Uma das mentiras mais idiotas em torno do "médium" Francisco Cândido Xavier é a suposta confirmação de suas "profecias" sobre extra-terrestres levando em conta uma interpretação, que só existe no Brasil, de que militares dos EUA teriam "confirmado" as previsões que o deturpador do Espiritismo teria feito em 1969.
Vamos à estória. Chico Xavier, em algum momento de 1969, e pouco depois da expedição de astronautas à Lua, conversou com o jovem Geraldo Lemos Neto, alegando que teve um sonho resultante após a famosa viagem.
Segundo o relato, houve a chamada "terceira reunião" que havia sido citada no livro A Caminho da Luz, de 1939, ditado por Emmanuel. A estória relata que houve três reuniões: a primeira, para o surgimento da Terra, a segunda para a vinda de Jesus e a terceira seria "num momento vindouro", que para muitos acabou sendo após a viagem à Lua.
Vejam que coisa. Chico Xavier estava com medo de que a viagem à Lua fosse indício de uma futura guerra nuclear, por causa da corrida espacial entre EUA e URSS - atenção, esquerdistas brasileiros, Chico Xavier era de direita e odiava o comunismo - , o que até tem algum sentido, mas não é motivo para tanta paranoia supostamente "profética".
O Chico Xavier que teve raivinha porque o cronista Humberto de Campos fez um comentário irônico sobre um livrinho de "poemas do além", e, como revanche, resolveu, depois que o escritor morreu, usar seu nome e criar uma "psicografia" diferente, fazendo o suposto espírito Humberto "escrever" feito padre, também ficou com raivinha do Primeiro Mundo por causa da ameaça nuclear.
E aí o sonho que Chico Xavier relatou para Geraldinho ficou 17 anos em segredo. Em 1986, Geraldo se achou autorizado a revelar (o "médium" ainda estava vivo) e o fez para a "espírita" Marlene Nobre que então divulgou o relato com a seguinte novidade: a partir de 1969, o suposto Jesus Cristo e as "lideranças cósmicas" do além-túmulo contabilizaram 50 anos para a recuperação da Terra.
O prazo se referia ao período que a humanidade do planeta teria que, sob o prisma religioso, resgatar valores morais e princípios de solidariedade e fraternidade, O prazo terminaria em 2019. Se até lá nada for feito, e houver ataques terroristas de fundamentalistas do Oriente Médio e ações bélicas da OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte), Deus castigará o "velho mundo" mandando hecatombes que tornariam o Hemisfério Norte inabitável.
CATASTROFISMO
É o catastrofismo e a psicologia do terror, que aparentemente foi divulgada por Geraldo Lemos Neto, sem um aparente relato registrado na voz de Chico Xavier. Isso cria um desentendimento entre os "espíritas", já que uns dizem que Xavier "previu tudo isso" e outros acham absurdo isso. E olha que eles são de uma religião que tanto prega "união" e mendiga "fraternidade", o "espiritismo" brasileiro.
Mas a "profecia" condiz com os relatos de livros como A Caminho da Luz e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, este de 1938, que Chico Xavier e o presidente da roustanguista FEB, Antônio Wantuil de Freitas, escreveram a quatro mãos e botaram tudo na conta de Humberto de Campos.
Afinal, a "profecia" falava que o abobalhado Jesus caricato de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que chorando feito uma criança porque o mundo ficou mauzinho, perguntava a um tal de Helil onde ficava o Brasil, iria comandar a reunião que teve também Emmanuel, Chico Xavier (o único encarnado presente no "sonho de 1969") e "líderes" de outros planetas e "planos espirituais".
Da mesma forma, a "profecia" afirmava que o Brasil seria o "centro da Terra", se tornando o país líder do mundo, com suas "lições de progresso e fraternidade". Para tanto, Chico Xavier falava na "destruição do velho mundo", mesmo com erros geológicos e sociológicos graves.
Alguns exemplos. Catástrofes naturais destruiriam, entre outras áreas, todo o Japão e os EUA. Isso inclui a Costa Oeste, sobretudo a Califórnia (onde se situa Hollywood, a "meca" do cinema norte-americano), que, como o Japão, faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico, ou seja, área de intensos terremotos e atividades vulcânicas.
Só que Chico Xavier alegava que o Chile seria poupado de catástrofes naturais. O Chile fica na América do Sul, mas é parte do Círculo de Fogo do Pacífico. Se atividades vulcânicas e terremotos se tornam intensos no Japão e na Califórnia, a ponto de destrui-los, o Chile também sumiria do mapa da mesma maneira.
Quanto a dados sociológicos, é risível que as "previsões" de Chico Xavier, que muitos incautos afirmam ser "o maior filósofo do Brasil" (vá entender isso), acredite que os povos eslavos, que vivem em regiões frias, fossem migrar, após o "fim do velho mundo", para o Nordeste brasileiro, considerado calorento demais para eles, que muito provavelmente seriam mortos pelo calor que dificilmente poderiam suportar.
Além disso, Chico Xavier acreditava que os estadunidenses fossem fixar residência na Amazônia e arredores, como se fosse o máximo um morador da cosmopolita Nova York passar a viver no isolamento do interior do Acre, por exemplo.
Chico Xavier não estudou História? Ele deveria saber que, quando ele era criança, os eslavos já haviam migrado para o Brasil para viverem não no Nordeste, mas nos Estados do Sul, como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E os estadunidenses se sentem mais à vontade quando migram para capitais como Rio de Janeiro e São Paulo.
