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Não dá para desvincular Chico Xavier do ultraconservadorismo político



Muitos têm medo de questionar Francisco Cândido Xavier. A divinização do deturpador popularmente conhecido como Chico Xavier é confusa, sobretudo diante do modismo de dizer que "médiuns também erram muito" (mas não podem ser responsabilizados por isso), mas ainda assim estranhamente persistente e ocorrida ao arrepio das recomendações kardecianas mais urgentes.

Há uma nova página, "Chico Xavier à Luz das Provas", que surge para mostrar, com provas e argumentações consistentes, as irregularidades do "médium". Mas as pessoas têm muito medo de caírem nas nuvens. Os chiquistas, alguns "não-sectários" (eles se "gabam" em dizer que "não são espíritas"), até falam em "tirar o médium do pedestal", mas arrumam sempre um altar particular para ele, mesmo sob a desculpa de uma "admiração saudável a um homem de bem".

Dessa maneira, Chico Xavier é o único brasileiro que é dominado e moldado conforme o pensamento desejoso. Astro de uma religião duvidosa cujo verdadeiro precursor, Jean-Baptiste Roustaing, estranhamente não tem seu rosto divulgado, permitindo que os brasileiros cultuem um "roustanguismo sem Roustaing e com Allan Kardec", o "médium" mineiro é sempre abordado por ideias agradáveis, embora fantasiosas.

Não temos no mercado o urgente livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, uma preciosidade do jornalismo investigativo que o jornalista Attila Paes Barreto lançou em 1944, mas, enquanto isso, temos uma enxurrada de livros idiotas de "histórias lindas", "lindos casos" e a interminável série da "data-limite" na qual um livro inspira um documentário, que inspira um livro que inspira outro documentário do qual se publica um outro livro etc.

Há um medo muito grande entre as pessoas que estabelecem simpatia por Chico Xavier e seu pavor, a níveis negativamente infantis, de questioná-lo e investigá-lo está numa de suas maiores carteiradas que o "médium" lançou em toda sua vida, a de supostamente "falar com os mortos", o que faz muitos terem medo de serem amaldiçoados pelas almas do "outro mundo" se questionarem seu suposto mensageiro.

Poucos admitem que Chico Xavier nunca foi mais que um arrivista o qual sintetizava três figuras de valor ético bastante duvidoso. Como Aécio Neves (que admira o "médium"), Chico contava a seu favor a ampla blindagem de pessoas importantes e a esperteza típica do "mineiro que come quieto". Como Luciano Huck (que admira o "médium"), Chico se blinda com um arremedo de "caridade" que se tornou outra de suas grandes carteiradas.

Já como o presidente Jair Bolsonaro, Chico Xavier se compara com o passado arrivista. Jair se ascendeu ao revelar um plano de atentado - que atingiria uma rede de abastecimento de água e vários quartéis no Rio de Janeiro - nos anos 1980, que irritou vários oficiais experientes, ainda que ligados à ditadura militar. Chico também causou confusão, através de supostas "psicografias" literárias que causaram revolta entre escritores e críticos muito experientes.

A defesa explícita de Chico Xavier à ditadura militar, a ponto de julgar que o AI-5, a repressão e a tortura eram "necessários" para "combater o radicalismo da oposição", é algo que assusta os chiquistas, de forma que eles tentam sempre usar o pensamento desejoso para relativizar esse apoio escancarado, mesmo quando o "médium", contrariando o que se esperaria de um humanista, compareceu com gosto para receber homenagens de eventos ligados à ditadura.

Tentam alegar que Chico "teve o impulso do momento", e as declarações recebem acusações escalafobéticas e sem pé nem cabeça como "Chico recebia ordens do 'ponto' da direção do programa" - "ponto" é um pequeno fone no qual a direção e a produção mandam recados para alguém que está no palco de um programa de TV - ou que "Chico foi obsediado por maus espíritos".

As pessoas não conseguem dar uma única justificativa que preste, mas seu relativismo, tendo o objetivo de sempre manter aspectos agradáveis do "médium" mineiro, sempre zelado e protegido pelas utopias do pensamento desejoso, se impõe assim mesmo, até nos últimos tempos, em que virou moda dizer que "os médiuns são imperfeitos e também erram". Deveriam reescrever essa frase como "os médiuns são imperfeitos, também erram e shallow now", para o ridículo ficar completo.

CHICO XAVIER FOI ULTRACONSERVADOR, SIM

Citamos isso diante do day after das passeatas pós-Bolsonaro que ocorreram no último domingo. E a ideia de associar Chico Xavier ao ultraconservadorismo, hoje representado pelo governo do "capitão", incomoda muita gente, que se encanta com o "médium" posando, tendenciosamente, ao lado de crianças e senhoras pobres, mas nunca leu um livro dele.

Se alguém tiver a coragem de ler, com uma atenção bastante redobrada, os livros de Chico Xavier, achando que são grandes manuais de progressismo, ficará chocado diante de tantas ideias reacionárias contidas nessas obras. Até mesmo o trabalho servil e exaustivo era uma das "bandeiras" do "médium", que sempre apelava para pessoas cansadas numa pesada jornada profissional a continuarem trabalhando e ficarem na prece. Difícil é dividir a atenção mental para a oração e para a execução de uma tarefa difícil.

As pessoas se irritam com as comparações entre Xavier e Bolsonaro, mas deveriam prestar atenção nas ideias, que são análogas. A única diferença é que Xavier não pregava ações violentas e rejeitaria o "decreto das armas". Mas isso não faz do "médium" uma figura progressista e, além do mais, os seguidores de Chico Xavier são confirmadamente pessoas violentas, porque essa é a reação natural para quem vive no transe religioso, que é o efeito da adoração mórbida dada a ele.

Se Chico continuou apoiando a ditadura militar, em 1971 e 1972, quando boa parte da direita brasileira que pediu o golpe de 1964 havia rompido com o regime, podemos garantir que, se o "médium" vivesse hoje, ele teria apoiado a campanha de Bolsonaro e estaria continuando a apoiar o seu governo. Tanta gente que nem parecia reacionária apoiou Jair Bolsonaro, como é muitos consideram "impossível" um "médium" abertamente reacionário apoiá-lo?

Temos que abrir mão das paixões religiosas, parar de sonhar com "médiuns" surgindo de dentro de rosas ou com as cabeças voando em céus azuis, como balões. Ou então imitarmos a narrativa de Peter Pan e voarmos atrás de Chico Xavier para a "Terra do Nunca" de Nosso Lar. Se temos medo de ver algum questionamento focado no "bondoso médium" e que comprometesse seriamente seu mito, então temos sérios problemas psicológicos e não sabemos.

É necessário, portanto, fazer um exame escrupuloso nos instintos emocionais das pessoas, porque vemos muita gente adulta e idosa perdida em ilusões fantasiosas, sem saber. A fascinação obsessiva por Chico Xavier é uma doença que não pode ser curada com declarações do tipo "não vamos ver os médiuns como deuses, mas como figuras boas, porém imperfeitas". Ela deve ser curada com cautela, com a consciência de que o idolatrado é o maior deturpador da História do Espiritismo.

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