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Como ensinar a morte aos feminicidas?


Morre todo tipo de pessoa na humanidade. Isso é fato, temos um prazo limitado de vida. Mas, na sociedade dotada de surtos surreais em que vivemos, existe um tipo de pessoa que "não pode morrer", e cuja informação de sua tragédia pessoal soa, para muitos, ofensiva.

É a do feminicida, sobretudo conjugal. Aquele feminicida que mata uma mulher, na maioria das vezes a própria companheira, e alegando desculpas como a "defesa da honra" ou a falácia de que a vítima "gritou com ele", se livra da cadeia.

Numa sociedade moralista e retrógrada em que vivemos, esses homens, que simbolizam um machismo retrógrado, sanguinário e burro, são tidos estranhamente como pessoas que "não podem morrer", ou, quando morrem, isso nunca deve ser informado. A ideia é sempre passar uma ideia de linearidade da vida, o que é um contrassenso, porque os feminicidas são as pessoas mais vulneráveis que existem na Terra e, no contexto do Brasil, eles são praticamente um grupo de risco.

Ultimamente, dois feminicidas conjugais bastante conhecidíssimos, que viraram noticiário nacional, um nos anos 1970 e 1980, outro já nos anos 2000, estão no caminho da morte. A gente diz isso porque odeia eles e porque quer que eles se ferrem? Não, pois isso pode ser constatado até pelos seus amigos mais queridos, como no caso do que cometeu o crime mais antigo, cujo tabagismo já preocupava justamente aqueles que mais o amavam.

É mais difícil ensinar a ideia da morte a um feminicida do que a uma criança. O feminicida só conhece a morte pelos outros e pela morte que impõem a suas vítimas, sejam companheiras, amigas, colegas de trabalho, vizinhas etc. Para eles pouco importa se sua vítima foi morta aos 25 anos, mas lhes amedronta a ideia de que poderão morrer de alguma grave doença aos 55 anos.

Os feminicidas são muito mais vulneráveis do que se imagina. Principalmente quando são beneficiados pela impunidade e são expostos a uma realidade caótica e conflituosa do mundo aberto. Eles podem, por exemplo, serem potenciais vítimas de assaltos e o ladrão não irá lhes abordar para pedir um autógrafo. Para quem potencialmente matou várias pessoas, como um assaltante, tanto faz atirar contra quem assassinou apenas uma pessoa.

Para começar, boa parte desses homens têm uma consciência do risco que é tirar a vida de alguém. Sobretudo contra mulheres com quem tinham uma relação social mais amistosa. O ineditismo da atitude lhes faz acelerar o coração, despejar doses de adrenalina e os fazer decidir pela medida mais arriscada, que pode trazer consequências devastadoras e irrecuperáveis.

Imagine o quanto o organismo de alguém, que com sua fúria atira e enfia uma porção de facadas em alguém que antes lhe nutria alguma afeição, é abalado por esses poucos minutos de fúria, que bombardeiam o organismo com a força de uma tragada de crack? Alguém imaginaria que pessoas assim chegariam tranquilas e saudáveis aos 90 anos?

Pesquisas mostram, no caso das atitudes dos machistas (sem mencionar os que praticam feminicídio), que eles costumam cometer atitudes de risco. Se recusam a fazer exame de câncer, sobretudo próstata, dirigem em alta velocidade e, não raro, sob ingestão de álcool e vivem em constantes explosões nervosas, além de se alimentarem muito mal.

Some-se a isso a fúria com que vários machistas se dirigem às mulheres que, educadamente, pedem para encerrar uma relação. Elas são tratadas como troféus, são desprezadas por seus homens como prêmios guardados no armário, e quando elas pedem para encerrar uma relação, eles não gostam.

Cria-se uma discussão, eles perdem a cabeça, elas acabam gritando e eles, em atitude de fúria, correm para as gavetas pegar facas e revólveres para matá-las, ou arrumar outras formas, como envenenamento.

