CLÁUDIA CRUZ E SOLANGE GOMES - Duas maneiras de lidar com o machismo.
O Brasil está na vanguarda mundial? Não. Sua idade histórica de 515 anos não permite que nosso país esteja na dianteira do concerto das nações. Ele é o mais desafinado e demonstra incapaz de perceber questões e dilemas que os estrangeiros tiram logo de letra.
Eles desmascararam Madre Teresa de Calcutá de forma bem menos temerosa e traumática, mesmo quando seu mito parecia verossímil e arraigado a estigmas e paradigmas tradicionais da "boa velhinha". E no Brasil, um mito bem mais confuso e desastrado - e ainda por cima, com o escancarado lobby da Rede Globo - como o de Francisco Cândido Xavier, é difícil de ser desmascarado.
Aqui é o país em que os valores de vanguarda só encontram valor quando são deturpados, mesclados com princípios e práticas conservadores e se consolidam sem sequer metade de sua essência original. De repente, muitos dos "novos valores" que valem no nosso país não passam de uma dissimulação de valores retrógrados que usam uma "nova roupagem".
Não é preciso imaginar que o Brasil tornou-se um terreno fértil para esse Espiritismo que, com toda a declarada "fidelidade a Allan Kardec", nada tem da essência do pedagogo francês. Pelo que se observa pela doutrina de Chico Xavier e Divaldo Franco, a "nossa Doutrina Espírita" não é mais do que uma combinação de dogmas do Catolicismo medieval com feitiçaria e ocultismo. Nada do pensamento lógico de Kardec.
Isso cria uma mania terrível de acolher novos valores na forma deturpada. É o "velho" que busca trabalhar o "novo". Novos edifícios em bases velhas e enferrujadas. Bolo cheio de mofo por dentro, mas que recebe uma nova cobertura. Maçãs que parecem frescas por fora e são podres por dentro.
É isso que traz um terrível diferencial negativo para o Brasil em relação ao resto do mundo e que revela a inexperiência do país de buscar sua emancipação. Até agora, 193 anos depois de Dom Pedro I dar seu grito da independência - que sabemos foi só jogo de cena, porque o Legislativo é que agiu pelo verdadeiro sentido da data - , esperamos uma verdadeira emancipação.
De que adianta o Brasil ter deixado de depender politicamente do Portugal ainda medievalizado, se até o Espiritismo que temos está mais próximo do imperador Constantino do que de Allan Kardec? E se ainda dependemos do "velho" para fazer o "novo", com revoluções sendo feitas por aqueles que deveriam ser seus combatidos, então o Brasil não é um país que irá pela frente.
MACHISMO E FEMINISMO
Um país que não quer ver os feminicidas morrerem - por mais hostilizados que sejam, eles ainda são protegidos pela aura moralista da "legitima defesa da honra" - , por mais doentes e vulneráveis que estes sejam, o machismo está até decadente no Brasil, mas ele resiste comendo pelas beiradas a mudança dos tempos e procurando encaixar seus valores em contextos aparentemente novos.
Daí que o machismo procura se condicionar ao feminismo de certa forma, como se fosse em alguma negociação. O feminismo só teria vez no Brasil se pudesse ceder para o machismo, como em todo movimento avançado que procura sempre fazer concessões para o retrógrado, sob o pretexto da "moderação" e do "equilíbrio".
Descontando as exceções - que, por serem exceções, não são regra, do contrário que muitos insistem em supor - , a situação da mulher brasileira segue dois caminhos em que a emancipação feminina é condicionada sem representar ruptura ao machismo, seja de que forma ele seja seguido.
Se a mulher quer se livrar de valores machistas e buscar uma emancipação inteligente, buscando atividades diversas, aprimoramento intelectual e valores considerados edificantes para a mulher independente, ela tem que viver sob a sombra de um marido poderoso, patrocinador da independência dessa mulher.
Mas se a mulher aceita fazer o papel de mulher-objeto, de "brinquedo sexual" do imaginário machista, "sensualizando" além da conta e se afirmando somente pela ostentação corporal, "temperada" por bustos e glúteos siliconados e usando roupas apelativas até em funerais e vestindo roupas curtas em dias de frio, então elas são dispensadas de ter qualquer marido.
