Para os que acham o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier um "grande líder", há uma série de posturas bastante insólitas e interpretações das mais risíveis. É claro que Chico Xavier nunca seria um líder de fato, ele nunca teve essa vocação de liderança para coisa alguma, mas seus seguidores, infantilizados, querem que ele lidere sempre tudo, ou pelo menos algo que acreditam ser de sua competência.
O que ele fez ao Espiritismo brasileiro é altamente vergonhoso. E a reputação que ele alcançou com isso se torna mais vergonhosa ainda, porque neste caso ficou fácil alguém ser alçado a semi-deus errando muito, cometendo fraudes, omissões, vacilos, contradições, posturas tendenciosas e tudo de ruim, mas associado a tudo de bom que existe na Humanidade na Terra.
Sejamos sinceros. Chico Xavier é alvo das mais pérfidas e fúteis paixões terrenas humanas. É a desculpa que a hipocrisia humana encontrou para gostar de um velhinho humilde e ignorante, o que garante camuflar os pesos nas consciências daqueles que naturalmente odeiam velhos, pobres e ignorantes.
Sim, porque boa parte dos seguidores de Chico Xavier jogam seus pais no primeiro asilo que encontram pela frente, dão esmolas para pedintes fazendo cara de nojo e gritam para pessoas pobres que lhes perguntam as coisas mais triviais. E, no caso dos homens, são aqueles que adorariam atirar suas sogras do alto de uma ponte.
Num país sem filósofos, as pessoas recorrem ao Chico Xavier, uma espécie de "coringa" de um jogo de cartas marcadas. E isso vindo de classes abastadas e instruídas, que na falta de um Platão, de um Aristóteles, de um Hegel, de um Rousseau, colocam frases de Chico Xavier nas mídias sociais e dizem que aquilo é "filosofia".
Chico Xavier, o maior ídolo das paixões terrenas, voluptuosamente idolatrado pelos seus seguidores, é também idealizado e manipulado conforme as circunstâncias, tudo para que se atribua a ele a imagem de um "líder", num país em que se mexe com as palavras como quem mexe numa massa de modelar, transformando corrupção em transparência.
Por exemplo, se Chico Xavier participou de fraudes de materialização, assinando atestado para "legitimá-los", seus seguidores inventam que ele foi "forçado da fazê-lo", ou ele "foi enganado pelos fraudadores".
Para os desavisados de plantão, as fraudes de materialização consistiam em colocar travesseirinhos ou modelos humanos sob cobertores brancos e colar fotos recortadas de personalidades falecidas, ou de fotos de anônimos tiradas de álbuns de recordações. Registros apontam que essas atividades eram muito comuns no Brasil entre 1921 e 1979, quando se fez a fraude usando até foto de Herculano Pires, uma pessoa que reprovaria com veemência tais práticas.
Eram épocas em que se podia fazer isso e se usava uma máquina fotográfica ruim, que só tirava em preto e branco, para fazer um registro de péssima qualidade, para evitar que se fizesse alguma averiguação mais cuidadosa. De John Kennedy a Irma "Meimei" de Castro, todos viraram "cabeças-de-papel" com essas falsas materializações.
Só que acreditar que Chico Xavier foi "tapeado" pelos fraudadores contradiz sua suposta qualidade de líder. Como um líder pode ser tapeado, enganado nas entranhas, ainda mais que, no caso de Otília Diogo, que não usava "cabeças-de-papel", mas fazia ilusionismo usando vestes de freira encapuzada (a falsa Irmã Josefa), o anti-médium conversava com os envolvidos nos bastidores?
Há muitas contradições que, se observadas com cautela, simplesmente anulam qualquer hipótese de atribuir a Chico Xavier uma qualidade de líder, fosse qual fosse o pretexto relacionado. Isso porque qualquer hipótese sempre aponta para uma falta de lógica e coerência.
Se Chico Xavier cometeu sérios erros, ele não poderia ser líder porque é uma pessoa despreparada para tal, devido a suas falhas graves que não podem servir de exemplo algum para as pessoas. Mas se ele os cometeu sem querer, sob a influência de terceiros, mesmo assim não pode ser um líder, porque teve falta de firmeza e aceitou qualquer cilada sem saber a armadilha em que caiu.
Se Chico Xavier era ignorante, ele não poderia ser líder pela falta de conhecimento em História e Geografia Humana, constante em seus livros e depoimentos. Se ele era tido como sábio, não podia ser líder justamente por esses mesmos motivos.
Ele era um católico que foi empurrado para assumir o Espiritismo sem entender bulhufas do que Allan Kardec pensava. E, mesmo assim, Chico Xavier foi tido não só como "o maior líder da Doutrina Espírita" e, mais grave ainda, sua reputação ainda ultrapassa os limites da religião "espírita" tentando atrair a simpatia de outras crenças, ou mesmo de agnósticos e (com mais dificuldade) ateus.
Chico Xavier não pode ser considerado líder de coisa alguma porque em dado momento ele falha em ideias, decisões, pontos-de-vista e tudo o mais. Seja ele apoiando ou decidindo por erros graves que mancham a Doutrina Espírita no Brasil, seja ele sendo usado por terceiros para tais erros, Chico Xavier não podia ser líder porque, no primeiro caso, ele decidiu mal, e, no segundo, ele sucumbiu a decisões alheias.
Só mesmo a fé cega e todas as fantasias idealizadoras dos chiquistas é que colocam Chico Xavier como líder de uma maneira ou de outra. Usam desculpas mais estapafúrdias, usando sobretudo do famoso discurso da contradição, tão famoso e que fazia o anti-médium ser endeusado através das dicotomias como ignorância/sabedoria, silêncio/voz, pobreza/riqueza, fraqueza/força, infortúnio/triunfo, verdadeiras conversas para chiquista dormir.
Só isso revela o quanto Chico Xavier tornou-se mito através da contradição. E contradição não é coerência, não dá para fazer sequer um único esboço de coerência em sua personalidade. E o mito de Chico Xavier só serve para camuflar outra famosa dicotomia, os complexos de superioridade e de inferioridade que atinge uma parcela influente de brasileiros.
Pois são as pessoas que odeiam pobres, idosos e iletrados, movidas pelo seu orgulho, mas que também odeiam a coerência e o raciocínio questionador, movidas pela sua falsa modéstia, que fazem Chico Xavier com tantos erros, falhas e defeitos ser visto como "líder". Tentam buscar perfeição numa pessoa que foi cheia de falhas, muitas delas graves. Uma busca feita em vão.
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