Pular para o conteúdo principal

Por que as forças progressistas mantém o "espiritismo" brasileiro intocável?

DOM ODILO SCHERER, SILAS MALAFAIA E DIVALDO FRANCO - O último é mais blindado que político do PSDB. Nem as esquerdas mexem nele.

A mídia progressista, que tem a missão de servir de contraponto à mídia hegemônica e patronal, até tem muitos avanços na investigação e na garimpagem de informações. Apontam os lados sombrios do chamado mainstream da política, da mídia e da imprensa, além dos meios empresariais e tecnocratas associados e de pessoas comuns ou quase isso também solidárias ao meio.

No ramo da religião, capricham nos questionamentos aprofundados em relação às chamadas igrejas evangélicas, de seitas conhecidas como "neopentecostais", como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Assembleia de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus. Figuras como Edir Macedo, Silas Malafaia, Marco Feliciano e outros são alvos de investigação ou questionamentos. Em certos momentos, católicos também são alvo de questionamentos e investigações.

Mas quando o caso são os "espíritas", reina um silêncio sepulcral. Por que será? Medo dos mortos assombrarem as redações esquerdistas? Ou seria uma certa complacência com os chamados "médiuns", que adotam um discurso adocicado e têm a boca encharcada de mel, e cuja imagem de propaganda é associada a cenários maravilhosos como paisagens floridas, céu azul e crianças sorrindo e brincando.

O "espiritismo" brasileiro é uma religião ultraconservadora. Abandonou as lições de Allan Kardec em prol de uma recuperação de dogmas e princípios que vigoraram no Brasil colonial através dos católicos jesuítas, e isso é tão certo que um antigo padre jesuíta, Manuel da Nóbrega, foi evocado por um devoto católico adotado pelos "espíritas".

Atualmente os "espíritas" estão fazendo apologia ao sofrimento. Defenderam um golpe político em 2016, apoiam a Operação Lava Jato, o Movimento Brasil Livre, e as reformas trabalhista e previdenciária. Fazem mil pregações pedindo aos sofredores aguentarem tudo calados, sem queixumes, conformados e orando em silêncio.

O "espiritismo" brasileiro tornou-se uma versão mais modesta da Cientologia. Lá fora, a Cientologia - que tem os mesmos devaneios esotéricos dos "espíritas" e só diferem destes pelo excesso de ritos e outras frescuras - é investigada pela imprensa e existem documentários mostrando irregularidades e denúncias, mesmo sob o risco de causar polêmicas e escândalos.

E o "espiritismo"? As únicas reportagens "investigativas" são meramente descritivas: se limitam a mostrar a realidade aparente dos "centros espíritas" e como as famílias se comportam diante de mensagens "mediúnicas" atribuídas a entes queridos mortos. Nenhum questionamento, somente descrição.

O que está por trás desses espetáculos? E as psicografias são realmente autênticas? Como ver autenticidade em psicografias cujas caligrafias e outros aspectos pessoais destoam do legado que os mortos deixaram enquanto estavam vivos? E a caridade? É pretexto para a promoção pessoal dos "médiuns"? Ocorrem lavagem de dinheiro? As crianças sofrem maus tratos? Não há outra forma de captação de dinheiro, diante da aparente gratuidade das atividades "espíritas"?

No caso da "farinata", um grande problema serviria de uma boa pauta para a imprensa progressista. Divaldo Franco decidiu, com a edição paulista do Você e a Paz, homenagear o prefeito de São Paulo, figura já considerada decadente, em queda de popularidade, envolvido em incidentes como as mortes no trânsito após o programa Acelera São Paulo, acordar moradores de rua com jatos de água, e reprimir com truculência usuários de crack.

Em seguida, Divaldo permitiu que Dória Jr. lançasse um composto alimentar que, já na época desse evento, era previamente condenado por nutricionistas, entidades de saúde pública e movimentos sociais. Com a ironia de Divaldo ser considerado "humanista", a "farinata" foi considerada por ativistas sociais como um "acinte à dignidade humana".

