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Brasil gosta de pôr vinho novo em odres velhos. Evangelho reprova três vezes

 

O Brasil tem uma mania terrível. É a de que, quando acolhe ou produz um fenômeno novo, ele sempre se adapta em relação ao velho fenômeno que deveria superar, mas que se molda praticamente de acordo com ele. Em outras palavras, o novo tem sempre que adequar ao velho, ao superado e ao obsoleto para se fazer valer no Brasil.


É por isso que nosso país não cresce. Em vários âmbitos da sociedade, nota-se sempre o novo sendo "filtrado" pelo velho. Por exemplo, nossa Jovem Guarda suavizou, e muito, a rebeldia do rock original, acolhendo formas até piegas como o rock italiano. 


Em se falando de rock, também vemos as chamadas "rádios rock" também se pautam pelo velho, como as festejadas - tanto como "vacas sagradas" como "arroz de festa" - Rádio Cidade, do Rio, e 89 FM, de Sampa, ambas moldadas num padrão radiofônico conservador, com estrutura e mentalidade de rádio pop e repertório restrito ao hit-parade. E isso com as "rádios rock" contratando para a locução o "lixo" descartado pelas emissoras de pop adolescente.


Nosso feminismo também é duplamente moldado pelo machismo que deveria ter sido superado. As mulheres, como diz o anedotário popular, têm que escolher entre o macho e o machismo. Se elas são muito empoderadas e não se prendem a uma imagem sexualizada de si mesmas, precisam se casar com um homem com alguma função de liderança, geralmente um empresário. Já a mulher que se dispõe a ser um mero objeto sexual, ou seja, a explorar uma imagem determinada pelo machismo, pode ficar solteira à vontade.


E a mobilidade urbana? Fora do aparato fantasioso de ciclovias e pistas exclusivas para ônibus de caráter futurista, dos ônibus articulados de chassis suecos, ar condicionado e tudo o mais, das promessas de trocar os bondes e micro-ônibus de Santa Teresa por foguetes da Nasa etc, há uma lógica militar de fazer inveja a qualquer general de pijamas que atuou na ditadura militar.


E isso já começa com o irritante uso do "uniforme", a chamada padronização visual que irrita milhares de brasileiros que, no entanto, não têm como arrumar tempo para reagir contra isso e tenta o malabarismo de sobrecarregar suas mentes entre pagar todas as contas do mês, memorizar todos os compromissos pessoais e ainda por cima tentar discernir uma empresa de ônibus da outra, evitando o máximo de pegar ônibus errado. 


Essa "mobilidade urbana" (cujo pioneiro foi justamente um prefeito biônico da ditadura militar e filiado originalmente da ARENA, Jaime Lerner, de Curitiba) tem outras tiranias: imposição de cumprimento de horário rígido para percurso de ônibus, impossível em ruas congestionadas, dupla função de motorista e cobrador (que causa acidentes, porque o motorista se divide entre o percurso, a velocidade - cumprimento de horário - e calcular o troco correto).


Só os "busólogos de Neanderthal", vivendo ainda no período anterior à invenção da roda, acham ótimos os ônibus padronizadinhos - daí o apelido "padronizetes" dado por outros busólogos, mais civilizados, que entendem que busologia não é atropelar quem pensa diferente para subir na vida - , é que pensam que só se anda de ônibus por turismo e imaginam o Bilhete Único como um cartão de parque de diversões que permite ir a tudo quanto é brinquedo.


Esquecem eles que os brasileiros que trabalham - não os trogloditas da busologia que se fantasiam de "professores de informática" para xingar os outros de "seu m****" e criar blogs difamatórios que só são vistos por delegados de polícia - têm muitos compromissos pessoais para cumprir, não têm tempo para memorizar a empresa A e a empresa B, não aguentam baldeação o tempo todo e não podem perder tempo por coisa alguma. Em muitas ocasiões, o Bilhete Único não resolve perda de tempo.


Com muita trabalheira, implantamos no Brasil uma cultura forte, projetos políticos progressistas, para tudo ser desfigurado, num prazo curto, médio ou longo, conforme as circunstâncias. Todo um folclore popular foi montado para tudo se reduzir às breguices radiofônicas e a esse ritmo "vergonha alheia" que é o "funk", que intelectuais influentes tentam vender como uma pretensa vanguarda cultural, pela desculpa de que levar pau da crítica e vaias da plateia fossem tornar qualquer um "gênio".


Conquistas avançadas no âmbito da Economia e da Cidadania estão sendo desmontadas, como os direitos trabalhistas. Uma estatal fruto de uma longa luta do povo brasileiro, a Petrobras, está desaparecendo aos poucos. Em nome da "nova política", pautas medievais de neopentecostais, voltadas a valores retrógrados ligados à Família e à Fé, tentam a todo custo prevalecer até nas leis.


Somos um país em que morrem mais famosos de expressivo valor cultural em idade prematura ou no auge de sua atividade (como os já idosos Tom Jobim, José Wilker, Moraes Moreira e Paulo Henrique Amorim). Enquanto isso, se multiplicam subcelebridades e artistas medíocres que acham que precisam de tempo para fazer o que são incapazes de fazer. Esperamos, de braços cruzados, que eles "aprendam com o tempo", mas eles só pioram e confirmam sua incompetência.


