A SEDE DA FEDERAÇÃO "ESPÍRITA" BRASILEIRA, COM SEU APARATO DE LUXO E REQUINTE.
Há um silêncio criminoso entre aqueles que poderiam investigar ou questionar o "movimento espírita" e seus abusos. Mesmo com uma trajetória dotada de episódios macabros, como as suspeitas de "queima de arquivo" contra o sobrinho de Francisco Cândido Xavier, o jovem Amauri Xavier, o apoio da Federação "Espírita" Brasileira à ditadura militar e acusações de enriquecimento ilícito da instituição, ninguém se encoraja a analisar e averiguar denúncias.
Mesmo quando o "movimento espírita" tem suspeitas de ter recebido financiamento da ditadura militar, como forma de, ao lado das seitas neopentecostais - como Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e Assembleia de Deus - , enfraquecer a Igreja Católica, que atuava como força de oposição ao poder ditatorial, ninguém mexe um dedo contra os ditos "kardecistas", preferindo uma indignação seletiva, contra os neopentecostais.
A blindagem em torno do "movimento espírita" brasileiro é algo comparável ao que a Máfia de Chicago recebeu durante muito tempo. O "espiritismo" brasileiro é, neste sentido, "o PSDB que deu certo", com um processo de blindagem e complacência assustadores, porque neste caso nem mesmo provas documentais são buscadas e, no caso delas existirem, ninguém as considera.
Isso é assustador. Afinal, o "espiritismo" brasileiro goza de uma respeitabilidade que a religião brasileira, por conta de suas péssimas decisões, não deveria merecer jamais. A religião surgiu preferindo Jean-Baptiste Roustaing a Allan Kardec, e isso se confirma no repertório de ideias defendidas pelos "espíritas" brasileiros que, mesmo autoproclamados "kardecistas", atuam ao mais completo e vergonhoso arrepio aos ensinamentos originais da Codificação.
Se trata de um crime perfeito, sem deixar suspeitos e fazendo vista grossa em indícios fortes dos mais diversos. Mesmo sendo uma forma repaginada de Catolicismo medieval, o "espiritismo" brasileiro tem imagem de "moderno" a ponto de setores da Igreja Católica virarem "bodes expiatórios" por males que não cometeram, apenas porque cometeram outros males comparáveis aos dos neopentecostais, que são a "vidraça" do momento, como a ganância financeira.
INDIGNAÇÃO SELETIVA
Muita gente que nem sabe mesmo o que faz o "movimento espírita" fica defendendo ele de acusações de ganância financeira, iludidos com os baixos preços dos "livros espíritas" - um volume tipo Divaldo Responde, apesar de ter mais páginas, chega a custar mais barato que um livro histórico, como o segundo volume de Escravidão de Laurentino Gomes - e com a pretensa caridade de suas instituições (tão superficial e fajuta que a de um Luciano Huck).
E as defesas não partem só do "meio espírita", mas de gente "leiga", dos mais diversos tipos: gente de outras religiões, adeptos do umbandismo, ateus, simpatizantes de esquerda, gente "isenta" em geral. E, o que é pior: juristas, jornalistas invetigativos, acadêmicos, que, em vez de exercer o senso crítico, preferem passar pano em tudo.
A indignação se torna seletiva com os neopentecostais, de tal forma que, quando surgem críticas, acusações ou fatos desfavoráveis ao "espiritismo" brasileiro, há quem acuse de se estar blindando as seitas neopentecostais.
Nada disso. Lembremos que o papel histórico de Chico Xavier é o mesmo de um Edir Macedo ou de um Romildo Ribeiro Soares (R. R. Soares), no que se refere ao combate à Teologia da Libertação, corrente católica que fez dessa religião uma força de oposição ao poder ditatorial.
Como a ditadura militar não podia torturar e matar padres e missionários em série, por atividades consideradas "subversivas", e como o Catolicismo estava denunciando os generais e torturadores por crimes graves contra os direitos humanos, ao regime ditatorial só restava a cortina de fumaça de financiar outras religiões, sob o pretexto da "diversidade religiosa".
Muitos não percebem que o obscurantismo religioso se dividiu em "strictu sensu" (sentido específico), no caso os neopentecostais, e em "lato sensu" (sentido amplo), que são os "espíritas". Imaginam que só os neopentecostais são obscurantistas, porque supervalorizam a forma mas não percebem que, na essência, os "espíritas" também são extremamente conservadores, por trás dos supostos "ideais de liberdade" que dizem defender.
Ideias ultraconservadoras, trazidas principalmente pela obra e depoimentos de Chico Xavier - ele mesmo um defensor do ultraconservadorismo muito pior do que os neopentecostais, porque estes são mais nervosos e pouco habilidosos - , chegam a ser acolhidas até pelas esquerdas, iludidas estas pelas retóricas suaves que os obuscurantistas da "fé espírita", a partir do "adorável médium", trazem com sua esperteza traiçoeira.
As fraudes das obras "mediúnicas", que ao arrepio da Codificação exploram nomes ilustres, de maneira bastante tendenciosa - por que não se "psicografou" Machado de Assis e se preferiu optar por Humberto de Campos? - , já mostram indícios de práticas criminosas, mas acadêmicos que tinham revelações em mãos, como Ana Lorym Soares, resolveram passar pano em tudo.
Desculpas das mais imbecis blindando Chico Xavier eram incluídas vergonhosamente em monografias que se supõem "objetivas" e "imparciais": se o "médium" apoiou a ditadura militar, é porque "ele era santo e queria salvar sua pele". Se o "médium" modificou "psicografias", é para "serem legíveis (?!) por leitores comuns". Se a suposta obra espiritual apresentava problemas, deixava-se "em aberto" esperando por "estudos sobre a vida espiritual" que o próprio "espiritismo" brasileiro se recusava a fazer.
Ninguém investiga e, quando se tenta algo, tudo não passa de arremedos tímidos, desfile de palavrinhas solenes e bem escritas, mas que no final sempre dão em muito pano passado no boné e na peruca de Chico Xavier, além de seus ombros, no rosto e nas mãos. É muito pano passado que a essas alturas nossa indústria têxtil tenha que produzir mais panos para que se passe no "médium", mesmo depois dele ter "retornado à pátria espiritual".
E o enriquecimento ilícito da FEB quanto à venda dos livros? Ninguém fala e, quando se falou, colocou Chico Xavier no lado oposto dos dirigentes, se esquecendo que o "médium" fez um acordo com o então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, para que os lucros dos livros fossem passados para a instituição e o "médium" viveria sem tocar em dinheiro, mas sendo sustentado de maneira bem confortável, vivendo no bem bom, pela federação. Isso é fato, mas ninguém investiga detalhes, como ninguém checa quanto a FEB recebeu da ditadura militar para crescer mais ainda.
Tudo isso é grave. Gravíssimo. E quando se fala que é grave, é porque É GRAVE. Não é coisa da pessoa ver essas palavras, ficar indiferente e dormir tranquila. Mas as pessoas têm indignação seletiva, fazem investigação seletiva, e são seletivas na análise, no questionamento e na abordagem das coisas. Ver que muitos tratam Chico Xavier como se fosse o dono da verdade, contra o qual a lógica não pode desafiá-lo, é chocante e esse silêncio quanto aos abusos do "médium" e do "movimento espírita" pode trazer sérias consequências para o futuro.
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