A participação de Divaldo produziu problemas sérios. Sua falta de firmeza permitiu que a "farinata" fosse lançada, com Dória mostrando a camiseta com o logotipo do evento e o nome do "médium", um recurso que a Publicidade e Propaganda define como "vínculo de imagem". Como um atleta mostrando o logotipo de uma marca que patrocina um time. A camiseta de Dória não deve ser vista como as camisas de bandas de rock exibidas pelos fãs.

E a imprensa progressista, com essa pauta toda, o que fez? Nada. Quando muito, as páginas de fóruns mostram internautas manifestando "muita tristeza" ao ver Divaldo associado a essa farsa. Como se tivessem sido pegos de surpresa. Dória exibindo a camiseta e a imprensa progressista não observou coisa alguma. O único religioso alvo de questionamentos foi o arcebispo de São Paulo, o católico Dom Odilo Scherer.

Divaldo apareceu até na página de Dória no Twitter, posou para fotos e tudo, apareceu até olhando de frente e tudo o mais. Algumas fotos destacaram a camiseta com o nome de Divaldo e o logotipo do Você e a Paz impressos, e, mesmo assim, nada.

Que a Globo, Folha, Estadão ou Veja não investiguem, tudo bem. São veículos que blindam os "médiuns espíritas", que servem a interesses sociais estratégicos para os grandes empresários de mídia. Mas ver a imprensa progressista calada, talvez seduzida pelo jeito melífluo de Divaldo Franco, resignada porque ele "pelo menos" não investe em discurso de ódio, é constrangedor.

Por que isso acontece? Porque o "espiritismo", talvez por seu aparato "pacifista", "modesto" e "amoroso", desestimula os outros a investigar seus aspectos sombrios. Esquecem os esquerdistas que os próprios neopentecostais - apesar de mais antiga, a Assembleia de Deus se insere neste contexto por adotar os apelos midiáticos atuais - também tiveram sua fase melíflua, embora já mostrassem atos duvidosos como a cobrança de doações em dinheiro nos cultos.

E os "espíritas", será que tudo o que eles oferecem é realmente de graça? Só falta oferecerem injeção fluidificada na testa. Mas a realidade não é assim. Não existe almoço grátis e, se vemos senhoras de idade, em "centros espíritas", eufóricas demais porque aumentaram os donativos em dinheiro, mantimentos e outras doações, não é porque tudo vai para os necessitados. Há brechós e mercadinhos que servem a certos palestrantes "espíritas" e que vão revender tudo isso.

Cabe as forças progressistas começarem a questionar os "espíritas", que também vão contra as pautas típicas das forças de esquerda, como a condenação total ao aborto, mesmo em casos de risco à saúde e estupro. Para os "espíritas", melhor a vítima de estupro negociar a paternidade com o estuprador e talvez até decidir se casar com ele, conforme a "Lei de Causa e Efeito". E vale lembrar que, neste item, "espíritas" e neopentecostais andam de mãos bem dadas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a...

Vamos ter "psicografia" com o "espírito Ricardo Boechat"?

O "espiritismo" brasileiro virou uma grande farra. Afastado das lições originais do Espiritismo francês, a religião brasileira se rebaixou a uma doutrina de adoração aos "médiuns" (mais para sacerdotes do que para videntes propriamente ditos), uma repaginação doutrinária do Catolicismo medieval e um mercado de literatura de louvor aos "médiuns" ou de produção "psicográfica" que se revela fake , com provas consistentes. Cria-se uma multitude de "mortos da moda", que nunca escreveram uma vírgula que se atribui a eles, dentro das paixões religiosas da Terra, que, no entanto, legitimam tais obras por conta de frivolidades como "desejar a paz em Cristo", mesmo quando há disparidades de estilo e outros aspectos pessoais. O caso de Humberto de Campos foi o exemplo mais aberrante e gerou processo judicial. Mas a seletividade da Justiça deu impunidade a Francisco Cândido Xavier que, ao ver o caminho liberado - desde que o "m...

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente ...