Vemos casos de jornalistas, atrizes, modelos e apresentadoras que, dotadas de personalidade bastante interessante e perfis bastante atrativos, serem casadas por empresários sisudos, políticos reacionários, profissionais liberais obsessos pela elegância e formalidade a qualquer preço. Essas mulheres bacanas e seus maridos sem graça, mais preocupados estes com a próxima festa de gala que irão frequentar.
Por outro lado, observa-se a lista de "solteiras felizes" que predomina, só entre as famosas: "mulheres-frutas", ex-BBBs, ring girls, "peladonas", candidatas ao Miss Bumbum, quarentonas que haviam participado da Banheira do Gugu e foram casadas com ídolos musicais popularescos. Na melhor das hipóteses, atrizes de TV viciadas em "funk" ou fanáticas por axé-music.
DIZEM QUE O QUE SOLANGE GOMES FAZ É UM NOVO TIPO DE FEMINISMO. DÁ PARA ACREDITAR?
De um lado, uma Cláudia Cruz que era cult com sua beleza e talento, casada com um retrógrado Eduardo Cunha que havia sido seu patrão na extinta Telerj. Combinando charme, sofisticação intelectual e beleza classuda, Cláudia mesmo assim não foi imune às traquinagens político-financeiras do marido e até participou de seu esquema de corrupção através de empresas "fantasmas".
De outro, uma Solange Gomes que parece só ter conhecido a vida de casada através de uma relação turbulenta com um cantor de "pagode romântico" e que, com 41 anos, representa a geração "sênior" das que ficam "mostrando demais" na mídia, com uma "sensualidade" compulsiva que a ninguém seduz, através de seu físico exagerado e suas eventuais gafes.
Solange está em dia com os valores machistas, trabalhando sua imagem de "objeto sexual" e, portanto, dispensada de vincular sua imagem a algum outro homem. Como outras que, com corpos siliconados e traseiros redondos demais, trabalham uma imagem machista de "mulher desejada" (que ironicamente é mais repulsiva que desejável) e, por isso, podem viver seus "celibatos" à vontade.
A impressão que se tem é que o estabilshment brasileiro tenta arrumar um jeito de domar a emancipação feminina. As mulheres que tentam romper com paradigmas machistas precisam ser domadas pela figura de um marido poderoso. As que seguem padrões machistas ficam liberadas disso, porque "estão mais consciente de seu papel".
Sim, é surreal como muita coisa no Brasil. A Solange Gomes que ignorou quem havia sido o escritor José Saramago, um dos maiores nomes da língua portuguesa, é "mais consciente do seu papel" na sociedade machista brasileira, e por isso pode viver "feliz sozinha" e dispensar o vínculo a um homem.
Já jornalistas, atrizes, modelos e apresentadoras que apresentam algum aprimoramento intelectual, falam de coisas interessantes e não ficam explorando levianamente seus corpos - até sua sensualidade é mais discreta e eventual dentro do contexto - , elas devem viver sob a sombra de algum marido poderoso, "maduro" e "influente".
A mulher que segue o machismo, contraditoriamente, não precisa ser domada por um machista. Ela parece seguir o roteiro que a sociedade machista determina para ela, ela é "machista" por conta própria. Já a mulher que não segue o machismo precisa da "vigilância" machista na figura de um marido poderoso, rico e influente.
O discurso apela para a aparência, daí que a mulher que simplesmente não tem marido e não vive sob a simbólica influência de um homem é tida como "feminista". Se bem que as "musas" que "sensualizam demais" são empresariadas por homens, mas a "sombra masculina" se encontra escondida em seus escritórios refrigerados.
O quadro é estarrecedor se percebermos que, no Brasil, já morreram prematuramente muitas mulheres dotadas de perfil diferenciado, enquanto uma multidão de outras mulheres fica perdendo tempo se "sensualizando demais" até mesmo quando o contexto não permite. Já não são muitas as mulheres que combinam, com brilhantismo, talento e visibilidade.
É evidente que o Brasil, só através desse exemplo das mulheres, está em situação retrógrada. O Brasil precisa se reavaliar e repensar seus valores, porque está preso a paradigmas correspondentes às relações de poder e status quo originárias da ditadura militar, que deixou como herança para a democracia a burocracia acadêmica e o fisiologismo político-institucional.
Mas no país em que os questionadores do "estabelecido" são discriminados nas mídias sociais, nas rodas de amigos e no mercado de trabalho, como alertar as pessoas das armadilhas do dia a dia? Estas estão muito ocupadas vendo bichinhos fazendo gracinhas no WhatsApp ou lendo "livros para colorir"...
