AS COISAS "MAIS IMPORTANTES" DA VIDA, ALÉM DA FÉ RELIGIOSA, PARA O BRASIL MEDÍOCRE EM QUE VIVEMOS.
Vivemos um período em que, por trás de todo o discurso de "democracia", "fim da era de ódio e começo de um tempo de muito amor e solidariedade", temperado com muita festa, muita risada até nos ambientes de trabalho - em que o senso de humor passa a ser até mais essencial do que ter capacidade de exercer uma tarefa num emprego - , há a ascensão de uma pequena elite ao poder e ao protagonismo social.
Essa elite é a mesma que pediu a queda de João Goulart em 1964, e dentro das conveniências do momento, sempre alternaram entre pedir democracia num momento e pedir golpes políticos em outro, para proteger seus privilégios exorbitantes.
Sempre alinhada à direita "democrática" - que, ultimamente, é conhecida pelo eufemismo de "centro" - , hoje, devido à vitória eleitoral do hoje presidente Lula, que voltou estranho depois que teve preguiça em criar novo programa de governo em 2022, nossa burguesia "iluminada", "esclarecida" e festiva (aqui dispensamos as aspas) agora se autoproclama "comunista desde bebezinho".
Diferente de dois mandatos anteriores, muito bons, ainda que longe de representar alguma revolução social, Lula hoje governa de forma improvisada com muitas concessões ao... "centro". E, para o povo, só paliativos e migalhas, nesta micareta identitária da burguesia "consciente".
Ver que, em tese, áreas como o Baixo Gávea carioca, os Jardins paulistanos e o Corredor da Vitória soteropolitano se converteram em supostas sucursais do bolivarianismo guevarista internacional é algo que nos faz entrar no dilema de rir, pelo ridículo da coisa, ou chorar, pelo nível de estupidez.
Anunciou-se a reconstrução do Brasil e ela saiu cambaleando. Mas antes de vermos os resultados começarem a se esboçar - e nos falamos "esboçar", algo bastante vago e iniciante - , os nosso amados cidadãos "democráticos" foram imediatamente festejar. Mal se recuperaram da ressaca do Reveillon de 2022-2023, nossos "cidadãos responsáveis" foram logo planejar o Carnaval, alguns investindo até no "bloco dos comunistas" (?!), uma esquerda festiva que mais parece ter saído de paródias do antigo jornal Planeta Diário, um dos embriões do Casseta & Planeta.
E o que faz essa classe social, essa burguesia de classe média bem de vida? Essas pessoas ganham mais de R$ 10 mil reais - digamos até bem mais - , em suas poupanças, contas-correntes e outros investimentos possuem um patrimônio que só perde para a elite financeira e empresarial que "governa" a vida econômica nacional dentro da Bovespa. Portanto, é uma burguesia que finge ser pobre passeando de chinelos pelas ruas de Recife e Fortaleza, mas tem grana de sobra para comprar aquele carrão do ano.
Essas pessoas usam muito o Instagram e, se achando "donas da razão", criticam a positividade tóxica dos outros. Quando é aquela madame da aristocracia clássica, tomando um Campari com limão sentada no iate, falando que "temos que valorizar as boas coisas da vida", a burguesia festiva, "esclarecida" e brega-tropicalista não gosta e vai logo falando que é "positividade tóxica", atribuindo a toxicidade aos argueiros dos olhos dos outros, ignorando as traves nos seus olhos que alegam "ver a verdade diante de si".
Mas o que vemos nessa burguesia que não se considera burguesa, não se considera atrasada, não se considera conservadora, é justamente uma obsessão doentia pela positividade tóxica mais explícita, boicotando textos que questionem alguma coisa, que apontam alguma coisa errada, que critiquem a falta de precisão de informações, ou seja, se a reconstrução do Brasil está ocorrendo ou não.
Para entender essa falta de precisão, já circulou vídeo de um suposto pobre idoso correndo pelo supermercado, com câmera do celular na mão, gritando enlouquecido "Baixou tudo! Baixou carne, baixou leite, baixou tudo". Não falou o supermercado, não disse as marcas, nem informou a cidade onde vive.
Outra gafe foi o anúncio da queda do preço da picanha, de apenas um real, o que é quase nada para quem perde mas dinheiro pagando contas e gastando pelo pouco de comida que pode comprar. E isso, pasmem, ainda era uma promoção, pois daqui a pouco a picanha que baixou um real foi aumentar dois, três ou cinco reais a cada mês, para desespero das famílias numerosas que mal conseguem segurar a grana e R$ 2.025 (salário de R$ 1.320 + Bolsa-Família de R$ 705) para sobreviver em condiões menos indignas.
A burguesia "admirável" e "não-burguesa", porque vai para o show de Caetano Veloso gritar para Jair Bolsonaro "tomar no **", que jurava que "não suportava um segundo de Bolsonaro no poder" mas o aguentou até o fim com pseudoprotestos populares que mais pareciam micaretas, é que vive bem na sua vida semi-nababesca, enquanto vê a pobreza de longe e tenta convencer a opinião pública de que as favelas são "paraísos do outro", que a pobreza deixou de ser problema social para ser agora uma "etnia", uma "aldeia" e até um "modelo de vida". Quanta hipocrisia.
E mais uma vez essa burguesia identitária fala mal dos argueiros dos olhos dos outros, sem ver as traves que cegam os seus. Falam tão mal do estelionato da fé das seitas evangélicas "neopentecostais", mas deixam passar hipocrisias ainda maiores do "espiritismo" brasileiro, religião mais blindada que carro de luxo de empresário monegasca (natural de Mônaco, para avisar aos navegantes).
De vez em quando, algum burguês metido a "progressista" e "moderno" posta nas redes sociais uma frase de Chico Xavier, que eles gabam de ser o "maior símbolo de sabedoria, humanismo e amor ao próximo que existe no universo". Sempre aquela baboseira: "Vamos publicar uma frase de Chico Xavier para alegrar o dia". Puro atestado de positividade tóxica, verdadeiro veneno intoxicante que apenas possui o sabor por demais açucarado que engana muita gente.
Essa burguesia não-assumida fala tão mal dos neopentecostais, mas se esquece que, em 1976, Chico Xavier estava de mãos dadas com Edir Macedo e R. R. Soares ao receber da ditadura militar o financiamento certo para crescerem e combaterem a Teologia da Libertação, corrente progressista da Igreja Católica que, mesmo com seus defeitos e falhas, realmente se dedicou para ajudar o próximo.
Para quem fica feliz quando os trabalhadores só conseguem ganhar, do atual governo Lula, uns 90 reais a mais para cada salário-mínimo anual, é maravilhoso atribuir a um farsante como Chico Xavier a "missão e caridade" da qual não há uma única prova real que se possa supor sequer.
Um aviso para quem não sabe, mas não tem medo de ouvir a verdade: Chico Xavier NUNCA fez caridade, pois seus "gloriosos" atos se reduziram a uma precária distribuição de mantimentos, igual ao que se vê nos programas de Luciano Huck, cheia de ostentação para deslumbrar essa burguesia que vive no luxo e na opulência.
Fora essa "adorável caridade", cujos mantimentos se consomem em poucos dias, Chico Xavier também é glorificado por gosmentas mensagens "espirituais" falsamente atribuídas aos entes queridos, verdadeiros atestados de fake news comparáveis aos trotes telefônicos. Afinal, não há diferença entre um estelionatário imitar a voz de uma criança sequestrada num telefonema suspeito e um "médium" imitar o texto de um morto nas reuniões "psicográficas", pois em ambos os casos há o objetivo traiçoeiro de causar impressão, temor e deslumbramento em pessoas mais ingênuas.
Dizendo isso, a burguesia reage bradando "isso é um absurdo". Ah, claro, a verdade só pode estar nas mãos de quem ganha altos salários mas banca o "bacaninha" nas redes sociais. Não admitem que se critique Chico Xavier por coisa alguma, quando ele é o primeiro a ser alvo de críticas pesadas, de repúdio, de reprovações diversas.
