Nas ruas do Rio de Janeiro, a cena é comum. Idosos e até alguns pobres fumando porque estão acostumados com o gosto de fuligem que engolem enquanto soltam uma fumacinha tóxica após tragar um estranho objetinho com tamanho de um cotonete.
Mas há também os rapazes sarados e as moças descoladas que estufam o peito - isto é, se ainda têm força para tanto - segurando um cigarrinho. Há até aqueles neo-mauricinhos barbudos, com jeitão de "dono da verdade", que segue "fumando com os dedos", com tragadas de três em três minutos, aspirando substâncias tóxicas e expelindo vaidade.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, há hum grande número de fumantes. Gente jovem que acha que um cigarro é uma forma de autoafirmação social. São pessoas que ignoram o grave perigo do tabagismo e ficam indiferentes diante dos muitos óbitos que acontecem, em boa parte prematuros, por causa de doenças como o infarto e o câncer.
Atores, músicos e jornalistas de televisão aparecem constantemente nos obituários, vários deles no começo de seus 60 anos de idade, outros ainda na casa dos 50 ou bem menos. Pessoas que nunca imaginávamos que eram tabagistas e que causaram comoção pela morte repentina, interrompendo suas vidas justamente no auge de suas atividades pessoais.
Muitas pessoas que não fumam reclamam de terem que percorrer as ruas de Copacabana, Ipanema, do entorno do comércio da SAARA e Saens Peña e, em Niterói, pelas ruas internas de Icaraí, e ter que aguentar tanta gente fumando, tanto garotão sarado fazendo pose - estamos falando do neo-mauricinho, barbudo, com alguma barriguinha e metido a "nerd" - e tanto fedor de nicotina angustiando muitos transeuntes.
Pois a "novidade" lançada na imprensa nos últimos dias é a DPOC, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, que dá um grave alerta para a "galera" que adora uma tragadinha e acha que fumar cigarro é "ter atitude". Pois a doença é um mal terrível e que pode matar com menos demora do que se imagina.
A doença se carateriza pela gradual perda da respiração. Com o pulmão danificado, as funções respiratórias se reduzem gradualmente, piorando a situação com o tempo. Chegando ao ponto limite, seu enfermo simplesmente morre. A doença não tem cura e pode ser um pesadelo para a vaidade de muitos cariocas, paulistas, gaúchos e outros que "se acham" quando estão com um cigarro na mão.
INDÚSTRIA TABAGISTA TENTOU ABAFAR
A indústria do fumo tentou abafar qualquer denúncia sobre os males à saúde resultantes do fumo. Dois mitos tentaram ser lançados para tentar minimizar a gravidade do fumo, garantindo as vendas de cigarros no comércio e manter a riqueza estratosférica de seus empresários.
Um é alegar que o açúcar é "tão perigoso" quanto o cigarro. Embora o uso excessivo de açúcar pode causar diabetes, não há como comparar a gravidade dessa doença com a do tabagismo, pois, na escala de males, o tabagismo é sempre insuperável.
Outro é alegar que os fumantes passivos são mais frágeis que os fumantes ativos. Claro que não. Embora sabemos que os fumantes passivos, por inalarem a fumaça do cigarro de outra pessoa, têm os mesmos riscos de sofrer doenças que os ativos, não há como discutir que os fumantes ativos é que sempre vivem em situação de risco maior. Não há esse negócio de dizer que o fumante ativo é mais resistente do que o fumante passivo. Isso é lorota.
Há também casos como o machismo que não admite que os homens também adoecem. O caso do feminicida Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, que matou sua esposa Ângela Diniz por um misto de ciúme doentio com homofobia - Ângela o havia traído com uma mulher - , em 30 de dezembro de 1976, é típico desse medo da sociedade em dizer que machistas, inclusive feminicidas, também podem morrer doentes um dia.
O tabagismo de Doca Street causava aflição nos seus amigos poucos dias após ele ter matado a esposa, numa pousada em Búzios. Há também o agravante do passado de cocaína, que fragilizou ainda mais o organismo. O assassino de Ângela Diniz tinha tudo para falecer antes dos 50 anos de idade, diante desse coquetel bombástico que massacrou seu organismo.
Doca, por muita sorte, sobreviveu até os 80 anos, pois, aparentemente, não há qualquer informação de que ele tenha morrido. Mas tudo indica que ele já carrega um câncer - fala-se em câncer, não em tumor benigno - há mais de 30 anos, mas divulgar isso para a sociedade é um tabu, a sociedade patriarcalista, moralista e machista não gosta que divulguem que Doca está doente e perto de morrer.
Se fosse um músico de rock, essa mesma sociedade pularia de alegria em dizer que fulano estava moribundo de tanto cigarro e cocaína no organismo. Se fosse um petista, então, a torcida seria maior e havia até ensaios de gritos de "já vai tarde" ou cartazes irônicos de "R. I. P.". Mas, como tudo é surreal no Brasil, se tem medo de ver um feminicida morrer doente ou acidentado, mesmo tendo ele contribuído para isso.
Feminicidas não são deuses, e fumantes em geral também não. Um hábito sem serventia que é o de fumar um cigarro é prejudicial à saúde, e até a juventude so far down (entendam pelo cacófato) que fica "se achando" pode apressar seu retorno à "pátria espiritual" com umas tragadas de cigarro e uns bons passeios "fumando pelos dedos", que é quando se passa tempo segurando um cigarro acesso.
Quanto ao fumo, o que se vê, infelizmente, é que um maço de cigarro é mais barato do que comprar alimentos como sucos, bebida láctea, leite em pó, que custam uma fortuna. Comprar um pacote de manteiga é mais caro do que comprar um maço de cigarro, e, no Grande Rio, as pessoas compram cigarro como quem compra bala.
São pessoas que dizem não ter dinheiro para comprar um livro, uma cesta básica ou um passeio para ver exposições de arte ou eventos culturais de qualidade. Mas vão para a banca comprar um cigarrinho, que chega a custar R$ 7 ou até menos. Já bebidas lácteas, em sua maioria, chegam a custar até R$ 16!!
As pessoas do Rio de Janeiro, que, pelo jeito, sofrem de autismo social, porque andam se conformando com tudo na vida - ônibus com visual padronizado, rádio rock chinfrim, música popularesca, literatura meia-boca, programação ruim na TV aberta e paga e lazer praticamente restrito ao péssimo futebol carioca, entre outras frivolidades - , deveriam prestar atenção quando seus ídolos da televisão morrem de repente.
Essas mortes, que tanto causam dor e saudade nos admiradores, no caso os cariocas (e, por associação, os fluminenses restantes), poderiam ter sido adiadas apenas para a velhice tardia se fosse evitado o trágico consumo de cigarro, um hábito infeliz que só serve para a vaidade de alguns descolados, mas nenhuma contribuição traz para a saúde e o prazer humanos. Pelo contrário, o fumo adoece e serve apenas para esconder as frustrações e preguiças de certos indivíduos.
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