Onde está uma biografia realista sobre o dr. Adolfo Bezerra de Menezes? Indo para a busca do Google, o que se observa são textos piegas e melosos que glorificam o médico, militar e político que viveu nos tempos do Segundo Império e que tornou-se um dos fundadores e presidente da Federação "Espírita" Brasileira.
Tudo são flores, a não ser os espinhos dos outros. O coitado do Afonso Angeli Torteroli, que chamava a atenção para o estudo correto do pensamento de Allan Kardec, foi tratado como vilão e quase jogado ao esquecimento absoluto, jogado, junto aos colegas do Espiritismo Científico, no lodo do mais abjeto revisionismo histórico.
Apesar de Adolfo Bezerra de Menezes ter sido contemporâneo de Machado de Assis, Rui Barbosa, Artur Azevedo, Olavo Bilac, Joaquim Nabuco e tantos outros ilustres que chegam a ter livros bibliográficos realistas de centenas e centenas de páginas, Bezerra se limita a ter biografias breves e bastante adocicadas.
Não há um relato na Internet do Bezerra temperamental e tendencioso, conservador e oportunista, que se perdeu nos documentos hoje esquecidos (mas acredita-se ainda disponíveis). E isso apesar dos esforços de Carlos Imbassahy de ter divulgado aspectos sombrios da trajetória do médico cearense.
Quando muito, Bezerra foi apenas um entusiasmado roustanguista que "se arrependeu no além-túmulo" e agora quer ser bonzinho com o Allan Kardec que tanto desprezou. Bezerra, "Kardec brasileiro"? Faça-nos rir!
Os anti-médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco, com mais algumas de suas molecagens "mentiúnicas", divulgaram, o primeiro com "psicografia" tirada de sua própria mente, o segundo com "psicofonia" feita com seu próprio falsete, em claros estilos respectivamente chiquista e divaldista, supostas mensagens espirituais de Bezerra pedindo para "kardequizar".
Fala-se muito que esse termo "kardequizar" não passa de uma corruptela do termo "catequizar", o que significa que a suposta "fidelidade a Allan Kardec" não passava de conversa para boi dormir, já que "catequizar" é justamente a prática que os antigos jesuítas fizeram no país, de manipular mentes dos índios e hereges.
Hoje esses jesuítas, a partir do padre (Em)manuel da Nóbrega, se tornaram, do além-túmulo, "protetores" dos chamados "centros espíritas". E, quanto à mensagem do "espírito Bezerra", ninguém sequer averiguou se o médico cearense teria reencarnado anos depois de 1900, o que teria sido bastante provável, queiram ou não queiram seus "bezerrinhos" mimados que o adoram.
Não se analisa sequer possibilidades de parentesco entre o Adolfo Bezerra de Menezes que alegra os "espíritas" e o jornalista e advogado católico Geraldo Bezerra de Menezes que fez história no Estado do Rio de Janeiro.
O clã Bezerra de Menezes é muito grande, mas parece ser visto pelos "espíritas" como uma venenosa árvore genealógica. Dela foi extraído o "bom galho", o do dr. Adolfo Bezerra de Menezes, que aparece lá sem sua família, apenas cercado de anjos e ninfas pregando, provavelmente com sua voz de Zé Colmeia com gripe, a "fraternidade dos irmãos".
Não há análise, não há pesquisa, não há estudos, não há revelações. Enquanto faltam dados verídicos sobre Bezerra de Menezes, independente deles terem sido sombrios ou não, criam-se enredos fantásticos e fantasiosos que transformam o "dr. Bezerra" num super-herói.
Antes de irmos a esse ponto, nota-se que Bezerra é trabalhado pelos burocratas da FEB como se fosse o equivalente brasileiro do Papai Noel, o Santa Claus que poucos imaginam não passar de uma invenção da Coca-Cola para que, provavelmente, o refrigerante seja consumido no inverno do Hemisfério Norte.
Só que, insatisfeitos em transformar Bezerra de Menezes no "Papai Noel brasileiro", querem promovê-lo a um equivalente nacional do Super-Homem, aquele super-herói de revistas em quadrinhos que se expandiu para o cinema e a televisão e dominou o imaginário pop do mundo.
Pois as estórias fantásticas mostram Bezerra, "materializado", se transformando em caminhoneiro, a pedido de Chico Xavier, para levar um caminhão de mantimentos para uma comunidade pobre ou Bezerra, nas mesmas "condições", avisando à polícia para prender um grupo de arruaceiros que queriam estuprar uma jovem.
Vai que eles gostam e aí veremos também Bezerra de Menezes enfrentando grupos mafiosos abrindo seu paletó e sendo metralhado sem se ferir, resistindo firmemente como se tivesse peito de aço. Ou, para socorrer uma criancinha andando num trilho ferroviário, Bezerra enfrentasse um trem veloz e o parasse com o simples esforço de suas mãos.
Contraditoriamente, é o mesmo Bezerra que, perfeito e desapegado de impressões materiais, é obrigado a aparecer "agonizante" nos falsetes trazidos pelo dublador frustrado Divaldo Franco ("Por que não virei um Orlando Drummond?", resmungaria este) ou nas patéticas cenas do "velhinho corcunda andando com dificuldades" da encenação de José Medrado na Cidade da Luz, em Salvador.
Um Super-Homem que, para aparecer em público, precisa parecer fraco e agonizante. Um sujeito que se livrou da matéria, perfeito, lúcido e altivo, falando como se ainda estivesse no leito de morte. Um personagem de conto-de-fadas, às vezes convertido em super-herói, tudo para alegrar as mentes infantilizadas de "espíritas" com suas "lindas histórias de ajuda ao próximo".
Biografia verdadeira, que deveria haver, não tem. É preciso enfrentar os tubarões da FEB e pesquisar Bezerra de Menezes como ele realmente foi, sem fantasias. Se ele teve qualidades positivas, ótimo, mas não vale superestimá-las e exagerá-las. Se existe um lado sombrio, ele tem que ser mostrado de forma ampla e abrangente, sem medo.
Bezerra foi um político de seu tempo e sua conduta lembrava a dos peemedebistas de hoje (descontados os fascistas do PMDB carioca), um conservador moderado com trejeitos populistas, oportunista quando lhe era conveniente ser, tendencioso e temperamental. Bezerra tem que sair das ficções fabulosas que tanto confortam os "espíritas" do Brasil. É urgente agir nesse sentido.
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