Isso já causa um bombardeio emocional estarrecedor. Os homens são tomados de uma emoção descontrolada que lhes castiga o organismo. E, a partir de então, passam a sofrer graves pressões emocionais, ainda mais quando a Justiça injusta do Brasil das conveniências beneficia os feminicidas conjugais e não-conjugais (quando eles matam, por exemplo, colegas de trabalho ou escola) com uma impunidade preocupante.

Mesmo quando o crime passou a ser considerado hediondo, há casos de crimes conjugais que são dissimulados pela disputa dos filhos, que diante de certas interpretações jurídicas, traz atenuantes penais. Desta forma, alguns casos recentes de maridos que mataram mulheres e depois levaram os filhos consigo servem como tática para transformar o crime hediondo em apenas doloso, que permite a liberdade condicional.

Só que as pressões emocionais que a impunidade trazem ao feminicida os abala gravemente, fazendo com que, na melhor das hipóteses, haja envelhecimento precoce. As famílias que o viam como um membro querido passaram a vê-lo com sombrio desprezo, às vezes com silencioso ódio. A sociedade feminista os hostiliza, e mesmo homens que sentem lesados ao ver tantas mulheres assassinadas - menos mulher para escolher para namorar - também reagem com ódio e revolta.

Os feminicidas, mesmo os de elite e beneficiados pela impunidade não só jurídica mas social - a mídia conservadora tenta lher dar uma imagem "simpática" deles, como se eles ainda pudessem ser genros ideais para as boas famílias - , sofrem até mesmo um conflito pessoal, entre o orgulho da "defesa da honra" e a vergonha do crime cometido, praticamente arruinando suas vidas e pondo sua reputação social no lixo.

Mesmo assim, eles tentam empurrar tudo pela barriga. Tentam salvar sua reputação, uma mera ilusão de prestígios materiais e relações de poder que eles fingem serem recuperáveis. Evitam que noticiários e filmes relembrem seus crimes, fingem para eles mesmos que suas tragédias pessoais - pela relação criminal, todo assassino carrega, em si, sua tragédia pessoal - não existem e buscam uma tranquilidade que nunca lhes sossegará a consciência, já duramente pesada.

Se falamos que a morte também ronda a vida dos feminicidas, não o fazemos por ódio a seus crimes. Os próprios criminosos estabelecem riscos diversos, sobretudo numa sociedade machista em que os machistas se acreditam tão fortes que nem a nicotina é capaz de abatê-los.

Até porque, se um médico lhes diagnostica um câncer, muitos desses homens se sentem ofendidos e ameaçam processar o respectivo médico por danos morais, até perceberem depois que o câncer chegou ao estado terminal.

Pior é que, num contexto de convulsões sociais graves, em que o ódio extremo contagia até pessoas de reputação considerável na sociedade, despejando preconceitos sociais inimagináveis, os feminicidas conjugais são jurados de morte em potencial, diante da indignação de muitos internautas que falam que esses criminosos deveriam morrer. Nada impede que um feminicida de São Paulo seja morto por um internauta do Ceará, se ele ver a foto da vítima e despertar afeição a ela.

É chocante falar em morte para os feminicidas, porque nem a imprensa se interessa a mencionar essas tragédias. Que razão isso se dá não entendemos, e a gente pergunta se não é para evitar suicídio de homens diante da notícia de machistas morrendo ou se isso vai influir no prejuízo da indústria do armamento ou é um medo do movimento feminista sair em comemoração.

Isso é um aspecto surreal da sociedade conservadora. Afinal, todos têm um limite vital, mas os feminicidas são os únicos que "não podem morrer". Contraditoriamente, matar uma mulher virou um "diferencial" e o status quo parece indicar que feminicidas tenham que viver para explicar a seus netos como "vovô tirou a vida da vovó". Algo que soa desnecessário, porque tudo o que um feminicida pode dizer de alguma amarga lição é possível de ser transmitido por terceiros.

Na lei de reencarnação, o prejuízo menor seja os feminicidas se preocuparem menos em prolongar demais suas vidas, no desespero de salvar reputações que já estão perdidas. Antes deixarem seus nomes ilustres perecer no túmulo, enquanto reencarnam com nomes e situações novas, recomeçando a vida com condições maiores de evitar futuros crimes.

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