Existem certas coisas que os desinformados internautas brasileiros, que tentam brigar com os fatos achando que a verdade está em suas mãos, precisam saber. Uma é a afinidade de sintonia, sobretudo pelos aspectos comuns existentes, ainda que não declarados, entre uma pessoa e outra.
Muitos brasileiros estão assustados com a ideia de que Francisco Cândido Xavier foi um reacionário convicto. Baseados numa narrativa que prevalece nos últimos 40 anos, na qual Chico Xavier é abordado como se fosse uma fada-madrinha do mundo real, as pessoas não são capazes de admitir que Chico Xavier defendeu a ditadura militar e até o AI-5, e suas ideias refletiam pautas reacionárias, como a reforma trabalhista e a "cura gay", explicitamente defendidas em livros e depoimentos.
Devemos chamar a atenção das pessoas que a constatação de direitismo de Chico Xavier não é uma questão de opinião. São fatos, e que possuem provas robustas das mais diversas. A liberdade de fé não autoriza jamais que se fique brigando com os fatos, só para proteger ideias agradáveis, que podem parecer até bem intencionadas, mas não passam de pura fantasia.
A origem social de Chico Xavier foi conservadora. Sua formação ideológica também. A Minas Gerais interiorana de 1910 não permitiria que se nascessem figuras progressistas como capim crescendo na relva. E o pensamento ultraconservador de Chico Xavier foi expresso até mesmo no programa de grande audiência Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971.
Alguém em sã consciência acharia que Chico Xavier iria expressar seu ultraconservadorismo "sem querer" para um grande público de um programa visto em todo o Brasil, cujo registro foi preservado para a posteridade, visto por milhares e milhares de internautas? Ele faria isso à toa ou por impulso? Não. Para desespero de muitos, Chico Xavier apoiou a ditadura militar com exata consciência de seus atos e com uma convicção que desafia qualquer pensamento desejoso que tente desmentir, mesmo sob o aparato de tese acadêmica.
DIREITISTAS SÃO MAIS TRANQUILOS NA APRECIAÇÃO A CHICO XAVIER
A confirmação do direitismo de Chico Xavier se dá quando, no embate ideológico entre direitistas e esquerdistas que declaram admirar o "médium", a direita acaba levando a melhor. São os direitistas que seguem Chico Xavier os mais tranquilos e serenos, porque sabem da afinidade ideológica com o "médium" e levam a melhor nos argumentos, bastante lógicos e realistas.
Por outro lado, quem tenta desmentir o direitismo de Chico Xavier fica mais nervoso, tenta lutar contra a realidade, usar argumentos para brigar permanentemente contra os fatos, criar arremedos caricatos de monografias em seus blogs, no desespero paranoico de ficar com a palavra final.
Por sorte, muitas pessoas desinformadas e burras conseguem usar do aparato da argumentação, à maneira dos antigos sofistas, porque podem usar, até certo ponto, o malabarismo das palavras. Mas quando a retórica se esgota, esse pessoal parte para as xingações, ou seja, "partem para a ignorância".
Os chiquistas são bolsonaristas por tabela. Chico Xavier defendia a reforma trabalhista, sobretudo itens como a redução salarial, o trabalho exaustivo e a prevalência do negociado sobre o legislado nos acordos entre patrões e empregados (o "médium" adoraria isso, porque iria dizer que os acordos seriam regulados apenas por Deus). Chico também defendia a aceitação da desgraça humana, com base no que havia de mais medieval no Catolicismo da Idade Média, a Teologia do Sofrimento.
A grande ironia é que os "não-bolsonaristas", sobretudo os que se dizem de esquerda, que tentam a todo costo desmentir o direitismo de Chico Xavier, tentam de tal forma lutar contra os fatos com sua mania de argumentar o que não é lógico, que mesmo os ditos progressistas que assim agem acabam se tornando reacionários.
Essas pessoas se tornam reacionárias porque deixam passar algum moralismo oculto que desmascara muito esquerdista de fachada. Sabemos, por exemplo, que muitas mulheres que se dizem "feministas de esquerda" foram desmascaradas quando, tentando defender as siliconadas do "funk", diziam que a condição de mulher-objeto era "a única opção de feminismo (sic) viável para as mulheres pobres", sob o pretexto de "brincar com os instintos machistas dos homens".
Há muito progressista de fachada, muito bolsomínion escondido sob o coral do "Lula Livre". Gente que se diz "sinceramente esquerdista", sobretudo no âmbito "identitário" - ou seja, nos valores sócio-culturais, que envolvem comportamento, música, esporte, religião etc - , mas que em dado momento mostra surtos moralistas dos mais retrógrados. Tem gente que se diz contra a reforma trabalhista mas, quando vê trabalhadores pedindo redução de jornada de oito para seis horas diárias, vai logo chamando-os de "vagabundos".
"PROTEÇÃO" A MICHEL TEMER E JAIR BOLSONARO
As afinidades de sintonia de Chico Xavier e Jair Bolsonaro são evidentes. Ambos tiveram um histórico arrivista semelhante, se ascenderam da mesma forma. Chico Xavier se ascendeu causando muita confusão com seus livros "psicográficos" que, num apelo sensacionalista, usava nomes de grandes escritores, concretizando uma ameaça alertada com antecedência por Allan Kardec a respeito dos "usos de nomes ilustres para promover mistificação".
Comparemos as repercussões de Xavier e Bolsonaro, respectivmente, com a literatura fake e o plano de atentados terroristas. As coincidências são demais para não haver vínculo entre eles. Ambos causaram confusão com tais circunstâncias, irritaram especialistas ou autoridades do seu meio, e foram ao banco dos réus, recebendo apenas punições leves.