Em nome do "novo" que esconde o velho, há muito destruímos coisas que pareciam antigas, mas tinham uma força novidadeira muito grande. Acervos da TV brasileira do passado, bem mais modernos, em criatividade, que os que estão no ar hoje em dia, desapareceram em chamas e desgravação de videoteipes. O Museu Nacional perdeu boa parte do acervo num incêndio em 2018. A Cinemateca Brasileira está ameaçada. E até o acervo da MTV Brasil também. E foi logo a ex-VJ Maria Paula elogiar Chico Xavier, que dá um azar danado na vida das pessoas...


Aliás, já que falamos nele, é por culpa desse "bondoso médium" que o vinho novo do Espiritismo francês foi jogado no odre velho da catolicização. E, como veremos abaixo, o odre velho se estraga, o vinho novo vai embora e o que nos resta é a essência do que há de velho e obsoleto. Não seria diferente no Brasil em que se joga muito vinho novo fora, até com o bebê junto, descartando a mobília nova enquanto aquela que está podre, velha e fedorenta é mantida no porão até não se sabe quando.


O suor e a trabalheira com que Allan Kardec desenvolveu seu trabalho, sofrendo a oposição da sociedade, tendo que responder tantas dúvidas para evitar mal-entendidos, foi jogado fora quando, no Brasil, foi jogado no odre velho da catolicização. Pelo jeito, um odre velhíssimo, datado do século XVI, já furado e mofado e fedido de tão podre em 1884, e em estado ainda pior quando em 1932 esse odre foi adquirido por Chico Xavier.


E aí, o odre velho ficou ainda mais velho, mais apodrecido, mais fedorento. O vinho novo kardeciano foi derramado e desapareceu. Não há uma gota dele no odre podre de Chico Xavier. E o pior é que ele, com aquele aspecto anos 1930, com suas ideias medievais, virou o "dono do nosso futuro", postumamente promovido a um pretenso profeta, dentro de procedimentos que deixariam o pedagogo de Lyon extremamente envergonhado.


E é isso que se ocorre. O Brasil é o país do odre velho, que de tão velho torna-se odre podre. E não é só a direita bolsonarista que, em nome da "nova política", recicla o velho, nem o Partido Novo (este com o odre velho do seu projeto político ultraliberal) nem o PSDB que também se travestem de "modernos", mas mesmo a esquerda que exalta o "funk", exalta Chico Xavier, exalta "sertanejos" e ônibus padronizados que também adoram enfiar coisa nova num odre apodrecido que tão cedo se arrebenta e faz quebrar, se dissolver ou derramar a coisa nova.


Em três vezes, o Novo Testamento, considerado o Evangelho de Jesus Cristo, já fala que não se pode colocar vinho novo em odre velho. As passagens descritas nos Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas são muito semelhantes, talvez pelo conselho de que não devamos acolher coisas novas e condicioná-las ao que já caducou.


E isso é vergonhoso. Um conselho dado três vezes que não fez evitar o Catolicismo medieval, que já deturpou e desfigurou os ensinamentos de Jesus, e, agora, permite que se ocorra o mesmo com o Espiritismo, acolhendo as ideias medievais de Chico Xavier, que defendia, em sua obra doutrinária, até a precarização do trabalho, ele que era adepto da Teologia do Sofrimento.


Até parece que o "médium" é um dos autores da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, a Lei da Reforma Trabalhista. Reivindica-se a co-autoria do "bondoso médium" nessa lei, até porque, se vivo estivesse, Chico Xavier teria apoiado o golpe de 2016, Michel Temer e Jair Bolsonaro.


EVANGELHO DE SÃO MATEUS, CAPÍTULO 9, VERSÍCULOS 14-17:


"Depois o procuraram os discípulos de João, e lhe perguntaram: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Porém dias virão, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; de outro modo arrebentam os odres, e derrama-se o vinho, e estragam-se os odres. Mas vinho novo é posto em odres novos, e ambos se conservam".


EVANGELHO DE SÃO MARCOS, CAPÍTULO 2, VERSÍCULOS 18-22:


"(Ora os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando.) Eles vieram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo que têm consigo o noivo, não podem jejuar. Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o noivo, nesses dias jejuarão. Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; de outra forma o remendo novo tira parte do velho, e torna-se maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho fará arrebentar os odres, e perder-se-á o vinho, e também os odres. Pelo contrário vinho novo é posto em odres novos".


EVANGELHO DE SÃO LUCAS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULOS 33-39:


"Disseram-lhe eles: Os discípulos de João jejuam freqüentemente, e fazem orações; assim também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem. Jesus disse-lhes: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias, porém, virão, dias em que lhes será tirado o noivo, nesses dias hão de jejuar. Propôs-lhes também uma parábola: Ninguém tira remendo de vestido novo e o põe em vestido velho; de outra forma rasgará o novo, e o remendo do novo não condirá com o velho. Outrossim ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho novo arrebentará os odres, e ele se derramará, e estragar-se-ão os odres. Pelo contrário vinho novo deve ser posto em odres novos. Ninguém que já bebeu vinho velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom".

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