"Mediunidade" de Chico Xavier não passou de alucinação

  Uma matéria da revista Realidade, de novembro de 1971, dedicada a Francisco Cândido Xavier, mostrava inúmeros pontos duvidosos de sua trajetória "mediúnica", incluindo um trote feito pelo repórter José Hamilton Ribeiro - o mesmo que, ultimamente, faz matérias para o Globo Rural, da Rede Globo - , incluindo uma idosa doente, mas ainda viva, que havia sido dada como "morta" (ela só morreu depois da suposta psicografia e, nem por isso, seu espírito se apressou a mandar mensagem) e um fictício espírito de um paulista. Embora a matéria passasse pano nos projetos assistencialistas de Chico Xavier e alegasse que sua presença era tão agradável que "ninguém queria largar ele", uma menção "positiva" do perigoso processo do "bombardeio de amor" ( love bombing ), a matéria punha em xeque a "mediunidade" dele, e aqui mostramos um texto que enfatiza um exame médico que constatou que esse dom era falso. Os chiquistas alegaram que outros ex...

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es...

Chico Xavier foi o João de Deus de seu tempo

Muitos estão acostumados com a imagem de Francisco Cândido Xavier associado a jardim floridos, céu azul e uma série de apelos piegas que o fizeram um pretenso filantropo e um suposto símbolo de pacifismo, fraternidade e progresso humano. Essa imagem, porém, não é verdadeira e Chico Xavier, por trás de apelos tão agradáveis e confortáveis que fazem qualquer idoso dormir tranquilo, teve aspectos bastante negativos em sua trajetória e se envolveu em confusões criadas por ele mesmo e seus afins. É bastante desagradável citar esses episódios, mas eles são verídicos, embora a memória curta tente ocultar ou, se não for o caso, minimizar tais episódios. Chico Xavier é quase um "padroeiro" ou "patrono" dos arrivistas. Sua primeira obra, Parnaso de Além-Túmulo , é reconhecidamente, ainda que de maneira não-oficial, uma grande fraude editorial, feita pelo "médium", mas não sozinho. Ele contou com a ajuda de editores da FEB, do presidente da instituição e dublê ...

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi...

Chico Xavier cometeu erros graves, entre os quais lançar livros

PIOR É QUE ESSES LIVROS JÁ SÃO COLETÂNEAS QUE CANIBALIZARAM OS TERRÍVEIS 418 LIVROS ATRIBUÍDOS A FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER. Chico Xavier causou um sério prejuízo para o Brasil. Sob todos os aspectos. Usurpou a Doutrina Espírita da qual não tinha o menor interesse em estudar e acabou se tornando o "dono" do sistema de ideias lançado por Allan Kardec. Sob o pretexto de ajudar as famílias, se aproveitou das tragédias vividas por elas e, além de criar de sua mente mensagens falsamente atribuídas aos jovens mortos, ainda expôs os familiares à ostentação de seus dramas e tristezas, transformando a dor familiar em sensacionalismo. Tudo o que Chico Xavier fez e que o pessoal acha o suprassumo da caridade plena é, na verdade, um monte de atitudes irresponsáveis que somente um país confuso como o Brasil define como "elevadas" e "puras". Uma das piores atitudes de Chico Xavier foi lançar livros. Foram 418 livros fora outros que, após a morte do anti-médium m...

O silêncio omisso e criminoso diante de questões contra Chico Xavier

Sobre Francisco Cândido Xavier, ocorre uma coisa surreal no Brasil. Quanto aos aspectos positivos de sua pessoa, mesmo aqueles que, em verdade, são falsos, mas garantem uma narrativa agradável, todo mundo fala, o nome dele salta nas redes sociais, até quem não devia falar bem dele acaba fazendo isso. Mas quando se tratam de aspectos negativos, fora uns protestos eventuais de uns fanáticos furiosos, o que reina é o silêncio. Um silêncio omisso, uma dúvida transformada em zona de conforto, como se toda dúvida pudesse repousar no imaginário coletivo na condição de um "mistério da fé", facilmente resolúvel, mas cujos resultados podem pôr em xeque fantasias que fazem muita gente dormir tranquila. E se trata de um silêncio criminoso, por uma simples razão. Tudo tem que ser investigado, questionado, para ver se vale a pena ou não. Passagens de pano não valem, mas, para Chico Xavier, é o que mais faz em relação a ele. Nunca se passou tanto pano em favor de uma pessoa, fazendo vista g...

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi...