Pular para o conteúdo principal

Seja mau médium, pior moralista, mas banque o "bonzinho"


O que faz o "espiritismo" brasileiro ser uma das piores religiões do país é trair seus propósitos originais e investir num moralismo e num misticismo que deturpam e descaraterizam completamente a doutrina.

O "espiritismo" bajula Allan Kardec com a mesma intensidade com que desobedece e rompe com suas ideias originais. Hipócritas, os "espíritas" usam o próprio Kardec, ou mesmo Erasto e o Controle Universal dos Ensinos Espíritas para justificarem as práticas fraudulentas e pedantes que o movimento brasileiro faz no seu cotidiano.

Pregações de moralismo religioso bastante carregado marcam as palestras e eventos dessa doutrina, que parece competir com a Igreja Católica com a pronúncia de tantos jargões como "Jesus", "bênçãos", "cristão", "luz" e "seara". Nem os neo-pentecostais chegam a tanto.

Por outro lado, existem práticas "mediúnicas" do tipo "eu nada sei mas finjo que tudo sei". Ninguém estuda sobre atividades mediúnicas. Ninguém lê os livros de Franz Anton Mesmer, o teórico do Magnetismo. Ninguém observa as pesquisas sobre comunicação com espíritos do além e sobre a vida espiritual.

Em compensação, o pessoal cria um mundo fictício onde cabem o que somente eles acham que é mediunidade, mundo espiritual, comunicação de espíritos etc. Um mundo do faz-de-conta, pois ninguém tem concentração alguma para estabelecer comunicação com o além e fica inventando coisas e fingindo que é médium.

E isso se refere não só aos médiuns de fundo-de-quintal, mas a Chico Xavier e Divaldo Franco, os mais "conceituados", mas que fizeram fraudes e fingimentos terríveis, e eles fizeram isso da forma mais deplorável e condenável que os erros deles viraram regras para seus seguidores. Simplesmente preocupante.

Chico Xavier fazendo pastiches literários de extremo mau gosto, usando o nome de Humberto de Campos para criar uma obra literária que nada tem a ver com o falecido escritor maranhense. Divaldo Franco, com seus falsetes, fingindo receber espíritos do além para fazer mensagens supostamente fraternais, de sutil proselitismo religioso.

E as pessoas ainda choram quando eles são chamados de charlatães. "Não, não é assim, você está exagerando", "Que eles erraram, tudo bem, mas chamar de charlatães é demais", "Charlatanismo é uma acusação violenta demais contra esses homens de bem", é o que costumam reagir seus seguidores.

Isso mostra um grande problema do "espiritismo". A má mediunidade, o moralismo ultraconservador - com Chico Xavier fazendo apologia ao sofrimento humano, prometendo recompensas só depois de morrer - e a deturpação da doutrina de Allan Kardec são "compensados" pela ilusão de que o "espiritismo" tem valor porque é a "doutrina dos bonzinhos".

É o que vemos nos eventos realizados nos "centros espíritas". Toda a pieguice no uso de imagens de crianças em suas propagandas, na "alegria mais pura" dos grupos jovens e das enjoadas musiquinhas "espíritas" (para não dizer o uso de sucessos qualquer nota do rádio que tenham letra "positiva", como a intragável "Um Dia de Domingo" de Sullivan e Massadas) são exemplos disso.

De repente, a má mediunidade e o pior moralismo são "compensados" pela "ação de caridade" e pelos "bons exemplos de fraternidade" que os "espíritas" fazem. Como se a "bondade" pudesse justificar a mentira, a fraude e os valores retrógrados defendidos.

É por isso que vemos o caso do "funk", quando intelectuais acham que as grosserias do ritmo expressam uma "nova moralidade", que todos os funkeiros são "grandes artistas", "pessoas iluminadas", "cidadãos exemplares", "ativistas corajosos" comprometidos com a "sabedoria intuitiva".

Se uma boa e bastante influente parcela da sociedade é capaz de pensar e argumentar, com surpreendente perseverança, em favor dos funkeiros, faz sentido acreditar que basta ser bonzinho para ver perdoadas as fraudes e mentiras que se lançam em nome da Doutrina Espírita no Brasil.

Carrega-se na filantropia para esconder, por baixo do tapete, as fraudes, pastiches e fingimentos ocorridos. Recentemente, chegaram a promover Divaldo Franco como "filantropo", vendo que as críticas ao "movimento espírita" que apontaram fraudes na obra de Chico Xavier iriam fazer das suas contra o anti-médium baiano.

Assim, Divaldo foi classificado por um programa decadente da TV Globo como "o maior filantropo do mundo", por causa de um casarão cujos trabalhos, em 63 anos de existência, não conseguiram beneficiar mais do que 0,08% da população de Salvador. Festeja-se demais por tão pouco.

Tudo é defendido porque o "espiritismo" é "bonzinho". Os neo-pentecostais, com seus erros indiscutíveis, acabam virando joguetes desse maniqueísmo. É certo que Marco Feliciano, Silas Malafaia, Edir Macedo e Valdomiro Santiago fazem das suas, mas eles acabam apenas sendo usados tendenciosamente para promover a "boa imagem dos espíritas".

Daí que os "espíritas" querem dar uma de "bonzinhos". Deturpam a doutrina de Allan Kardec, fazem práticas irregulares de suposta mediunidade, pregam um moralismo conservador que não suaviza as dores das pessoas (até piora, em muitos casos) e querem ser conhecidos como a "doutrina do amor e da caridade".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Brasileiros têm dificuldade para se despedir de Doca Street

Nosso país é ultraconservador e dotado de estranhos "heróis", que incluem ídolos religiosos, políticos do tempo da ditadura militar, tecnocratas e até machistas de perfil bem moralista, os quais temos medo de perder, como se fossem nossos tios queridos. Todos morrem, mas os feminicidas são os únicos que "não podem morrer". Eles que mais descuidam da saúde, sofrem pressões morais violentas por todos os lados, fragilizam suas almas alternando raivas explosivas e depressões abatedoras, e nós temos que acreditar que eles são feito ciborgues aos quais nem uma doença incurável consegue abatê-los. Há 40 anos exatos, um caso de machismo violento aconteceu em Armação de Búzios. O empresário Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, então com 42 anos, assassinou, com dois tiros, a socialite Ângela Diniz, a "pantera de Minas Gerais", que chegou a fazer uma sessão de moda para a revista A Cigarra, nos anos 60. O motivo alegado era o da "legítima def...

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a...

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente ...

Doca Street realmente morreu. Mas foi hoje

Com tantos rumores de que Doca Street havia falecido há algum tempo, não imaginávamos que seu falecimento se deu apenas hoje, 18 de dezembro de 2020. De fato, ele esteve em idade avançada demais para estar vivo e, embora os familiares afirmassem que ele não estava doente - ao menos podemos considerar que ele não estava com Covid-19, apesar de ter estado no grupo de risco - , ele sofreu um infarto, um mal considerado potencial para feminicidas, que sofrem pressões emocionais pelo crime cometido. Sim, Doca foi para a pátria espiritual, e isso deu fim a um longo ciclo em que homens matam as mulheres que querem se separar deles e conseguem passar por cima de qualquer frustração. Muitos dos homens que, sonhando com a impunidade, se inspiraram no assassino de Ângela Diniz para cometerem seus crimes, conseguiram conquistar novas namoradas, com perfil que surpreendentemente homens de caráter mais generoso e inofensivo não conseguem conquistar. Desde 2015 o "crime passional", hoje def...

"Superioridade espiritual" de Chico Xavier e Divaldo Franco é uma farsa

Muito se fala da suposta superioridade espiritual de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que seus seguidores definem como "espíritos puros" e dotados da mais extrema elevação moral dentro do "movimento espírita" brasileiro. São muitos relatos, argumentos, evocações, tudo o mais para tentar afirmar que os dois são as pessoas que mais chegaram ao máximo da evolução espiritual, talvez até mais do que Jesus Cristo, segundo alguns, até pelo fato de terem chegado à velhice (Chico Xavier faleceu há 13 anos). Só que essa visão nada tem a ver com a realidade. Sabendo que o "movimento espírita" brasileiro se desenvolveu às custas de mitificações, mistificações e fraudes diversas, é também notório que Chico Xavier e Divaldo Franco também participaram, com gosto, em muitas falcatruas cometidas pelo "espiritismo" brasileiro. Eles erraram, e erraram muitíssimo. Usaram o prestígio que acumularam ao longo dos anos para legitimar e popular...

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr...

Chico Xavier causou confusão mental em muitos brasileiros

OS DOIS ARRIVISTAS. Por que muitos brasileiros são estupidamente reacionários? Por que há uma forte resignação para aceitar as mortes de grandes gênios da Ciência e das Artes, mas há um medo extremo de ver um feminicida morrer? Por que vários brasileiros passaram a defender o fim de seus próprios direitos? Por que as convicções pessoais prevalecem sobre a busca pela lógica dos fatos? O Brasil tornou-se um país louco, ensandecido, preso em fantasias e delírios moralistas, vulnerável a paixões religiosas e apegado a padrões hierárquicos que nem sempre são funcionais ou eficientes. O país sul-americano virou chacota do resto do mundo, não necessariamente porque o Primeiro Mundo ou outros países não vivem problemas de extrema gravidade, como o terrorismo e a ascensão da extrema-direita, mas porque os brasileiros permitem que ocorram retrocessos de maneira mais servil. Temos sérios problemas que vão desde saber o que realmente queremos para nossa Política e Economia até nossos apego...

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi...

Factoide tenta abafar escândalo de Madre Teresa de Calcutá e transformá-la em "santa"

RONALD REAGAN, QUE FINANCIAVA O GENOCÍDIO NA AMÉRICA CENTRAL E ORIENTE MÉDIO, ERA VISTO COMO "DEFENSOR DA PAZ" PELA "ILUMINADA" MADRE TERESA DE CALCUTÁ. Um factoide atribuído a um caso brasileiro foi forjado para não só tentar abafar as denúncias escandalosas que envolveram a Madre Teresa de Calcutá como também liberar o caminho para sua "santificação", que a Igreja Católica define como canonização, a promoção artificial (feita por homens da Terra) de certos indivíduos já falecidos a uma presumida "pureza" e "perfeição espiritual". Consta-se que um engenheiro então com 35 anos, mais tarde identificado como Marcílio Haddad Andrino, que morava em Santos, havia acabado de se casar com a mulher - com a qual vive hoje com dois filhos no Rio de Janeiro - e vivia uma lua-de-mel em Gramado, conhecida cidade gaúcha. De repente ele teria se sentido mal. Foi atendido num hospital de Gramado e, constatado como "portador de hidrocefalia...

Por que a mídia quase não noticia mortes de assassinos?

O ADVOGADO LEOPOLDO HEITOR MATOU A SOCIALITE DANA DE TEFFÉ E FALECEU EM 2001 AOS 79 ANOS. MAS SEU CRIME NÃO OCORREU NA DITADURA MILITAR. Por que a imprensa quase não noticia a tragédia ou as mortes de assassinos? Elas noticiam quando gandulas de futebol de várzea morrem de mal súbito, ou quando recos morrem por problemas causados por treinamentos militares. Mas quando um assassino, geralmente rico, morre de infarto ou câncer, quase não há notícia, a não ser quando o contexto permite. Comparemos, por exemplo, o caso de dois feminicidas, o advogado Leopoldo Heitor, que provavelmente teria matado e ocultado o cadáver da socialite tcheca Dana de Teffé, em 1961, e o empreiteiro Roberto Lobato, que assassinou a esposa Jô Lobato, em 1971, alegando "legítima defesa da honra". Leopoldo Heitor faleceu em 2001 e teve seu falecimento creditado até no Wikipedia. Tinha 79 anos. Heitor cometeu seu feminicídio numa época em que Jânio Quadros governava o Brasil, enquanto Lobato pratico...