O Brasil está na vanguarda mundial? Não. Sua idade histórica de 515 anos não permite que nosso país esteja na dianteira do concerto das nações. Ele é o mais desafinado e demonstra incapaz de perceber questões e dilemas que os estrangeiros tiram logo de letra.
Eles desmascararam Madre Teresa de Calcutá de forma bem menos temerosa e traumática, mesmo quando seu mito parecia verossímil e arraigado a estigmas e paradigmas tradicionais da "boa velhinha". E no Brasil, um mito bem mais confuso e desastrado - e ainda por cima, com o escancarado lobby da Rede Globo - como o de Francisco Cândido Xavier, é difícil de ser desmascarado.
Aqui é o país em que os valores de vanguarda só encontram valor quando são deturpados, mesclados com princípios e práticas conservadores e se consolidam sem sequer metade de sua essência original. De repente, muitos dos "novos valores" que valem no nosso país não passam de uma dissimulação de valores retrógrados que usam uma "nova roupagem".
Não é preciso imaginar que o Brasil tornou-se um terreno fértil para esse Espiritismo que, com toda a declarada "fidelidade a Allan Kardec", nada tem da essência do pedagogo francês. Pelo que se observa pela doutrina de Chico Xavier e Divaldo Franco, a "nossa Doutrina Espírita" não é mais do que uma combinação de dogmas do Catolicismo medieval com feitiçaria e ocultismo. Nada do pensamento lógico de Kardec.
Isso cria uma mania terrível de acolher novos valores na forma deturpada. É o "velho" que busca trabalhar o "novo". Novos edifícios em bases velhas e enferrujadas. Bolo cheio de mofo por dentro, mas que recebe uma nova cobertura. Maçãs que parecem frescas por fora e são podres por dentro.
É isso que traz um terrível diferencial negativo para o Brasil em relação ao resto do mundo e que revela a inexperiência do país de buscar sua emancipação. Até agora, 193 anos depois de Dom Pedro I dar seu grito da independência - que sabemos foi só jogo de cena, porque o Legislativo é que agiu pelo verdadeiro sentido da data - , esperamos uma verdadeira emancipação.
De que adianta o Brasil ter deixado de depender politicamente do Portugal ainda medievalizado, se até o Espiritismo que temos está mais próximo do imperador Constantino do que de Allan Kardec? E se ainda dependemos do "velho" para fazer o "novo", com revoluções sendo feitas por aqueles que deveriam ser seus combatidos, então o Brasil não é um país que irá pela frente.
MACHISMO E FEMINISMO
Um país que não quer ver os feminicidas morrerem - por mais hostilizados que sejam, eles ainda são protegidos pela aura moralista da "legitima defesa da honra" - , por mais doentes e vulneráveis que estes sejam, o machismo está até decadente no Brasil, mas ele resiste comendo pelas beiradas a mudança dos tempos e procurando encaixar seus valores em contextos aparentemente novos.
Daí que o machismo procura se condicionar ao feminismo de certa forma, como se fosse em alguma negociação. O feminismo só teria vez no Brasil se pudesse ceder para o machismo, como em todo movimento avançado que procura sempre fazer concessões para o retrógrado, sob o pretexto da "moderação" e do "equilíbrio".
Descontando as exceções - que, por serem exceções, não são regra, do contrário que muitos insistem em supor - , a situação da mulher brasileira segue dois caminhos em que a emancipação feminina é condicionada sem representar ruptura ao machismo, seja de que forma ele seja seguido.
Se a mulher quer se livrar de valores machistas e buscar uma emancipação inteligente, buscando atividades diversas, aprimoramento intelectual e valores considerados edificantes para a mulher independente, ela tem que viver sob a sombra de um marido poderoso, patrocinador da independência dessa mulher.
Mas se a mulher aceita fazer o papel de mulher-objeto, de "brinquedo sexual" do imaginário machista, "sensualizando" além da conta e se afirmando somente pela ostentação corporal, "temperada" por bustos e glúteos siliconados e usando roupas apelativas até em funerais e vestindo roupas curtas em dias de frio, então elas são dispensadas de ter qualquer marido.
Vemos casos de jornalistas, atrizes, modelos e apresentadoras que, dotadas de personalidade bastante interessante e perfis bastante atrativos, serem casadas por empresários sisudos, políticos reacionários, profissionais liberais obsessos pela elegância e formalidade a qualquer preço. Essas mulheres bacanas e seus maridos sem graça, mais preocupados estes com a próxima festa de gala que irão frequentar.
