EXISTEM PEREGRINOS E "PEREGRINOS".
Imaginemos o seguinte problema. Um pai de família "espírita" fica irritado com tantas despesas a pagar. De repente, tem que pagar, pelo menos, R$ 20 mil para um simples tratamento de saúde do filho. Furioso, ele ralha com os filhos porque eles não conseguem obter um emprego, mesmo que eles se esforcem para procurar um e não conseguem resposta, e mesmo quando eles estudam muito para um concurso e não conseguem passar (talvez porque algum "robô" que lê a ficha de respostas tenha sido "manipulado" por algum espírito obsessor, né?).
É fácil dar bronca a quem está no lado de baixo. É fácil passar perto de um sem-teto e resmungar "vá trabalhar, seu vagabundo". Facílimo. Mas ninguém cobra dos empregadores que concedam emprego para os necessitados. E, no caso dos "médiuns espíritas", ninguém reclama por eles fazerem viagens pomposas e extravagantes para fazer palestras onde ninguém dá ouvido a eles, como o mundo desenvolvido.
Os pais se enfurecem quando seus filhos ficam o tempo todo escrevendo blogs e fazendo vídeos de influência digital. Ficam irritados quando os filhos leem revistas de cultura, se prendem a hobbies que, supostamente, não dão futuro na vida e não gostam de ver os filhos questionando os problemas da sociedade, porque "vivemos num mundo cão e é impossível mudar as pessoas".
É aquela coisa de falar mal do argueiro nos olhos de quem está embaixo, mas aceita a trave nos olhos de quem está em cima. Se um pai fica furioso porque os filhos recebem mesada "sem serventia", o mesmo não se indigna, mas fica até feliz quando um "médium espírita", não bastasse viajar em boas companhias aéreas para a Europa, cobra até mesmo US$ 1.600 por palestras "espíritas" que só falam de temas banais como "é fácil conseguir a felicidade".
Não existe almoço grátis, e muito menos o almoço "espírita". Alguém acredita mesmo que o dinheiro todo dos eventos "espíritas" vai todo para os pobrezinhos? Quanta ingenuidade. Se vemos, nas casas "espíritas", pessoas empolgadas além da conta porque arrecadaram uma grande soma de dinheiro e donativos, será mesmo que é por causa dos miseráveis?
Não é da natureza humana se empolgar demais com o dinheiro que vai para as mãos dos outros, mesmo os pobres. Um altruísta autêntico é mais discreto e não tem a reação espalhafatosa dos "espíritas". Se ele doa muita coisa aos pobres, o verdadeiro altruísta é comedido: tem uma alegria de satisfação mas reage apenas dentro de si, de sua consciência, sem fazer comemorações o tempo todo.
Se existe muita comemoração, muita festa, desconfiemos. É aquele ditado, adaptado: quando a esmola é demais e o entusiasmo está além da conta, o santo desconfia. Claro, o santo católico, não o "espírito de luz espírita" que fica feliz com o dinheiro que, às escondidas, vai para os dirigentes "espíritas", enquanto os donativos são selecionados e parte mais valiosa deles vai ser revendida em mercadinhos e brechós de gente amiga dos religiosos.
Os adultos e idosos que seguem o "espiritismo" brasileiro possuem ilusões e fantasias muitíssimo piores do que os dos filhos e netos "irresponsáveis" que ficam se "entretendo" na Internet. Estes jovens, em muitos casos, nem veem fake news, mas os pais, tios e avós ficam lendo livros fake de Francisco Cândido Xavier, nos quais os nomes de personalidades como Auta de Souza e Jair Presente "perdem a individualidade" e retornam com o estilo rigorosamente pessoal do "médium".
Os adultos e idosos se enfurecem quando seus descendentes ficam escrevendo sobre heróis de quadrinhos e seriados de televisão, mas se rendem a bobagens mistificadoras como "crianças do além" de Chico Xavier e "crianças-índigo" de Divaldo Franco, verdadeiras visões discriminatórias, apesar de toda retórica "positiva", de crianças e jovens que destoam da mediocridade normal para terem uma inteligência bastante refinada.
Um pai se enfurece quando têm que pagar R$ 20 mil de despesa para um filho, mais outros R$ 1 mil em despesas diversas para o rapaz, mas se maravilha quando Divaldo Franco faz uma excursão viajando nos melhores aviões para a Europa, tirando o dinheiro que deveria ser da caridade e sustentado pela Federação "Espírita" Brasileira e Federação "Espírita" do Estado da Bahia, só para falar bobagens igrejistas para uma minoria de fariseus, em palestras caríssimas.
Quanta gente no Brasil se acha amadurecida, esclarecida e segura, ou, quando a coisa pesa, se diz "dotada, sim, de muitos erros e imperfeições", investindo numa "carteirada por baixo", esquecendo das traves que cegam um dos olhos, dando a falsa impressão de um dos olhos se julgar enxergar por dois? A cegueira dos adultos e idosos é pior do que a das crianças e adolescentes, porque estas estão num nível de inexperiência e aprendizado iniciantes, assim como são inocentes em muita de sua ignorância.
Os adultos, que aprenderam ideias e acumularam tempos de vivência, é que se tornam piores, quando se apegam a fantasias religiosas. Reagem rispidamente, pior do que o pior dos delinquentes, quando falam que Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram fraudes e sempre foram reacionários. Mesmo com uma fartura de provas e de fontes genuínas, os adultos e idosos, tomados da pior das cegueiras, ainda perguntam "Quem foi que disse isso?", e ainda não aceitam as respostas, mesmo sendo elas cuidadosamente verídicas e objetivas.
E quantas demonstrações de estupidez não podem haver nos "espíritas", mais até do que a dos "neopenteques", que já é por demais excessiva? Quanto terraplanismo não há nos adultos e nos idosos, que só porque pagam as contas, se acham isentos de qualquer engano grave? Quanto fanatismo por Chico Xavier e Divaldo Franco mal disfarçado, pela vergonha de suportar graves consequências, pela desculpa da "admiração equilibrada a homens imperfeitos, porém bons"?
Hoje as religiões "neopentecostais" são a vidraça da fé religiosa. Mas esquecemos que os "espíritas" também cresceram junto com os "neopenteques" no financiamento institucional da ditadura militar, que, vendo que os católicos estavam atuando na oposição à opressão militar e as religiões muçulmanas e afro-brasileiras poderiam aglutinar o povo para mobilização social forte, teve que patrocinar mistificadores como Edir Macedo, R. R. Soares, Divaldo Franco e Chico Xavier como símbolos de um diversionismo litúrgico e messiânico.
No momento, o canto-de-sereia dos feiosos "médiuns" ainda consegue destapar os ouvidos, abrir os olhos e desamarrá-los de mastros os Ulisses desprevenidos nas suas odisseias brasileiras, convidando-os a se afogarem na perdição da mistificação astral, iludidos com a suposta beleza que religiosos de aparência repulsiva dizem possuir por dentro.
Mas, dentro de suas almas, os "médiuns" ainda são muito mais feiosos do que suas aparências físicas, pois eles defendem valores religiosos medievais que os brasileiros, acostumados a tentar tomar vinho novo em odre velho - impossível, porque o odre se rasgou e o vinho foi derramado, sobrando apenas restos apodrecidos pelo contato com o tecido - , não conseguem perceber nem entender.
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