.
Só pela exploração leviana das tristezas das famílias e pela usurpação dos nomes dos mortos, Chico Xavier não deveria ser visto como "espírito superior" e, sim, rebaixado a um espírito ordinário que terá que voltar à Terra para resolver suas pesadíssimas dívidas morais. Fora da ilusão das paixões terrenas, Chico voltou à pátria espiritual levando um choque e contraindo um peso na consciência.
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