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A grande farsa "profética" de Chico Xavier virou livro


Longo caminho se deu entre a obsessão do jovem Francisco Cândido Xavier pela liderança mundial do Brasil, usando o nome de Olavo Bilac num poema publicado na primeira edição de Parnaso de Além-Túmulo, de 1932, até o livro mais recente sobre as "profecias" do caipira mineiro.

Era artigo atrás de artigo, palestras de dirigentes "espíritas" aqui e ali, entrevistas com Chico Xavier, conversas diversas, citações de livros e tudo o mais, tudo porque, como todo caipira sonhador, o "médium" queria porque queria que o Brasil fosse o "centro do mundo", ou melhor, o "coração do mundo" e a "pátria do Evangelho", como se não só Deus, mas também Jesus fosse brasileiro.

A ideia, a princípio, parecia tão somente um sonho de contos de fadas. Chiquinho queria que o Brasil, que tinha aquela história bonitinha que ele aprendeu nas bancas escolares, com todos aqueles pretensos heróis como Tiradentes, Dom Pedro I, Dom Pedro II e Duque de Caxias, além da simpática e gentil Princesa Isabel, fosse liderar a chamada "comunidade das nações".

Aí, quando Chico Xavier já era velhinho, e veio aquela notícia da viagem de astronautas dos EUA à Lua, e ele resolveu dar uma abordagem diferente. Ele, de repente, depois de tantos escândalos, passou a ter um sentimento catastrofista, como se viu em Cartas e Crônicas, de 1966.

Nesse livro, usando o nome de Humberto de Campos, muito mal disfarçado pelo tendencioso codinome de Irmão X, o anti-médium acusou os pobres frequentadores do Gran Circo Norte-Americano, de Niterói, que a uma semana do natal de 1961 foram vítimas de um incêndio criminoso, de terem sido romanos sanguinários que viveram na Gália, atual França, em meados do século II de nossa era.

Com esse dedo acusador, Chico Xavier pegou gosto no catastrofismo e, anos depois do tal sonho de 1969, relatou-o a um jovem chamado Geraldo Lemos Neto, que resolveu divulgar depois como a "profecia da data-limite".

Com isso, Chico Xavier havia juntado a fome de ver o Brasil comandando o mundo com o apetite de suas neuroses pessoais. Sim, Chico Xavier tinha neuroses e contradizia a si mesmo quando pedia para "não julgarmos quem quer que fosse" mas acusava as pobres vítimas do incêndio de um circo de terem sido patrícios sanguinários do Império Romano.

E ainda se irritava. Quando amigos do falecido Jair Presente, em 1974, desconfiaram das mensagens supostamente "espirituais", Chico Xavier, sempre tido como "meigo" e "manso", reagiu de maneira ríspida, chamando a atitude dos coitados dos amigos de Jair, que tanto o conheciam bem, de "bobagem da grossa".

E a neurose de Chico Xavier correspondia ao "velho mundo" que impedia o Brasil de mandar no mundo. Aí ele veio com o tal sonho, que não sabemos se ele realmente teve ou não, de uma suposta reunião de Jesus Cristo com os governantes do plano espiritual e de outros planetas - tinha desde o governador de Nosso Lar até autoridades de Marte, Vênus e Júpiter - , que decidiram dar 50 anos de prazo para o mundo evitar uma Terceira Guerra Mundial.

Reunião insólita, previsão absurda, e relato muito fantasioso. E aí vem a ameaça moralista típica de Chico Xavier: se o mundo não se comportar direitinho e resolver fazer guerras e terrorismos aqui e ali, Deus castigará mandando catástrofes naturais para destruir apenas o Hemisfério Norte.

Sim, apenas o Hemisfério Norte. Pouco importa se o Chile fica no mesmo Círculo de Fogo do Pacífico, que irá tirar a Califórnia (com Hollywood e tudo) e o Japão do mapa, se o país sul-americano for poupado da catástrofe, porque o raciocínio de Chico Xavier não incluía aspectos geológicos nem sociológicos, mas tão somente o papel de um mapa-mundi e suas linhas certinhas.

E olha que querem ver Chico Xavier como "cientista", mesmo cometendo aberrações como acreditar que povos eslavos tenham condições térmicas de enfrentar o calor do Nordeste. E aí veio o livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, o documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, que gerou livro homônimo de autoria de seus co-produtores, Juliano Pozati e Rebeca Casagrande.

O documentário e o livro derivado são um atestado de muito pretensiosismo pseudocientífico. Quiseram dissimular o igrejismo histérico de Chico Xavier, católico ortodoxo até a medula, com alegações pretensamente proféticas e falsamente científicas.

Com um deslumbramento infantil, Pozati sonhava em ver Chico Xavier como cientista, atitude corroborada por Geraldo Lemos Neto. E o documentário de Fábio Medeiros entrevistou Divaldo Franco, que também sempre gostou de brincar de ser cientista, falando difícil e pregando ninharias cósmicas.

E vem Pozati feliz da vida dizendo que "adora ciência", que considera Chico Xavier um "filósofo", e ainda se acha na moral de dizer que seu livro favorito é O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, obra na qual muitos ensinamentos simplesmente desmascarariam a obra do "médium" mineiro.

E esse livro, infelizmente, está indo bem nas vendas, apesar de não ter chegado à lista dos mais vendidos. Se chegar, será terrível, porque o que Chico Xavier, o maior deturpador do Espiritismo e a personificação do "inimigo interno" da Doutrina Espírita já alertado nos tempos de Kardec, fez mereceria o mais absoluto desprezo.

O apego desesperado dos brasileiros a Chico Xavier e a obsessão pesadíssima que sentem pelo seu mito de "amor e bondade" estragam o país, a ponto de, talvez, o Brasil nem vir a ser "coração do mundo". Daí a crise que o Brasil vive, com esse atestado de profunda cegueira que o fanatismo religioso faz nas pessoas que acreditam demais e sabem menos, muito menos.

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