O "espiritismo" está feliz. Estamos entrando numa "era de regeneração". Chacinas em Orlando (EUA), e agora em Nice (França), explosões de ódio, movimentos fundamentalistas etc, e o pessoal acreditando que são apenas manifestações desesperadas em "defesa da fé e da família".
E o governo que temos, aqui no Brasil? Ver Robson Pinheiro escrever um romance espírita contra o PT, dizendo que aquelas manifestações de Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre, Pato da Fiesp, Batman do Leblon, Japonês da Federal, juíza ensandecida (Janaína Paschoal) e tudo o mais são "despertar da humanidade" e "obedecem" aos "inevitáveis desígnios da espiritualidade superior" é preocupante.
E agora, a "inexorável lei do progresso" de que falam os "espíritas" resultou nesse governo que quer retroceder o país, eliminando as conquistas sociais obtidas com muito sacrifício e sangue ao longo de nossa História. O mais recente episódio é uma reunião do presidente interino Michel Temer com empresários na sede da Confederação Nacional da Indústria, em que o presidente Robson Braga disse que a carga horária semanal do trabalhador deveria aumentar de 44 para 80 horas.
No discurso de posse desse governo golpista, que teve direito até um extasiado Aécio Neves vibrando como se fosse o aniversariante perto do momento de assoprar a vela, Michel Temer falou a frase "Não fale em crise, trabalhe", inspirada no que viu em um cartaz de um posto de gasolina em São Paulo.
Só que o autor da frase, João Mauro de Toledo Piza, o Joca, de 71 anos, dono do referido posto, está preso e condenado por vários crimes, entre estelionato, sonegação fiscal e tentativa de homicídio contra um rapaz por motivos banais (desavenças pessoais). Joca foi condenado em 2014, quase na mesma época que Michel Temer, condenado em 2015 pelo TRE paulista por crime eleitoral (doou mais do que devia para candidaturas de seu partido, o PMDB, no Estado).
João Mauro, segundo relatos, sempre falava aos filhos "não reclame da vida, trabalhe", "não fale da crise, trabalhe", e isso nos lembra Emmanuel, o jesuíta medieval que Francisco Cândido Xavier que sempre dizia para "não reclamar, mas trabalhar e seguir adiante".
Para um Chico Xavier que defendia a ditadura - só faltava ele, em 1971, no Pinga Fogo, dizer para os brasileiros abençoarem os truculentos Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury - , isso faz sentido. Ele foi um dos maiores divulgadores da corrente medieval do Catolicismo, a Teologia do Sofrimento, mais do que qualquer católico em nosso país.
E faz sentido esse apelo. E como os "espíritas" falam tanto em "felicidade futura" - daqui a 100, 200 anos, "um segundo diante da eternidade", como se fosse legal passar 80 anos sofrendo desgraças e humilhações o tempo todo - , esse governo Temer só pode ser sinal de "progresso" e "libertação".
Trabalho com 80 horas semanais, salários menores, fim dos encargos como assistência gratuita à saúde, a Escola Sem Partido proibindo ensinar marxismo e movimentos LGBT mas permitindo asneiras como dizer que o homem surgiu do barro e a mulher, da costela do homem, isso tudo é "libertação"?
Claro, o ensino inócuo da Mansão do Caminho, de Divaldo Franco, o homem que exibe o título de "maior filantropo do país" beneficiando menos de 0,1% da população brasileira, se manterá em boa conta por esse país plutocrático que promete recuperar os "valores cristãos".
Já o Método Paulo Freire, que desperta consciências, faz as pessoas serem criativas, ativas e ativistas, promove solidariedade na luta por qualidade de vida, esse não pode haver. Não tem o selo da religiosidade, não tem o verniz da fé cristã e nem parte do princípio de manter as pessoas resignadas feito rebanho de carneirinhos submissos.
Estamos voltando aos padrões mais retrógrados do Brasil colonial e as pessoas felizes com isso, sobretudo porque sua maior fonte de informações, o Jornal Nacional, está mais próximo de um show do que um programa noticiário. William Bonner a cada vez mais mostra seu lado animador, e as pessoas felizes porque ele transforma o tenebroso governo Temer num conto de fadas.
O país vai piorar com essa gangue no poder, com Michel Temer, Aécio Neves, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Mendonça Filho, com o apoio justamente dos revoltados e odiosos que os "espíritas", que tanto reprovam a revolta e o ódio, definem como "missionários da libertação e do despertar dos brasileiros", e as pessoas achando que "tudo vai melhorar" só porque o PT está fora do poder.
A coisa vai ficar feia. As pessoas vão trabalhar mais horas, se aposentarem mais tarde, recebendo menos grana, perdendo garantias sociais, e o dinheiro que Temer e companhia arrecadarem com as medidas contra a recessão irá suas fortunas pessoais e para os habituais lucros estratosféricos das empresas estrangeiras. Se sobrar alguns centavos, eles dão esses restos para o povo.
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