Lendo com atenção a seminal obra O Livro dos Médiuns, até parece que a obra tornou-se pioneira em reprovar Chico Xavier. Aspectos associados ao "médium", como ter um mentor espiritual autoritário (definido pela referida obra como um indicio de profunda inferioridade espiritual) e uso de nomes ilustres para promover mistificação (vide o exemplo deplorável de Parnaso de Além-Túmulo), mostram o quanto a adoração ao farsante de Pedro Leopoldo e Uberaba é tóxica, sendo uma obsessão espiritual e um apego doentio que causam vergonha profunda.
A coisa até piora quando as pessoas tentam admitir imperfeição em Chico Xavier, dentro da carteirada invertida do bordão "todo mundo erra", feita mais para passar pano em faltosos graves. E essa atitude lembra muito a "isenção" de influenciadores como Monark, pseudônimo de Bruno Aiub, embora essa burguesia ilustrada tenta dizer que odeia esse influenciador. Odeia, mas faz a mesma coisa, mais parecendo coisa de alguém que se apaixona por quem diz odiar.
Mas o mais grave disso tudo é que essa burguesia não-assumida, que não se acha burguesa porque de vez em quando viaja para a Chapada dos Veadeiros, além de arrogante e megalomaníaca, acha que vai dominar o mundo.
O atual governo Lula se destaca somente com sua cosmética de progresso social, pois até agora o presidente só viajou para o exterior, numa nunca assumida tarefa de fazer turismo, e os brasileiros fora da bolhinha burguesa só viram umas pequenas melhoras ocorrerem, nada de muito animador.
Mas o quase nada que Lula faz para a burguesia, para atender às dividas eleitorais da chamada "frente ampla" - que garantiu a vitória do petista que, em troca, fez diversas concessões à direita - , empolga as elites que, no passado, queriam que Jango caísse e o AI-5 prendesse e matasse quem atrapalhava a "paz sem voz" da sociedade civil organizada, e que já pediram a que a de Dilma Rousseff e a vitória de Jair Bolsonaro, mas agora, estão cegamente alinhadas com um Lula domesticado e moderadíssimo.
Por isso Lula - que cometeu a barbaridade constrangedora de dar pitacos na reunião do G7 - , com seus factoides e sua ilusória manobra politica - viaja e discursa muito para forjar movimentação, criar notícia o tempo todo para dar a falsa impressão de que o presidente esta fazendo muito pelo país, anima essa sociedade que tem a faca e o queijo as mãos nas redes sociais, felizes porque os "algoritmos do bem" impedem a repercussão crescente de textos com abordagem mais crítica.
Daí que essa burguesia festiva, essa elite de chinelos, quer dominar o mundo sob as desculpas de trazer para o Velho Mundo "a alegria do povo brasileiro" e "suas lições de paz e fraternidade". Tudo na base da pieguice emocional, o que é bastante perigoso pois, se tivemos Jair Bolsonaro desgovernando o Brasil, isso se deve, em boa parte, pelas condições psicológicas trazidas pela adoração tóxica a Chico Xavier, que só trazem "boas e elevadas energias" quando tudo está bem, mas quando não está, os chiquistas sabem muito bem reagir com o ódio que reprovam dos histéricos pastores neopentecostais.
O "espiritismo" é o reflexo dessa sociedade arrogante, megalomaníaca e hipócrita. Uma religião que trai Allan Kardec a ponto de fazer a traição de Judas Iscariotes contra Jesus de Nazaré parecer demonstraão de fidelidade canina, não pode ser considerada confiável. O "espiritismo" brasileiro é expressão dessa burguesia cheia de si, que se arroga em parecer "dona da verdade", e, entre momentos de pura festa e alegria tóxica, fazer seu juízo de valor aqui e ali, até para forçar os pobres a ficarem felizes em suas condições deletérias e degradantes.
Essa burguesia que detém o protagonismo hoje em dia deve achar que seus altos salários podem comprar até a verdade. É um perigo ver que essa burguesia que só gosta de futebol, cerveja e fanatismo religioso, além de valorizar a mediocridade e a precarização culturais, dominando o mundo sem ter condições para isso. Que o destino não faça o Brasil se tornar uma potência, tendo uma sociedade assim tão medíocre.
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