"PREVER" O QUE JÁ OCORREU
Se já é um absurdo creditar um simples sonho como "profecia" - se todo sonho fosse "profético" o mundo se tonaria uma bagunça maior que o caos de hoje - , ainda por cima com graves erros de Geologia e Sociologia que, por si mesmos, anulariam qualquer validade do "sonho profético" de Chico Xavier, um absurdo pior ainda foi acrescido a essa palhaçada toda.
Em 2006, a mídia estadunidense havia difundido em larga escala relatos de dois militares daquele país, Robert Jacobs e Robert Salas. Eles afirmam terem visto naves extraterrestres em suas respectivas bases militares, na década de 1960.
Robert Jacobs viu o ocorrido na base de Vandenberg, no Estado da Califórnia, em 15 de setembro de 1964, e seu xará, na base de Malmstrom, no Estado de Montana, em 16 de março de 1967. Ambos teriam visto luzes no céu se movimentando como se fossem discos voadores.
A notícia, nos EUA, se limita ao âmbito da Ufologia. Ela é discutível, mas não se relaciona a supostas profecias religiosas que só foram inventadas no Brasil, onde se acredita que os militares "confirmaram" a "profecia" de Chico Xavier sobre o rearmamento nuclear. Aí é que vem a grande tolice.
A "profecia" aconteceu em 1969 e foi levada a público em 1986. Mas os dois episódios são mais antigos, de 1964 e 1967. Aí está o ponto patético. Uma "profecia", de 1969, que é "confirmada" por fatos de 1964 e 1967, não é previsão, não é profecia, mas uma grande tolice.
Se "profecias" existissem (na verdade, a doutrina de Allan Kardec assegura que NÃO existem), elas em tese se voltariam a prever o futuro, anunciar acontecimentos que só viriam na posteridade. Se uma "profecia" alega confirmar suas "previsões" pelo que já aconteceu, então não é "profecia", pois não se pode prever o que já aconteceu. "Prever" o passado é ridículo de tão absurdo.
PEGADINHA
Mas isso não para por aí. Além do fato da "profecia" de Chico Xavier não ser corroborada por todos os seus seguidores - alguns alegam que o "bondoso médium" seria "incapaz de dizer tais barbaridades" - , eis que um fator surpresa ocorre para confundir ainda mais as coisas.
O espírito do padre jesuíta Manuel da Nóbrega, conhecido por ter sido autoritário (um verdadeiro fascista), machista e racista, sendo escravocrata e tendo cometido intolerância religiosa (havia defendido a condenação à morte de um herege), que através de Chico Xavier retornou sob o codinome Emmanuel, ainda veio com mais uma "pérola".
Com toda a "profecia", com todo o catastrofismo que está por trás dos relatos, Emmanuel, com seu jeito grosseiramente jocoso, como se fosse um Danilo Gentili do além-túmulo, disse que "profecias existem para não serem cumpridas".
E o que significa isso? Que não vai haver a "catástrofe" da tal Data-Limite! Narra-se um monte de absurdos, com erros geológicos e sociológicos grotescos, com estórias de arrepiar, com tsunamis atingindo Hollywood e tirando a vida de multidões de astros e estrelas, que em parte também são engolidas por valões de ruas "rasgadas" pelos terremotos, para dizer que nada vai acontecer.
Cria-se um medo danado, um pavor descomunal, enquanto se torce para o Brasil ser o "líder do mundo" com sua "cultura de alta qualidade" (vá entender que Wesley Safadão, Mr. Catra, Luan Santana e Mulher Melão sejam "cultura de alta qualidade") e sua "ciência de altíssimo nível" (que atribui a Chico Xavier previsões sobre "vida em Marte" que já existiam antes do "médium" nascer) e suas personalidades importantes (Neymar? Luciano Huck? Kim Kataguiri? Solange Gomes?).
E aí vem Emmanuel com sua pegadinha dizendo que todo esse relato de horror e de catástrofe foi feito para forçar as pessoas a se tornarem "mais fraternas" e "mais solidárias", o que mostra o quanto a religião não está aí para a verdadeira bondade, que é espontânea e incondicional.
A religião, seja católica, evangélica, "espírita" etc,, sempre defende a bondade condicionada. Não é uma bondade surgida naturalmente, mas desenvolvida sob a ameaça de supostos ambientes sombrios do além-túmulo, como o Inferno católico e o Umbral "espírita". Não se trata de ser bom por vontade própria, mas visando prêmios ou punições dependendo do cumprimento ou não da tarefa.
E isso é muito grave. E faz com que os seguidores tão "elevados" de Chico Xavier boicotem amigos no Facebook, evitem falar com as pessoas, atravessem a calçada assim que encontram um não-chiquista na frente, deixem de seguir blogues "incômodos" e reagem com raiva diante de opiniões contestatórias, por mais construtivas e calmas que estas sejam.
As pessoas devem defender Chico Xavier porque precisam de uma cara e de um corpo, apesar de já morto, para a "bondade" que não existe em seus corações. Daí o desespero de colocar no Facebook memes de frases de Chico Xavier e a corrida para o YouTube para curtir e fazer comentários elogiosos aos vídeos com bobagens em favor do "médium" de Pedro Leopoldo. Sem amor próprio, eles precisam de uma forma material para simbolizar o amor que não têm ao próximo.
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