Por outro lado, observa-se a lista de "solteiras felizes" que predomina, só entre as famosas: "mulheres-frutas", ex-BBBs, ring girls, "peladonas", candidatas ao Miss Bumbum, quarentonas que haviam participado da Banheira do Gugu e foram casadas com ídolos musicais popularescos. Na melhor das hipóteses, atrizes de TV viciadas em "funk" ou fanáticas por axé-music.
DIZEM QUE O QUE SOLANGE GOMES FAZ É UM NOVO TIPO DE FEMINISMO. DÁ PARA ACREDITAR?
De um lado, uma Cláudia Cruz que era cult com sua beleza e talento, casada com um retrógrado Eduardo Cunha que havia sido seu patrão na extinta Telerj. Combinando charme, sofisticação intelectual e beleza classuda, Cláudia mesmo assim não foi imune às traquinagens político-financeiras do marido e até participou de seu esquema de corrupção através de empresas "fantasmas".
De outro, uma Solange Gomes que parece só ter conhecido a vida de casada através de uma relação turbulenta com um cantor de "pagode romântico" e que, com 41 anos, representa a geração "sênior" das que ficam "mostrando demais" na mídia, com uma "sensualidade" compulsiva que a ninguém seduz, através de seu físico exagerado e suas eventuais gafes.
Solange está em dia com os valores machistas, trabalhando sua imagem de "objeto sexual" e, portanto, dispensada de vincular sua imagem a algum outro homem. Como outras que, com corpos siliconados e traseiros redondos demais, trabalham uma imagem machista de "mulher desejada" (que ironicamente é mais repulsiva que desejável) e, por isso, podem viver seus "celibatos" à vontade.
A impressão que se tem é que o estabilshment brasileiro tenta arrumar um jeito de domar a emancipação feminina. As mulheres que tentam romper com paradigmas machistas precisam ser domadas pela figura de um marido poderoso. As que seguem padrões machistas ficam liberadas disso, porque "estão mais consciente de seu papel".
Sim, é surreal como muita coisa no Brasil. A Solange Gomes que ignorou quem havia sido o escritor José Saramago, um dos maiores nomes da língua portuguesa, é "mais consciente do seu papel" na sociedade machista brasileira, e por isso pode viver "feliz sozinha" e dispensar o vínculo a um homem.
Já jornalistas, atrizes, modelos e apresentadoras que apresentam algum aprimoramento intelectual, falam de coisas interessantes e não ficam explorando levianamente seus corpos - até sua sensualidade é mais discreta e eventual dentro do contexto - , elas devem viver sob a sombra de algum marido poderoso, "maduro" e "influente".
A mulher que segue o machismo, contraditoriamente, não precisa ser domada por um machista. Ela parece seguir o roteiro que a sociedade machista determina para ela, ela é "machista" por conta própria. Já a mulher que não segue o machismo precisa da "vigilância" machista na figura de um marido poderoso, rico e influente.
O discurso apela para a aparência, daí que a mulher que simplesmente não tem marido e não vive sob a simbólica influência de um homem é tida como "feminista". Se bem que as "musas" que "sensualizam demais" são empresariadas por homens, mas a "sombra masculina" se encontra escondida em seus escritórios refrigerados.
O quadro é estarrecedor se percebermos que, no Brasil, já morreram prematuramente muitas mulheres dotadas de perfil diferenciado, enquanto uma multidão de outras mulheres fica perdendo tempo se "sensualizando demais" até mesmo quando o contexto não permite. Já não são muitas as mulheres que combinam, com brilhantismo, talento e visibilidade.
É evidente que o Brasil, só através desse exemplo das mulheres, está em situação retrógrada. O Brasil precisa se reavaliar e repensar seus valores, porque está preso a paradigmas correspondentes às relações de poder e status quo originárias da ditadura militar, que deixou como herança para a democracia a burocracia acadêmica e o fisiologismo político-institucional.
Mas no país em que os questionadores do "estabelecido" são discriminados nas mídias sociais, nas rodas de amigos e no mercado de trabalho, como alertar as pessoas das armadilhas do dia a dia? Estas estão muito ocupadas vendo bichinhos fazendo gracinhas no WhatsApp ou lendo "livros para colorir"...
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