Chico Xavier apenas não pôde mais usar, de maneira externa, o nome de "Humberto de Campos", criando o "Irmão X" que só era creditado (como um fake aceito por todos) ao nome do autor maranhense dentro das "casas espíritas".
Jair Bolsonaro apenas não pôde mais seguir a carreira militar. Ele, que era tenente, recebeu uma promoção simbólica de "capitão", cargo no Exército que Jair nunca desempenhou, porque foi obrigado a se aposentar sob esta condição.
A partir das respectivas sentenças, Chico Xavier e Jair Bolsonaro tiveram um caminho para sua ascensão meteórica, o primeiro como um dublê de filantropo, o segundo como um dublê de legislador. Ambos encontram afinidades siamesas dentro de um cenário de retomada conservadora respectiva, em 1964 e 2016.
Chico Xavier, na famosa declaração no Pinga Fogo, esculhambou os movimentos dos trabalhadores urbanos e rurais, manifestou repúdio enérgico ao comunismo, exaltou a ditadura militar e disse que o AI-5 e a violência (tortura) eram necessários porque, a seu ver, combatiam o caos e o radicalismo dos opositores da ditadura militar.
Sim, isso mesmo, o "amoroso" Chico Xavier exaltando a repressão militar! Ele não faria isso à toa, falando isso para um público gigantesco, em gravação que seria registrada para a posteridade. E, além disso, Chico Xavier compareceu à homenagem dada a ele pela Escola Superior de Guerra, em 1972, o que diz muito da afinidade desta instituição - apelidada nos meios militares de "Sorbonne" - , que planejou o golpe militar e o projeto político ditatorial, com o "bondoso médium".
O que os ingênuos esquerdistas e os "isentões" ignoram é que ninguém homenageia uma pessoa a contragosto, da mesma maneira que ninguém é homenageado à força. É lamentável que haja até acadêmicos, como pós-graduando Ronaldo Terra, que com sua tese Fluxos do Espiritismo Kardecista no Brasil: Dentro e fora do continuum meidúnico, publicada em 2011, apostou na tese risível de que Chico Xavier "apoiou a ditadura militar sem apoiá-la".
O que Chico Xavier fez foi gravíssimo, porque queria salvar sua pele e, sob a desculpa de "continuar seu trabalho espírita (sic)", ficou ao lado dos opressores. Ou seja, de que adianta associar a imagem do "médium" à não-violência, embora fosse verossímil o repúdio do "médium", por exemplo, ao armamento da população, se ele, ao apoiar a ditadura militar, esteve do lado dos opressores e não dos oprimidos?
É por isso que há o "espiritismo de direita", um fenômeno subestimado que desmascarou nomes como Carlos Bacelli e Divaldo Franco, embora muita gente ignore que, se Chico Xavier estivesse vivo, ele estaria, com toda a certeza - e com base em dados e não no pensamento desejoso (wishful thinking) - , apoiando todo o golpe político que se deu de 2016 até agora.
Isso é tão certo que, nos últimos anos, até parece que os envolvidos nesse cenário estão com a sorte grande. Como há muita sintonia entre os valores defendidos por Chico Xavier - como o trabalho exaustivo, a conformação com a desgraça humana pelos oprimidos e a"cura gay" - , são os governos retrógrados de Michel Temer e Jair Bolsonaro que acabam tendo sorte, apesar dos escândalos.
As esquerdas é que ficam nervosas, lutando contra os fatos, brigando contra a realidade, tentando blindar um Chico Xavier que condena as pautas esquerdistas. Se baseiam em ideias soltas e vagas sobre a "caridade", ignorando que a "caridade" de Chico Xavier sempre foi fajuta como, hoje, os quadros do Caldeirão do Huck, e algumas alegações emotivas exageradas e piegas, e aí acabam caindo em contradição ao endeusarem um religioso reaça.
Enquanto muitos idiotas "progressistas" ficam acreditando que Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho seria a "profecia de um Brasil progressista", na ilusão de ver que, sob o rótulo do "espiritismo", a fusão entre Religião e Estado só daria num mutirão mundial, Jair Bolsonaro entendeu o sentido da frase e, na prática, adaptou o termo de Chico Xavier para o vocabulário raso dos bolsomínions: Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos.
Se as esquerdas romperem com Chico Xavier, o azar que contraem com isso poderia se dissolver. A ideia não é guardar no armário a sua adoração cega a um reacionário religioso. A ideia é romper, aprender a dizer "estou decepcionado com Chico Xavier", uma frase que soa dolorosa e absurda para muitos, mas é necessário que seja pronunciada por um maior número de pessoas.
Allan Kardec dá um estímulo, ele que anteviu a deturpação do Espiritismo nas mãos de Chico Xavier, que em vida foi um católico dos mais ortodoxos. Vejamos o que diz O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 10 - Bem Aventurados os Misericordiosos, item III - É Permitido Repreender os Outros, questão 21:
21 – Há casos em que seja útil descobrir o mal alheio?
Esta questão é muito delicada, e precisamos recorrer à caridade bem compreendida. Se as imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não há jamais utilidade em divulgá-las. Mas se elas podem prejudicar a outros, é necessário preferir o interesse do maior número ao de um só. Conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem suas vítimas. Em semelhante caso, é necessário balancear as vantagens e os inconvenientes.
Há mais inconvenientes, para o lado dos progressistas, nas ideias de Chico Xavier. A aceitação do sofrimento em silêncio, a conformação com o trabalho exaustivo mediante baixa remuneração, a submissão hierárquica rígida etc. Não há uma pauta progressista que se encontre em sua obra. Além disso, o vínculo de Chico Xavier com o "espiritismo de direita" é certeiro e comprovado, e ele seria um dos mais direitistas do "movimento espírita", se estivesse vivo. E isso se comprova com fatos e com a lógica e a razão.
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